Hoje, os DJs paraenses já usam a tecnologia da rede mundial de computadores para a criação de rádios e programas independentes, que servem de vitrine para a criatividade e versatilidade deles. Um desses pioneiros na criação de rádios na web é Roberto Penna. Ele começou a tomar gosto pela discotecagem aos 14 anos, em 1983. Desde criança, ele já demonstrava seu interesse pelo mundo musical gravando suas fitas K7 de programas dançantes e então nunca mais parou. Hoje, aos 44 anos, já tocou em grande parte dos clubes da cidade e participou de vários programas de rádio. Atualmente é DJ no Projeto oitentista PAC 80´s.
Penna lembra a diferença entre ser DJ há 20 anos e hoje. “Para um DJ conseguir tocar, era necessário que tivesse um bom acervo. As pessoas não toleravam que o DJ chegasse em uma festa com a sequência pronta (fitas k7). Então, gastava-se muito dinheiro para conseguir comprar os discos de vinil (a maioria, importados). Só era DJ de destaque quem tinha aptidão e técnica avançada”, afirma. “Com o advento da internet e do formato mp3, ficou fácil conseguir material. Nos dias de hoje, qualquer um monta o seu playlist com extrema facilidade e a custo zero”.
Em 2011, Penna criou, junto com Antonio Maria, a Chic WebRadio, que possui 24 horas de programação com transmissão digital. “Acredito que as pessoas procuram na radio web o que não encontram nas rádios AM ou FM. Conseguindo, dessa forma, acessar o tipo de música/ rádio que mais lhe agrada, já que existem mais possibilidades”, reitera. “Quanto ao alcance, podemos ser ouvidos em países que antes não tínhamos ideia que gostariam de nos ouvir. Já tivemos acesso de 72 países diferentes desde o início da Chic. Destaques para os EUA, Japão e Portugal”, relembra. “Já recebemos e-mail de pessoas de quase todo o Brasil e alguns pedidos inusitados como o de um russo que pedia qualquer tipo de brinde da RADIO CHIC já que ele é fã incondicional. Enviamos uma camisa para ele sem custos”.
Penna diz que é característica dos profissionais procurarem espaços para mostrar seu trabalho. “Como sempre foi muito difícil fazer um programa nas rádios FMs, muitos não conseguiram. Com a entrada das radios web, temos uma maior possibilidade. Na Chic, a ideia foi pegar os DJs mais antigos e consagrados e fazer uma rádio com vários ritmos e estilos. A programação diária fica sob minha responsabilidade, porém a partir das 18h, são os outros DJs que comandam. Cada um com seu programa e ritmo”, garante. Atualmente, a rádio é comandada por DJs de Belém , São Paulo e Rio de Janeiro.
Feedback
O DJ Fábio Yamada começou a trabalhar com as pick-ups aos 13 anos, em 1983. Hoje, aos 44, relembra como era mais difícil ser um bom profissional naquela época. “O que mudou bastante foi o status. Quando comecei, não existia a palavra DJ; éramos ‘discotecários’. Era o cara que não tinha nada pra fazer de dia e só trabalhava tocando à noite, segundo os estereótipos da época. Hoje, a profissão tem status. E com a internet, isso ficou mais fácil”, garante.
Fábio explica que a grande rede de computadores dá a visibilidade que o profissional pode precisar. “Nós, por exemplo, temos a homepage, a web radio, Facebook, Twitter... Tudo isso ajuda a divulgar o nosso trabalho. Antes, a gente dependia de uma notinha no jornal, de um flyer para divulgar”, lembra. “Hoje, eu mesmo divulgo o meu trabalho. No instagram, por exemplo, eu mesmo tiro a foto da festa, para mostrar que ela está bombando, na hora. A gente torna tudo mais palpável”.
Sobre a rádio na internet, a Chic, na qual trabalha em parceria com Penna, Fábio diz que é um sistema prático para trabalhar. “Como não dá pra ser ao vivo, a gente grava e faz como uma rádio normal. Assim, o ouvinte escolhe o programa e o horário para acompanhar”, reitera. Assim, o feedback (retorno) do público é maior. “A gente faz um programa legal, a galera elogia, pergunta onde pode comprar um CD. Quando é uma rádio web, o feedback é muito rápido. Na rádio, o feedback também é rápido”, completa Yamada, que também trabalha na Jovem Pan.
Como um veterano, Fábio diz que o mercado profissional é cada vez mais abrangente. “Existem dois tipos de DJ: de Boate, que em Belém já têm os espaços destinados e os DJs de eventos. Considero-me um DJ de eventos, e estes são poucos. Somos 4 ou 5 pra todos os eventos de Belém. Por isso, tem muito mercado. Mas, ele precisa entender que é uma profissão; não apenas um hobby. Num evento, por exemplo, ele não pode tocar o que ele gosta, mas o que o público quer ouvir. Ele tem que ter responsabilidade com as festas, com os donos do clube. Tem que encarar como trabalho”, aconselha. “Acredito que a verdadeira missão do DJ é a de tocar o sentimento das pessoas com a música. Para tal, ele precisa ter o principal: conhecimento musical! Como é possível alguém se dizer DJ e sequer saber quem foram os grandes intérpretes da era Disco? Ou do Rock?”, indaga Penna.
Equipamentos
Outro veterano das pistas e que aderiu aos navegadores de internet é o DJ Duda, que começou a carreira também muito cedo: aos 15 anos. Segundo ele, na época da Disco, tocando muito Barry White, Donna Summer, Bee Gees e outros, passando por todas as tendências da Dance Music até o mundo eletrônico. Hoje, afirma tocar DeepHouse, House e ProgressiveHouse. Inclusive, já lançou 5CDs de House Music e fez vários trabalhos para Clubes de Belém e outros estados, junto com outros profissionais do Brasil e do mundo.
Para Duda, a tecnologia permitiu a facilidade de pegar material novo. “Hoje não tem mais exclusividade. Existe muito material novo para pegar e compartilhar na internet, basta ter tempo para pesquisar, pois sempre há novidades”, afirma. “A internet permite maior contato entre DJs, para trocar conhecimentos e repertórios”. Ele explica que a criação da Rádio Conceito, sua rádio web, serviu como vitrine para o seu trabalho. “O público participa muito mandando e-mails, nos aproximando das pessoas. Na rádio, temos DJs participando do mundo todo e o público fica curioso em conhecer um pouco mais do profissional que está fazendo o programa na rádio”.
Duda destaca ainda o pioneirismo de Belém quando o assunto é discotecagem. “Belém sempre esteve no topo quando se fala em música. Sempre tivemos bons DJs e casas noturnas”, lembra.