A arte dos encantos do Vaticano

Com apenas 0,44 km² e uma população de aproximadamente 840 habitantes, o Vaticano é o menor país do mundo.

13/02/2014 19:13 / Por: Augusto Pinheiro/ Fotos: divulgação/ internet
A arte dos encantos do Vaticano

Engana-se quem acha que seu tamanho não pode ser sinônimo de grandiosidade: em tão pouco espaço encontram-se verdadeiros tesouros artísticos da humanidade, obras-primas de grandes mestres como Leonardo da Vinci, Rafael, Sandro Boticcelli e Caravaggio, que fazem dos Museus do Vaticano uma visita obrigatória para os amantes da História e da Arte – e que podem combinar a visita com alguns dias na deslumbrante capital italiana.

A entrada (ou a Praça de São Pedro)

A entrada no Vaticano é pela Praça de São Pedro, com sua impressionante colunata e na qual se encontra a Basílica de São Pedro, a maior e mais importante do mundo. A praça está localizada exatamente no local onde ficavam o circo e os jardins do imperador romano Nero e onde muitos cristãos, inclusive São Pedro, sofreram seus martírios.

A colunata circular do século XVII, que delimita a praça, conta com 284 colunas e 88 pilares em filas quádruplas, um projeto do artista Gian Lorenzo Bernini. “Elas representam a reunião do Cristianismo”, teria dito o artista na época. Bem no centro da praça está um enorme obelisco egípcio (sem hieróglifos e construído durante a dinastia do faraó Ramsés II), levado a Roma pelo imperador Calígula em 37 a.C. Há ainda duas fontes ornamentais criadas por Carlo Maderno (1612–1614) e Gian Lorenzo Bernini (1667–1677).

A avenida que leva à praça, chamada Via della Conciliazione, foi construída nos anos 1930 pelos arquitetos M. Piacentini e A. Spaccarelli. A ideia era criar uma entrada monumental, o que, infelizmente, resultou na destruição da antiga vila medieval e de suas típicas ruelas estreitas, motivo de polêmica à época.

Para quem quer ver o papa Francisco, ele costuma aparecer aos domingos ao meio-dia na segunda janela a partir da direita do Palácio Apostólico, para rezar o Angelus e para abençoar as pessoas reunidas na praça.

Os museus

Logo na entrada, os primeiros museus – Pio Clementino, Chiaramonti, Ala Nova e Gregoriano Profano – são dedicados à antiguidade clássica, com estátuas em mármore e, em menor medida, em bronze, de artistas e artesãos dos períodos grego e romano. Deuses adorados por esses povos, como Zeus, Dionísio, Diana e Apolo, aparecem em esculturas que representam o ideal clássico da beleza, com corpos perfeitos e rostos sublimes. Grupos escultóricos retratam passagens de mitos, como o sequestro de Ganímedes por Zeus (tranformado em uma águia) e Adônis ferido pelo javali (enviado por Ares – amante de Afrodite – em uma crise de ciúme) que o matou. É uma verdadeira viagem pela arte dessas civilizações tão ricas. Quem gosta de mitologia vai se divertir bastante, revisitando mitos e até adivinhando quem é quem (antes de ler as informações) pelos acessórios que acompanham cada estátua (como a maçã na mão de Páris).

Uma das salas é apenas dedicada aos animais, com a intenção de criar um “zoológico de pedra”, com obras relacionadas ao mundo da natureza e da caça, com os animais interagindo entre si ou com heróis e deuses do mundo antigo. Vale a pena destacar as peças em mármores coloridos – que tentam reproduzir ao tom dos pelos ou das penas de diversos bichos e provocam um efeito todo especial.

Uma das joias da coleção do Vaticano está situada no centro do Pátio de Belvedere. Trata-se do Torso de Belvedere, um fragmento da estátua de um homem nu, assinada por Apolônio. A pose contorcida e a musculatura esculpida da peça despertaram a admiração de artistas do Renascimento e do Barroco, incluindo Rafael e Michelangelo. Este último, inclusive, utilizou-a como inspiração para a maioria das figuras da Capela Sistina – também parte dos Museus do Vaticano – e declinou um pedido do Papa Júlio II, para completar a estátua com braços, pernas e cabeça. “É muito bonita para ser alterada”, teria dito o mestre.

Na Sala Redonda, uma grande abóbada semiesférica imita o Panteão Romano e estátuas colossais decoram os nichos, intercalados por semicolunas que sustentam bustos de grandes dimensões. O pavimento, erguido no século XVIII, está formado por um conjunto maravilhoso de mosaicos das primeiras décadas do século III D.C. No centro da sala está uma enorme vasilha de pórfiro vermelho, com 13 metros de circunferência, cuja função era decorar um grande espaço público da Roma imperial.

Mais antiguidades podem ser vistas no Museu Gregoriano Egípcio, onde se encontram monumentos e objetos do antigo Egito, em parte, procedentes de Roma e da Vila Adriana, lugares aos quais foram trasladados principalmente durante a época imperial. Os papas tinham um interesse especial pelo Egito, em função das Sagradas Escrituras na História da Salvação.

Depois de andar por várias galerias (o museu é enorme), chega-se às chamadas “Salas de Rafael” (quatro no total) situadas no segundo andar do Palácio Pontifício. Elas faziam parte da residência dos papas, entre 1507 e 1585 – começando com Júlio II e terminando com Gregório XIII – e contém magníficos afrescos do mestre Italiano, que passaram por uma longa restauração (que durou 30 anos no total, concluída em fevereiro de 2013). Rafael trabalhou nas obras de 1508 até a sua morte em 1520 – o resto do trabalho foi finalizado por seus pupilos em 1524.  

Todas as salas são verdadeiros bálsamos para os olhos e exigem uma dose extra de atenção para apreciar todos os detalhes e os significados de cada obra. A mais impressionante, e que conta com os afrescos mais famosos, é a “Sala do Selo”, que originariamente abrigava uma biblioteca e representa, segundo o Vaticano, as três virtudes/qualidades máximas do espírito humano: a verdade, o bem e a beleza.

A verdade é retratada de duas formas: racional, com o afresco “Escola de Atenas” (ou “A Filosofia”), na qual estão retratados grandes filósofos da antiguidade (como Platão, Aristóteles, Pitágoras e Diógenes) e na forma que Rafael se autorretratou: com um gorro, no canto inferior direito. Já a forma espiritual, é vista na “Disputa do Santíssimo Sacramento” (ou “A Teologia”), que representa, em meio à Santíssima Trindade, a Igreja Triunfante, com patriarcas e profetas do Antigo Testamento e apóstolos e mártires. A viagem pelas salas de Rafael inclui ainda pinturas nas partes superiores das paredes, nas abóbadas e nos tetos.

Mas o ponto alto da visita ao Museu do Vaticano é, sem dúvida alguma, a Capela Sistina, cuja abóbada foi totalmente redecorada por Michelangelo no século 16 – antes havia apenas a pintura de um céu com estrelas. O artista italiano criou então os mais famosos afrescos do planeta, retratando nove episódios do Gênesis, como “A Criação do Homem”, “O Pecado Original e a Expulsão do Paraíso” e “O Dilúvio Universal”. Mas a visita não tem muito de espiritual, não pela sublime arte, mas pela confusão rotineira: na entrada, guardas gritam “silêncio!” e “nada de fotos!” o tempo inteiro para a multidão de turistas que se aglomera no centro do espaço. Aliás, é melhor nem tentar tirar uma foto escondida: a reportagem viu guardas fazerem as pessoas apagar fotos tiradas, em situações de total constrangimento. Mas, de qualquer maneira, o negócio é olhar para cima e apreciar os afrescos. As representações do Gênesis seguem ordem cronológica e, em volta de cada um, há também Profetas e Sibilas pintados por Michelangelo, além de magníficas imagens de jovens nus. A posição pode ser um tanto incômoda depois de alguns minutos, mas vale o esforço.

Nas paredes laterais há pinturas anteriores a Michelangelo, de grandes nomes como Botticelli e Perugino. Mas é outra obra de Michelangelo que chama a atenção: “O Juízo Final”, que cobre toda a parede do fundo da capela. Foi pintada 25 anos após a realização dos afrescos da abóbada. Recomenda-se dedicar algum tempo para apreciar todos os detalhes das obras do mestre italiano. Detalhe: o artista pintou os afrescos da abóbada sozinho, sem ajudantes, utilizando andaimes especiais, durante quatro anos (1508-1512). Um trabalho duríssimo, cujo resultado eleva o espírito. Mas os tesouros não acabam aí: o Vaticano conta também com uma galeria com a coleção de Arte Religiosa Moderna, com obras de Salvador Dalí, Vincent van Gogh, Paul Gauguin e Picasso, entre outros; a Pinacoteca Vaticana (com cerca de 500 obras das melhores escolas italianas entre os século XII e XIX, de nomes como Caravaggio e DaVinci); a Galeria das Tapeçarias, com uma grande coleção do século XV ao XVII, principalmente de tapeçarias flamencas do estúdio de Pieter Coecke; e a Galeria dos Mapas, com 40 mapas pintados sobre as paredes, representando as regiões italianas no século 16, entre outros espaços.



Basílica de São Pedro impressiona por dimensão e decoração

Visitar a Basílica de São Pedro, a maior e mais importante igreja do mundo, é obrigatório. Situada na praça de mesmo nome, ela tem 23 mil m² de área e pode acolher mais de 60 mil devotos – a entrada é gratuita. A construção recebeu a contribuição de alguns dos maiores artistas da história da humanidade, como Bramante, Michelangelo, Rafael e Bernini.

Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO, o edifício foi construído no local onde acreditavam ser o túmulo de São Pedro, sobre a antiga basílica erguida pelo Imperador Constantino. As obras começaram em 1506 e foram concluídas em 1626, com a consagração imediata do Papa Urbano VIII. Para entrar no edifício é preciso passar por um controle de segurança após encarar as habituais longas filas. É muito importante estar vestido adequadamente, pois é proibida a entrada com bermuda, ombros nus ou minissaias.

O interior da basílica impressiona tanto por suas dimensões quanto pela suntuosa decoração e conta com 11 capelas e 45 altares. A enorme cúpula, que pode ser visitada, foi projetada por Michelangelo. Para subir até lá o visitante tem que pagar 7 euros e pegar o elevador. Vale a pena pelas vistas – tanto do interior da basílica como da cidade de Roma. Há também um café e uma loja de souvenirs lá em cima.
No centro da igreja um dossel de bronze barroco, projetado por Bernini e sustentado por colunas espirais de 20 metros, guarda o altar principal, onde apenas o Papa pode celebrar a missa. Um dos maiores destaques entre os tesouros artísticos é a “Pietà”, de Michelangelo, uma expressiva representação de Maria com o corpo sem vida de Jesus envolto em uma mortalha. O artista esculpiu a estátua de mármore quando tinha apenas 25 anos e foi a única peça que ele não assinou.

Outra área da basílica que não deve ser perdida pelos religiosos são as grutas do Vaticano, onde muitos papas e alguns membros da realeza estão enterrados e onde podem ser vistos os restos da tumba de mármore de São Pedro. Um nível abaixo está a antiga Necrópolis, onde foi encontrado o túmulo do santo que dá nome à basílica.

A colorida Guarda Suíça protege o papa

Eles têm uniformes coloridos e pomposos e a missão de proteger o Vaticano, a Santa Sé e o Papa – e nunca passam despercebidos pelos turistas. Tratam-se dos moços da Guarda Suíça Pontifícia, responsável desde 22 de janeiro de 1506 pela segurança do pontífice. É composta por 26 sargentos e cabos e 78 soldados. Em visita ao Vaticano sempre é possível vê-los controlando a entrada de veículos ou na Basílica de São Pedro.

O uniforme de cetim nas cores azul-real, amarelo-ouro e vermelho-sangue tem design atribuído a ninguém menos que o mestre Michelangelo. A língua oficial da Guarda Suíça é o alemão, e o lema, “Com coragem e fidelidade” (em latim, Acriter et fideliter). Ela tem como patronos São Martinho, São Sebastião e São Nicolau von Flüe,

Entre os séculos XV e XIX, a Guarda Suíça era um conjunto de soldados mercenários, que combatiam por diversas potências europeias em troca de pagamento. Eles chegaram ao Vaticano em 1506, atendendo a uma solicitação de proteção feita em 1503 pelo Papa Júlio II aos nobres suíços. Cerca de 150 homens, considerados os melhores e mais corajosos, viajaram até Roma.

A batalha mais expressiva da qual participaram aconteceu em 6 de maio de 1527, quando as tropas invasoras imperiais de Carlos V de Habsburgo, em guerra com Francisco I, entraram em Roma. O exército imperial era composto de cerca de 18.000 mercenários. Em frente à Basílica de São Pedro e, depois, nas imediações do Altar-Mor, a Guarda Suíça lutou contra cerca de 1.000 soldados alemães e espanhóis. Combateram ferozmente formando um círculo em volta do Papa Clemente VII visando protegê-lo e levá-lo em segurança ao Castelo de Santo Ângelo. Faleceram 108 guardas, mas em contrapartida 800 dos 1.000 mercenários do assalto caíram mortos pelas alabardas dos suíços.

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