Quando Leonardo da Vinci concluiu com maestria o quadro “A Última Ceia”, em 1497, talvez não soubesse que naquele momento eternizava um dos costumes mais celebrados da humanidade. Na obra-prima, Jesus e seus apóstolos comungam a derradeira refeição em grupo, todos dispostos em torno de um grande altar. De lá para cá, o ato de sentar-se à mesa para apreciar o alimento – e as boas companhias – se fortaleceu e ganhou novos contornos.
Desfrutar deste hábito vai além de uma ação cotidiana e corriqueira. Trata-se do momento em que o homem alia Gastronomia aos prazeres do convívio em uma ritualística cheia de significados. Por sua importância simbólica e relevância no mundo prático, fez-se necessário reinventar o hábito. A saída foi atribuir cada vez mais beleza ao ato de pôr a comida à mesa.
Hoje, existem várias formas de arrumar uma mesa. Para o lanche da tarde, o almoço em família ou o jantar a dois, técnicas simples se encarregam de deixar o momento corriqueiro charmoso e elegante. A reportagem da Revista Leal Moreira ouviu especialistas no assunto para saber quais são as tendências e alternativas que possibilitam unir os preceitos da etiqueta ao requinte da decoração. E antecipamos: sempre há uma forma de fazer deste acontecimento comum uma grande ocasião.
Ocasiões diferentes pedem estilos diferentes
Regra geral: para cada caso, uma decoração. Como o universo de uma mesa de jantar é bastante restrito, é preciso atentar-se aos detalhes. São eles que fazem a diferença. Cores, tecidos, arranjos e a disposição de objetos decorativos sobre a mesa devem combinar com o motivo da ocasião. Alguns elementos externos, como a iluminação e o posicionamento do móvel no espaço em que ele fica, também ajudam na composição estética. O empresário Alberto Serruya, que possui mais de 30 anos de experiência com a área de eventos, sugere algumas dicas para cada momento.
Na hora de preparar um jantar intimista, por exemplo, a iluminação ajuda a criar o clima. Luzes baixas sobre a mesa sugerem a aproximação das pessoas. “Se a proposta é algo mais sensual, cores quentes – como laranja e vermelho – são ideais. Agora, se a intenção é compor um ambiente romântico, priorize os tons suaves de cores como branco e marfim”, indica Serruya. Nas duas possibilidades, o empresário sugere que sejam servidos pratos bem elaborados, com sobremesas individualizadas, para combinar com a temática.
Reunir a família inteira em torno de uma mesa sempre é um grande desafio. São pessoas de todas as idades, com personalidades e gostos distintos. A principal dica é valorizar o clima de descontração. “Opte pelo colorido, mas seja suave. É um momento que pede menos formalidade, então é possível experimentar mais”, sugere Serruya. Toalhas de mesa em tecidos lisos ou floral caem bem. Para um visual mais romântico o tecido bordado também é propício. Se o almoço for realizado em um domingo, arranjos com flores e frutas dão o toque especial à arrumação. Se possível, prepare uma mesa para os adultos e outra para as crianças. “Em um caso como este esqueça as convenções da etiqueta. Quanto mais informal e natural for a arrumação da mesa, mais o evento se mostra sutil”.
Se o almoço em família permite extravagâncias, já um encontro de colegas de trabalho sugere mais sobriedade. Mesmo que seja uma confraternização, é importante ter alguns cuidados. “Se a festa não for temática é essencial observar alguns pontos: a arrumação da mesa deve ser clássica, com cores neutras e arranjos mais moderados. Dependendo do nível dos funcionários, faz-se necessária a aplicação de algum tipo de serviço mais solene, ou então apenas um serviço simples já resolve”, completa o empresário.
Harmonia, sempre!
Independente de qual seja a proposta do encontro ao redor da mesa, há que se ter clareza quanto ao motivo do evento. Na hora de preparar um jantar ou um almoço, é essencial preparar um menu de acordo com a ocasião. A decoração se encarrega de proporcionar o cenário perfeito, atribuindo os elementos certos para dar o clímax ao encontro – seja ele de uma grande família, de um grupo de amigos ou de um casal apaixonado.
“Acima de qualquer regra de etiqueta ou convenção social, o principal é a harmonia que deve existir entre o que é o evento e quem são os convidados. É preciso sempre sugerir leveza, suavidade, e deixar os convidados à vontade, sem constrangimentos”, pontua Serruya, que após tantos anos trabalhando com eventos e recepções, tornou-se um especialista sensível e atento aos detalhes que seu ofício exige.
A dedicação à área o fez compreender algumas regras gerais que não deixam ninguém errar na hora de pôr a mesa. “Outra coisa importante: os tipos de serviço, que fazem parte dos preceitos da etiqueta, quando podem ser aplicados dão um charme a mais à arrumação. Então, se for possível, sempre recorra a eles”.
Na hora de servir, estilos variam
Se existem diversos truques de decoração para deixar a mesa mais vistosa, os tipos de serviço também são ferramentas essenciais na busca pela composição perfeita. Usados para atribuir mais elegância a um jantar ou almoço, eles estipulam regras de organização dos pratos, talheres e copos sobre a mesa. Para a gerente de eventos de uma grande rede hoteleira Ellen Prado, a composição desses elementos é mais uma “carta na manga” para quem deseja fazer da refeição um grande espetáculo. “Os diversos tipos de serviço sugerem uma arrumação interessante na mesa de jantar. Se você souber aproveitar o requinte destas convenções, poderá transformá-las em peças a seu favor”, considera.
A composição dos objetos na mesa obedece a uma regra simples. Sob a ótica de quem está sendo servido: facas à direita, sempre com as serras voltadas no sentido do centro da mesa; garfos e colheres à esquerda; e talheres de sobremesa acima do prato, que permanece no centro da arrumação. Os guardanapos podem ser arranjados tanto sobre o prato, como em algum espaço inutilizado da mesa, mas sempre próximo de quem vai usá-lo. “Uma alternativa interessante é fazer o arranjo com o guardanapo dentro de uma das taças que serão usadas. Isso dá um efeito bem bonito à mesa”, indica Ellen.
A ordem dos talheres é determinada pela sequência dos pratos. À medida que eles são servidos, devem, gradativamente, corresponder a um dos talheres, que serão dispostos de dentro para fora.
Serviços
O talher da entrada deve ser o primeiro de cada fileira. A cada prato servido, o talher conveniente será o próximo, no sentido do centro da mesa. “Essa arrumação é prática. A ideia é que você use sempre o primeiro talher de cada fileira, para que logo depois o garçom possa retirá-lo e você já saiba que o da sequente é o próximo a ser usado. Por isso é importante lembrarmos: só devem ser colocados à mesa os talheres e copos que forem ser usados”, alerta a gerente de eventos.
Quanto ao serviço, a escolha deve ser pelo mais apropriado à ocasião. Sempre deve-se considerar os três mais clássicos. À francesa é o mais requintado. Neste serviço o garçom deve trazer a bandeja à esquerda do convidado, para que ele mesmo se sirva. No serviço à inglesa, o garçom também se posiciona à esquerda do convidado, só que fica por sua conta servi-lo. Já no serviço à americana, o prato vem decorado da cozinha e cabe ao convidado servir-se à vontade.
Independente de qual seja a sua escolha, o importante é ter bom senso e sutileza na hora de organizar um encontro em torno da mesa. Com estas dicas em mãos, só resta aproveitar aqueles que muitos consideram os melhores momentos da vida. No mais, bon appétit!