Eu uso óculos

Indispensável para quem tem problemas de visão, os óculos são acessórios que definem estilos para muita gente.

14/12/2011 11:04 / Por: Tylon Maués / Foto: Diego Ventura
Eu uso óculos
A oftalmologista Patrícia Capela lembra que o uso de óculos exige cuidados

Uma coisa em comum à maioria das óticas e lojas que trabalham com óculos é que, geralmente, os vendedores parecem ter uma paciência de Jó. Há uma clara orientação aos atendentes, em todos os lugares, de que ali está um cliente diferenciado, alguém que vai escolher um adereço que será constante sobre aquilo que mais nos apresenta pelo lado de fora, nossos rostos. Quem já teve de comprar óculos, seja por estética ou por necessidade por causa da vista, sabe que a escolha tem que ser feita com calma, de preferência com visitas a mais de uma loja, para que conforto, beleza e praticidade sejam aliados ao máximo possível. Ali está um objeto que pode nos definir num primeiro momento.

“Essa sua armação é clássica, vintage, bem ao estilo do que os mais jovens estão procurando hoje em dia”, comenta Samanta Lima, auxiliar de trade marketing da rede de óticas paraense Ana Maria, apontando para os óculos desse repórter. “É uma tendência recente a procura por modelos antigos, e as grandes marcas têm lançado modelos desse jeito”, completa ela, sem saber que a escolha dos meus óculos nada teve de muito elaborado. Eles foram escolhidos por serem os únicos que cabiam em um rosto demasiadamente redondo – isso depois de visitas a várias lojas. Mal sabia eu que estava em alguma moda, alguma tendência. Em tempo, descobri que os modelos que uso são os “wayfare”, que têm formato mais quadrado e que começaram a ser produzidos em 1952.

Se alguns, como eu, vão por esse lado por puro acidente, o que não falta são os que têm nos óculos um companheiro fiel, um pedaço de si. Aproveitando-se do provérbio português, Alexander Lowen, psicanalista de orientação freudiana, costumava dizer que “os olhos são o espelho da alma porque refletem diretamente o processo de energia do corpo”. É por essa linha que vai a professora universitária Mirna Guapindaia. A relação dela com os óculos vai além da estética ou necessidade.

Bom colesterol

“Os óculos para mim são meus sinais iluminados. Sem eles não percebo a vida como ela é. Sem eles não consigo enxergar a energia e a luz das coisas e das pessoas”, conta Mirna, com o entusiasmo e a alegria que a caracterizam tanto falando de lentes quanto ministrando suas aulas de língua portuguesa ou história da literatura na Universidade Federal do Pará (UFPA) e na Universidade da Amazônia (Unama). “Os óculos são meu colesterol bom”, completa.

Para passear, dar aula ou estar em qualquer lugar, a professora Mirna Moraes – Guapindaia, ou “Grande Guerreiro”, nomenclatura de uma etnia indígena amazônica que foi um nome adotado por parte da família – encara com muito bom humor o sentimento que tem pelos óculos, mas ela começou de um jeito traumático. A mãe teve glaucoma e perdeu a visão, o que deixou uma mulher ativa ficar mais abatida. Por conta disso, Mirna e as irmãs passaram a se consultar constantemente com oftalmologista para terem o maior controle do bem-estar da visão. Desde então, ela passou a adotar os óculos como adereço, mesmo antes de começar a desenvolver a necessidade que hoje já chega a dois graus e meio de miopia.

“Acho horrível o aluno me ver todos os dias com os mesmos óculos. É como se eu não trocasse de roupa”, brinca Mirna, que nas aulas e em todos os lugares que frequenta já é conhecida por essa predileção. “Minhas alunas adoram meus óculos. Alguns dos alunos também e fico encantada quando algum deles nota que estou usando um modelo diferente”, diz, não dispensando nem óculos de segurança no trabalho. “Trabalho com alunos de vários cursos e o pessoal de engenharia civil foi apresentar um trabalho. Eles usavam aqueles óculos de proteção, que adorei. No final eles me presentearam com um modelo e passei a usá-los normalmente em algumas aulas”, revela.

O bom humor parece ser inerente à relação dela com as lentes. “Olhei os modelos da Restart (banda adolescente que usa roupas e óculos multicoloridos), achei-os bonitos e comprei pares verde e vermelho. Meu filho nem acreditou quando viu e meus alunos adoraram. Quando viajo sempre levo muitos modelos e já sei onde procurar nas cidades que já conheço. Ganho muitos de presente também. A maioria dos meus amigos e conhecidos já sabe do meu gosto, inclusive do meu grau”, diverte-se Mirna.

Cuidados

Essa ida constante ao médico, que no caso da professora é a recomendada visita a cada seis meses, é algo defendido por todos os especialistas. A oftalmologista Patrícia Capela perdeu a conta de quantas pessoas já atendeu que não precisavam de óculos, mas queriam usá-los. O que para muitos causa estranheza, para ela é o caminho certo. Se alguém por motivos estéticos quer usar um objeto que tem incidência sobre uma das partes mais sensíveis do corpo, melhor que seja com supervisão médica.

“É muito comum encontrar pessoas que usam óculos sem a menor necessidade. Mesmo essas têm de ir a um especialista, porque há lentes neutras que têm que ser indicadas. Não haverá problema algum desde que seja uma lente tratada e de boa qualidade”, diz a médica. “Muitas lentes podem causar prejuízo à córnea. Dependendo da forma, podem até causar dano à retina. Já atendi várias pessoas que queriam usar óculos, mesmo sem ter nenhuma necessidade. Esse é o procedimento certo”, completa.

O alerta é feito em boa hora. Não raro se encontram óculos de grau vendidos nas bancas de camelô como um produto qualquer, sem nenhum tipo de controle. Além de danos permanentes aos olhos depois de um uso contínuo, podem provocar incômodos, como dor de cabeça, cansaço na leitura, sonolência, imagens borradas, tontura e visão dupla. Esses óculos comprados sem receita têm o mesmo grau nas duas lentes e um tamanho padrão, não sendo indicados para quem enxerga melhor por um olho do que pelo outro. Sem falar que eles podem não se ajustar a rostos mais largos ou mais estreitos.

O mesmo cuidado vale também para os óculos de sol. Com diversos formatos e cores, eles muitas vezes trazem lentes cuja procedência é duvidosa. Usar óculos falsificados, aqueles comprados em vendedores ambulantes, pode custar caro para a visão. Quem tem problemas como miopia, astigmatismo e hipermetropia, deve fazer um exame antes. Assim como os filtros solares, usados na pele para bloquear os efeitos nocivos do sol e principalmente evitar o câncer, os óculos escuros cumprem a função de proteger os olhos dos raios ultravioletas. Protegem o cristalino e a retina. Ficar em contato com o sol, sem proteção para os olhos ou com óculos de material inadequado, pode ocasionar vários tipos de doenças relacionadas aos olhos. “Tem muita gente que faz da obrigação de usar óculos um prazer. Hoje a variedade de armações faz com que algumas pessoas queiram ter vários modelos. O importante nisso é que se tenha cuidado com a vista”, vaticina Patrícia Capela.

Personalização

De olho neste mercado, grandes empresas e marcas mundiais investem pesado em tecnologia e design, sem deixar de lado as últimas tendências de moda. Sabendo disso, até o fim do ano deve ser inaugurada, na travessa Tiradentes, a outlet da Ótica Ana Maria, com atenção voltada ao público interessado em produtos diferenciados. “Temos notado essa procura cada vez maior por armações clássicas, vintages dos anos 60, 70, daí a necessidade de um espaço diferenciado. Queremos atender todos os públicos”, afirma Samanta Lima, explicando que essa preocupação é acompanhada de um estudo constante do público-alvo. “Fazemos estudos constantes quanto ao público, seja do bairro ou da cidade em que está a loja. Temos que saber a necessidade do consumidor para poder satisfazê-lo melhor”, completa.

Até o fechamento desta edição, eram 26 lojas no Pará e no Amapá. A intenção é, até o fim do ano, chegar a 30 unidades, levando a Ana Maria ao Nordeste, mais especificamente a Recife (PE) e João Pessoa (PB). Na capital paraibana será implantada a nova menina dos olhos da empresa. Na matriz em Belém, na travessa Padre Eutíquio, será instalado um novo maquinário, com os laboratórios mais avançados do Norte e do Nordeste. As Óticas Ana Maria têm laboratório próprio e laboratórios de montagem em cinco lojas, as quais fazem o serviço diferenciado. Com o novo laboratório, o tempo de entrega das encomendas deve diminuir consideravelmente.

“Antigamente os óculos eram apenas algo necessário, hoje também são acessórios. Por isso também esse investimento. Com essa nova tecnologia podemos ter modelos com formas exclusivas, logicamente dentro do que o grau possibilita”, explica o gerente técnico da rede,Guilherme Moraes. Samanta Lima lembra que itens sempre procurados são aqueles que estão em evidência por causa de algum artista, em especial nas novelas. Aí, explica ela, entra a sensibilidade dos vendedores – ou melhor, consultores – em orientar o cliente.

“As pessoas veem os óculos no rosto de um artista e acham que vão ficar iguais se os usarem. Lógico que o formato do rosto é diferente de um para o outro e isso tem que ser levado em conta. É nessas horas que os consultores entram, explicando todas essas nuances que fazem um visual. Nem sempre o que se vê na televisão, no cinema ou numa revista é o melhor para o formato do rosto de cada um e, em alguns casos, do grau que se tem”.

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