Nós também já fomos assim

Colunista discute a efemeridade da sociedade

27/01/2023 10:56 / Por: Emanuel Matos / Foto: Divulgação
Nós também já fomos assim

Há uma coisa que não deveríamos esquecer: tudo é datado. 


Datados somos cada um de nós, a nossa sociedade e, mesmo a mais duradoura das civilizações um dia acabará.


E quando as coisas se vão, ainda que não retornem, deixam lembranças ou os seus fantasmas que por algum tempo quase se apresentam como assombrações ou "fogo fátuo".


Já houve quem dissesse que os deuses não morrem, mas, exilam-se, de modo a permitir aos seus seguidores, visitas "às escondidas", quase como ritos catacumbais e cheios de mistérios.


Não sei se procede, mas, confesso que penso não haver morte para os deuses. Talvez porque sejam eternos ou, mesmo, porque não existem, que é outra maneira de eternidade.

Ao meu Deus, aprendi a ver no rosto dos homens e, por isso mesmo, não creio que um dia venha a morrer. Estou sempre diante D'Ele. Assim, Ele existe duas vezes porque, também creio na sua infinita existência sem nunca ter dito o Seu nome e nem mostrado o Seu rosto. Às vezes penso parecido com os poetas: Ele será eterno enquanto eu dure. Depois, já não é mais comigo, mas, é a Ele que restará a tarefa de fazer-se reconhecer como Deus.


Mas, somos todos datados, assim iniciei e talvez, por isso mesmo, deveríamos aprender a ver quando a gente já não cabe no mundo. Isto é, quando o mundo já é outro, diferente do nosso e nós já não temos o que fazer a não ser deixarmo-nos ser olhados como passado. E olhem bem: se insistirmos ao contrário, seremos olhados com muita pena, o que, aliás, é humilhante.


Eis porque não podemos julgar, moralmente, quem faz parte de um mundo que não é mais o nosso, embora a recíproca seja verdadeira, mas, afinal, para aqueles dos mundos novos eles são sempre a solução para as agruras do homem, de modo que temos de entender também isto.


Tudo bem. Nós já sabemos que não é assim, mas este é um conhecimento de pouca serventia por não poder ser usado. Os habitantes do novo mundo jamais aceitam ouvir que eles também são datados. Aliás, é bom que não aceitem, porque não serviria pra nada e eles precisam crer para melhor continuarem a viver, assim como, não serve pra nós que, embora sabendo, é inútil dizer, sendo melhor, assim, calar e contemplá-los.


Por fim, é bom lembrar: nós também já fomos assim!


Não. Não estou exortando ninguém à tristeza ou à depressão. Pensem positivo: um dia percebemos não sermos melhor que a geração anterior e eles também descobrirão. 

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