A casa é dos animais

Quando um lar recebe um pet, as adaptações na rotina da casa são mais comuns do que se imagina.

13/04/2015 15:48 / Por: Carolina Menezes e Flávia Ribeiro. Fotos: Dudu Maroja
A casa é dos animais
Eles sabiam que estavam trazendo para casa uma nova companhia, mas não sabiam o quanto essa nova companhia mudaria a rotina de todos e até mesmo seria capaz de estabelecer novas regras de convivência. Arrependidos? Que nada. O reinado não somente foi estabelecido como conta com total endosso dos “ex-donos” do lar.
 
Poucas coisas são tão transformadoras como a convivência com um animalzinho de estimação em casa. Não é exagero. Os focinhos, as patinhas, as carinhas fofas, as gracinhas e tudo o mais que eles têm para oferecer derretem até mesmo os corações mais fechados e os humores mais sisudos – é quase que impossível não se render a tanto carinho. Não à toa, quando um lar ganha um exemplar desses seres adoráveis estabelece-se um período a.P-p.P, antes do Pet e pós-Pet, e então não é incomum que ocorram adaptações na rotina da casa ou até mesmo mudanças físicas que garantam o bem-estar e o conforto do novo morador, que não pouco raramente acaba se tornando o dono do pedaço.
 
Assim é na casa da estudante de Direito, Marcela Borborema, de 18 anos. Há bastante tempo pedindo aos pais para ganhar um companheiro canino, há sete meses ela finalmente “dobrou” o pai e dele ganhou Scott, um Bulldog francês que conquistou a casa inteira. Quer dizer, quase toda a casa. “Uma das principais dificuldades com a chegada do Scott foi fazer a minha mãe se acostumar com a ideia de um cachorro em casa: ela morre de medo! Até hoje ainda sai correndo dele, ou sobe no sofá quando ele está por perto. Mas ainda tenho esperanças de que esse medo dela se transforme em amor por ele”, relata a jovem, mostrando que nem a rejeição por parte da “rainha do lar” ameaça a liberdade do novo membro da família, hoje com dez meses de vida.
 
Os horários de Marcela e do pai foram os que mais sofreram mudanças desde a chegada do bulldog. “Não foi ele que se adaptou à casa, e sim o contrário! Tivemos que abrir mão de algumas coisas, já que tínhamos de cumprir alguns horários, como o de dar comida, passear, acompanhar o seu adestrador, entre outras coisas. O primeiro hábito foi o horário de levar o Scott para fazer suas necessidades e passear. De manhã, o papai diminuiu o tempo de suas atividades físicas para levar o Scott, e de noite eu ou meu pai sempre abrimos mão do que estamos fazendo naquele horário do começo de tarde para levá-lo. É um esforço diário para conseguir adestrá-lo, pois ele é muito agitado e teimoso”, conta a estudante.
 
A estudante garante que apesar dos pesares, nenhuma mudança pesou na rotina ou a fez duvidar da escolha de pedir por um cãozinho em casa. “Desde que ele chegou eu durmo menos, adquiri bem mais responsabilidades, muitas vezes me estresso bastante, mas sou bem mais feliz. Eu não consigo mais imaginar minha casa sem ele, mudou minha rotina, minha vida, e chegou pra me tornar muito mais feliz e completa. Com exceção da minha mãe, todo mundo aqui em casa é apaixonado por ele e não imagina mais a casa sem esse novo integrante”, admite Marcela.
 
Já na casa da aposentada Maria Eunice Tavares não há a menor dúvida de quem manda ali, e com total endosso de sua dona: Paloma, uma cadela sem raça definida de três anos de idade adotada há pouco mais de um ano e que chegou para salvá-la da tristeza de ter perdido sua companheira canina anterior, Melissa, que morreu aos cinco anos após sofrer um mal súbito enquanto passeava na rua. “Fui ao médico para meus exames de rotina, é o mesmo médico de sempre, e ao me contar que meus níveis de insulina finalmente estavam baixos, ele se surpreendeu porque eu não comemorei, fiquei na mesma. Me perguntou o que tinha acontecido e eu contei que estava muito triste por ter perdido a minha Melissa. Aí ele disse que conhecia uma organização chamada Amor de Patas, que providencia adoção para cães e gatos abandonados, e entrou logo em contato para marcar uma visita. Fui alguns dias depois. Lembro que teve uma chamada Sofia que não me deu muita bola, mas a Paloma não. Ela veio e começou a brincar comigo e com meu companheiro, e ali ficou. Foi quando eu vi que era ela, que ela havia me escolhido, nos escolhido!”, recorda.
 
 
Com Paloma devidamente adotada mas ainda sendo “arrumada” pelos voluntários da organização, antes da ida definitiva rumo ao novo lar, Eunice foi ao shopping e comprou todos os mimos possíveis e imagináveis para a cadela. “Fiquei tão arrasada quando a Melissa morreu que eu doei tudo o que era dela, então fui comprar tudo de novo: caminha, coleira, pratinhos para comida e água. Quando ela chegou, tinha uns hábitos meio mal educados, mas com o tempo ela foi aprendendo a se comportar, só fica tola quando eu viajo. Uma vez, passei dois meses fora e meu filho era quem ia levá-la para passear, me contava que todos os hábitos ruins que ela tinha quando chegou tinham voltado. O veterinário foi me contar depois que tudo aquilo era uma forma de chamar a atenção porque devia estar triste com a minha ausência. Foi só eu chegar que ela se comportou de novo!”, conta. Os amigos, quando a convidam para passeios, jantares ou mesmo viagens a balneários, já sabem: Paloma vai junto. “Ela adorou Salinas!”, lembra.
 
Mesmo muito bem instalada com suas próprias coisinhas, Paloma gosta mesmo é do aconchego da cama de sua dona. “Gosto de me deitar um pouco depois do almoço, e ela vai comigo. Sabe, ter um cachorro é ter um motivo para voltar para casa, para estar em casa. Eu converso, conto as coisas, e ela está lá, do lado, é uma companheira. Brinco, jogo os brinquedinhos, ela ‘responde’. Não dá mais para imaginar a minha vida sem ela, é uma paixão”, derrete-se Eunice.
 
Preparação para o novo integrante da família
 
Entre a ideia de ter um animal e a chegada dele em casa é necessária uma preparação não só do ambiente, mas também da família. “É como a chegada de um bebê, todos precisam se preparar, pois a rotina vai ser alterada. É preciso dar atenção para o animal e ser compreensivo, pois ele pode demorar um tempo para se adaptar”, recomenda Camilla Loureiro, sócia proprietária de um Pet Shop.
 
 
O esclarecimento é para que o dono do animal tenha consciência de que haverá um período de adaptação para humanos e para o pet. “O animal poderá sentir falta da mãe e dos irmãos e vai estranhar esse novo ambiente, então os choros são característicos desses momentos”, comenta Camilla acrescentando que em média essa fase pode durar seis meses. “Outras reclamações que ouço muito são sobre o xixi e cocô no lugar errado”.
 
Outra fase que traz certos incômodos é a do crescimento dos dentes. Assim como bebês, filhotes tendem a morder quase tudo o que estiver disponível, por isso não é raro as queixas sobre danos em sapatos, pé de sofá e de mesa... Para minimizar a situação é recomendado adquirir brinquedos específicos para exercitar a dentição e também uma boa dose de paciência. Essa fase é bem agitada e alguns móveis e calçados serão completamente perdidos, mas acredite, haverá boas lembranças também.
 
No ambiente do novo lar, segundo Camilla, a família deve reservar um cantinho específico para o pet. “Outro cuidado é não deixar crianças pequenas, sem a presença de adulto, perto de animais, pois elas podem se confundir, pensar que são brinquedos e podem bater e eles podem reagir, enfim é bom ter sempre a supervisão de adultos” alerta.
 
Outra boa dica para a família é sobre a condução da educação do animal com instruções claras. “Não pode acontecer de a proprietária, por exemplo, deixar o filhote dormir na cama com ela, mas não quer que ele faça isso quando adulto. A orientação tem que ser dada desde sempre, não pode mudar para não criar confusão” alerta o adestrador Pedro Victor Amaral.
 
Qualquer pessoa pode fazer a educação do próprio animal e isso pode ser iniciado desde o primeiro dia em casa, com comandos sobre o lugar de dormir e o das refeições, por exemplo. Mas se você tiver um cachorro de raças mais fortes ou de grande porte, como o fila brasileiro ou pitbull, por exemplo, a recomendação é que esse processo não seja conduzido por pessoas inexperientes. “Você tem que ter em mente que será o líder dele e que ele precisa obedecer, pois um poodle pulando em cima de você é bonitinho, mas um cachorro de 40kg ou mais pulando em cima de você é diferente”, destaca o adestrador.
 
Além disso, o trabalho de um adestrador pode ser necessário em outras situações específicas, como no caso de pessoa não ter experiência e sentir que precisa de ajuda ou quando não sabe lidar com problemas que podem surgir. Além de regras, ele lembra que os animais também precisam de cuidados específicos para que se mantenham saudáveis. O proprietário deve se manter atento e estar sempre em dia com a vacinação, vermífugos, carrapaticida, dar uma alimentação adequada, cuidar da higiene, etc. “E também passear, brincar, dar atenção diária, não é só cuidados e educação, em meio a isso tudo haverá também os momentos de diversão, de risos, de companhia e de amor”, fala.

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