AH, O AMOR!

12/06/2022 09:48
AH, O AMOR!

O mito que narra o nascimento do amor é riquíssimo.

Havia um banquete para os deuses e entre eles se encontrava Poros, filho da Prudência, astuto, prodigioso sempre em busca da beleza. Dotado de fartos recursos e incansável nas aventuras.

Durante o banquete, já embriagado, ele vai dormir no Jardim de Zeus.

Pênia, a Penúria, sempre carente e em estado de mendicância, quando encontra Poros, desejosa de um filho seu, deita ao seu lado e concebe EROS, o Amor.

Eros, assim, estará marcado para sempre por essa ambivalência entre Abundância e Mendicância. Será fogo, paixão, mas, também frieza, abandono, brevidade e eternidade, como escreveu Vinícius de Moraes:

"Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama.
Mas que seja infinito enquanto dure."

 Versos do amor eterno em sua brevidade, ou que tenha um fim que não finda porque vale por si só e em si é completo. Presença e falta. Chegada e partida, saudade.

Eis aí algo inerente à vida sem o qual vida não há. - Drummond é magnifico:

"Que pode uma criatura senão
Entre criaturas, amar?
Amar e esquecer, amar e malamar
Amar, desamar, amar?

E o que dizer do amor não correspondido, que não deixa de ser amor, mas, como amor não se revela, embora fique, ame e desame. Leiam Cecília Meireles:

"Nunca ninguém viu ninguém
que o amor pusesse tão triste.
Essa tristeza não viste,
e eu sei que ela se vê bem."

Neruda é genial:

"Te amo sem saber como,
nem quando, nem onde,
te amo diretamente
sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque
não sei amar de outra maneira."

Amo porque amo. Porque algo me falta e não sei o que é. Sei sem saber o que me falta. Assim, amo dum jeito que é meu, de cada um, de modo a ficar-nos faltando sempre algo que Poros procura e que Pênia mendiga.  

Vejam como é lindo o Mito: Eros que será acompanhante de Afrodite habita em nós e nos fará desejar o belo, mas, traz consigo Pênia e os limites da experiência humana.

Deixando os deuses e os poetas, voltemos ao chão com este aprendiz do verso:

Se houvesse um só modo
Era assim que eu te amaria.
Mas te amo de modo vário.
Te amo quando não te amo,
De amor tanto,
Que nem o amor sabe.
Depois te amo
Duas vezes mais com o amor
Com o qual antes não te amei.
Te amo ausente que é quando
Te penso, desvairado e louco
Amando sem te amar.
E quando te amo
Te amo com todos os amores
Sem saber se te amo, amando.
E sem saber como mais dizer
Te amo de amores desconhecidos
Que descubro só quando te amo.


Crônica do colunista do Portal LiV, Marcelo Magalhães.


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