Cores ao redor

Será que existem modelos ou padrões de cores para seguir na hora de mudar a cara dos ambientes? Para o arquiteto Wallace Almeida não.

12/02/2014 18:52 / Por: Bruna Valle / Fotos: Dudu Maroja
Cores ao redor


Essa é a assinatura dele, que também tem seu escritório todo planejado para não parecer um lugar sisudo, e sim um espaço para os visitantes sentirem-se em casa - a casa do Wallace.

O site da Revista Leal Moreira leva você para conhecer tudo que as cores podem oferecer; e, ainda, como a aplicação delas pode ser feita de forma muito mais libertadora, criativa e inesperada.

Revista Leal Moreira – Como as cores podem influenciar no ambiente?

Wallace Almeida - A cor concretiza os sentimentos, os momentos que você está vivendo. Por isso é importante conhecer o cliente. Você precisa conhecê-lo. Quando você está conhecendo o cliente – é o momento mais importante de um projeto arquitetônico, e é o que eu mais gosto - você vai adquirir confiança para fazer o projeto. Intuitivamente eu vou observar tudo, como é o cabelo, como se penteia, como se veste, como anda... Isso é muito natural. A arquitetura vem do ser humano, do comportamento da pessoa, e nós temos que observá-la atentamente. Daí é que começam a surgir as cores.

RLM – Existem cores que são sempre usadas ou que são regra para determinados ambientes?

Wallace Almeida - Não existe uma regra definida para cada espaço. As pessoas têm mania de dizer que um ambiente pequeno tem que ser necessariamente claro, e eu não concordo. Tem que ficar aconchegante, e para isso tem que ser um pouco mais escuro. Nós sabemos que o vermelho é uma cor que faz com que você não veja o tempo passar, então ela seria interessante para uma sala de espera - um tom de vermelho bem aplicado. Observe que os lugares mais aconchegantes, que inclusive ficam mais tempo no mercado - casas noturnas, pubs –  são os que têm uma cor mais avermelhada, meio âmbar, cor de fogo; um dégradé do vermelho. Mas a cor tem muito a ver com expressar o sentimento. Quando estou em um projeto, conhecendo o cliente, ele pode começar em uma escolha de cor e mudar até o fim do processo - porque o momento é outro, o sentimento é outro. Então não existe uma regra definida. Dizem que a cozinha tem que ser laranja, que abre o apetite... mas não. Isso é limitador.

RLM – As cores têm características peculiares importantes. Como encontrar o tom específico da cor para alcançar o resultado desejado?

Wallace Almeida - De acordo com o cliente, você percebe a gama de cores que podem ser usadas. E dá pra perceber no momento em que você começa o projeto. O diferencial é ter sempre um arquiteto para executar, porque você pode achar lindo o amarelo, mas você vai precisar de orientação de como usar aquele amarelo. O profissional é quem vai trabalhar seus gostos pessoais e lhe dizer como aplicar as cores, onde – no tecido, na parede, no objeto – e que tom será; ele é quem vai medir a dosagem da cor no ambiente. Por exemplo, antigamente o quarto do menino era azul e o da menina era rosa -  ou o neutro que era verde -, cores que iam em todas as paredes, teto etc. E isso causa um resultado muito chocante. É impressionante o efeito que a cor tem.


RLM -  Você diz que essas cores eram usadas antigamente para os quartos de criança, mas atualmente isso mudou?

Wallace Almeida - Hoje em dia as pessoas estão neutralizando, cada vez mais, o ambiente. Móveis brancos, paredes brancas e os objetos é que representam a personalidade da família. Se os pais tem uma ligação com a temática country, o quarto vai ter uns animaizinhos na parece, um papel de parede e um tom de marrom para criança, bege. A família é esportista? Então vai ter carro, bicicleta, esportes radicais. Hoje em dia o que fica é mais o estilo que agrada os pais do que uma cor que represente o gênero. E com isso a pessoa começa a se moldar naquele estilo, naquela família que confere à criança uma identidade. As outras pessoas vão perceber de quem são os filhos, porque eles têm uma atitude igual, mesmo gosto. E isso fortalece a família, o conceito, a cultura.


 
RLM – As cores que vemos nos ambientes externos -  a cidade, a rua - influenciam no que vamos escolher para colorir nosso cotidiano, nossos lares?

Wallace Almeida - Ela influencia no seu estado de espírito. Se você passa por um lugar florido, alegre, colorido, você vai ter essa inspiração para o que veste, utiliza etc. Você chega na casa de um pernambucano, é um colorido fantástico. As nossas casas precisam ousar mais, elas ainda são muito beges, pálidas. Mas isso vem da nossa carência de cor na própria paisagem. Nossa vegetação é muito verde. Quais flores são naturais nossas? É diferente de você ir pro Sul, onde existe todo tipo de flor colorida para todos os lados, eles estão acostumados com isso.

RLM – Existe uma cor que possa ser chamada de “coringa”, que não tenha erro ao usá-la?

Wallace Almeida - Depende do local. Na área externa, por exemplo, existe um erro muito comum. As pessoas fazem a piscina e em volta do deck pintam de branco -  isso é um erro fatal. A piscina é um lugar de relaxamento, onde vai ter água, sol, vento tudo ao ar livre. E o relaxamento vai desde o que você toca, sente, cheira etc. Aí você já entra naquela área de óculos escuros, porque não consegue olhar para o muro branco na hora do sol. Isso gera um desconforto ambiental, onde a cor influencia também. Para esses objetivos específicos existem cores mais apropriadas. Neste caso da piscina, o ideal seria um verde musgo, porque ele é um verde no tom certo para a área – essa cor neutraliza e dá conforto visual. Usando essa cor para isso, não tem como errar.
 
RLM – E para o teto, como não errar?


Wallace Almeida - Eu acredito muito no teto branco quando ele está a uma boa altura do chão, e no teto preto para lugares baixos. Porque o teto preto da uma sensação de infinito, você perde a noção espacial. Quando você vai a uma casa noturna, o teto é sempre preto. Você não sabe o tamanho daquele ambiente, você só vê as luzes. Ele expande o espaço com o preto criando o infinito, o branco te limita. Até mesmo em uma casa, em um hometheater, dá pra adotar. Em um lugar assim, com a luz certa, você não vai saber de onde está vindo o som, dá essa sensação – você só sente o som.  O bacana da arquitetura é poder proporcionar isso, essas sensações. Aguçar todos os sentidos, tato, olfato, paladar...

RLM – As cores divididas em objetos, móveis e tudo o mais do ambiente têm que combinar sempre?

Wallace Almeida - Não, elas têm que se harmonizar. Na realidade, na hora em que você cria o projeto, você vê o conceito, o estilo do cliente. Nós arquitetos dizemos que tem tipos de arquitetura: umas que são mudas, que murmuram e outras que cantam - as que cantam estão em perfeito estado de harmonia. Serve para tudo - para o móvel, tua casa, teu condomínio, tua rua...uma coisa sempre tem a ver com a outra. Um processo que acontece de dentro para fora e de fora para dentro. Quando você entende e harmoniza esse fluxo, você se acha dentro da sua casa, sua cidade; você cria uma personalidade que qualquer pessoa que veja seu ambiente vai saber quem você é.


RLM – A maioria das pessoas têm medo de pintar as paredes de preto. Dá para usar o preto? Em que ocasião?

Wallace Almeida - Já tive um projeto uma vez que a cliente deixou bem claro que não queria marrom – que lembrava morte – e preto, porque era fúnebre demais. Aí eu tomei aquilo como um desafio – eu adoro preto – para quebrar a barreira dela e mostrar que o preto é tão bonito quanto o amarelo, o vermelho ou azul, apesar de ser ausência de cor. Então, na sala de jantar dela, eu fiz uma parede preta e coloquei os pratos antigos nessa parede. Ela se apaixonou. O preto pontua. Se você quer destacar o seu quadro, pinte sua parede de preto. Como você vê,  geralmente, as joias sendo apresentadas? Sempre no veludo preto. Um anel de brilhante em um veludo branco parece que perde o brilho. O preto evidencia o que você quer mostrar e o que você quer ver.

RLM – 2014 está começando, mas já dá para dizer quais as novas tendências na arquitetura para as cores?

Wallace Almeida - Os clientes me perguntam muito isso: qual vai ser a cor deste ano? Vai ser a que você girar o botão! A grande tendência é a iluminação. Se você quiser azul, você vai girar o botão do seu controle de luz e assim será. Isso é fantástico! De meados do ano passado para cá isso se fortaleceu bastante, porque foi quando essa tecnologia ficou acessível; custa muito menos ter uma iluminação de led atualmente. Agora todo mundo pode brincar com a cor. Para complementar essa tendência, vem os ambientes com ausência de cor, para que ela venha por meio da luz. E não tem como errar, já que quem escolhe é o próprio consumidor e vai expressar o que ele está sentindo no momento. A luz é o dono que vai dizer. Dá essa versatilidade para o consumidor.

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