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Vem do cheiro, do toque, do que se vê e o que se sente: a aposta do ano para a nova cor da Pantone é a Marsala, tonalidade em vinho que representa um novo conceito da empresa norte-americana, baseado em experiências sinestésicas. Além disso, a cor também surge com outra novidade por ter já na sua elaboração uma espécie de textura delicada e com aspecto aveludado. Blanca Liane, representante da empresa no Brasil – e diretora executiva da Lexus Group (um conglomerado de empresas correlatas) –, diz que há algum tempo, desde a década de 1990, cores em tom de vinho não eram destaque e que foi “resgatada” para simbolizar a nova visão da empresa.
Marsala é um tipo de vinho fortificado, que tem a matéria-prima extraída na cidade italiana de mesmo nome e denominação de origem controlada. E vem daí a principal referência para a escolha da cor: a Enogastronomia. As tendências mundiais no ramo da coloração apontam que cada vez mais deve-se integrar sentidos e conjunturas. O processo de escolha é realizado conforme tendências prévias, que podem ser observadas em eventos esportivos, políticos e cinematográficos, por exemplo. Essa série de fatores são estudados pela Pantone, que após análise de procedimentos tecnológicos para a mistura do tom desejado, anuncia sua nova cor.
“Marsala é nome de um vinho especial, um pouco adocicado. Então, a principal referência para este ano foi a gastronomia, num cruzamento de interesses. Queremos a moda mais comestível, aprazível para consumo. Esta é uma nova visão de apresentação de conceitos e produtos. Sabemos o quanto hoje é importante o ramo da alimentação, o quanto se gasta de tempo e dinheiro para sermos mais saudáveis e isso influencia o comportamento moda e design. Por isso foi criada essa cor híbrida em tom de vinho, meio marrom, e ao mesmo tempo clara e suave”, explica Blanca Liane.
A cor deste ano tem outro componente importantíssimo: é adaptável a diversas combinações e não tem a pretensão de ser totalizadora em ambientes, produtos, roupas, e ao que mais for utilizada. Blanca explica que esta é mais uma mudança conceitual em relação às cores de anos anteriores, que tinham como marca fundamental o brilho e o destaque. É uma modificação clara em relação à cor de 2014, a Radiant Orchid, uma espécie de lilás inspirada no filme
“Frozen”, da Disney. É uma tendência de se trabalhar agora com cores mais “gentis”, de acordo com a definição da diretora executiva.
“É uma cor que harmoniza e que permite que outra cor exista ou então melhora a sua existência. Não é visceral, por si mesma, mas uma cor de contraste. É uma nova tendência geral de trabalhar com cores mais clássicas, nem tão acentuadas, que façam o conjunto bonito e não destacar uma cor só”, explica, ressaltando que por ser uma cor mais sofisticada, permite que as pessoas já possam usá-la com coisas que já possuem para combinações minimalistas e elegantes, que se adapta à cosmética, arquitetura, design, principalmente decoração e interiores. A Pantone, quando do anúncio da Marsala, destacou ainda que a cor tem a sofisticação e robustez para enriquecer corpo e mente.
Da empresa até o consumidor
A política da Pantone de lançar “a cor do ano” começou em 2000, como uma estratégia de pautar tendências e impulsionar o consumo. A empresa desenvolve pesquisas de tecnologia de ponta para alcançar os tons criados e que podem ser aplicados em diversas superfícies, como papel, tecido e plásticos, entre outros. Blanca explica que a empresa auxilia o cliente a desenvolver a coloração para o que desejar e que não é necessário que se compre a cor, mas sim que ele adquira produtos da empresa. Com isso, o esperado é que qualquer produto com a tonalidade do ano seja mais consumida e mais atraente para o consumidor. Tanto que a cor acaba sendo referência nos anos seguintes.
Isso porque a cor é item fundamental na vida das pessoas e está ligada às sensações. “A cor tem impacto psicológico muito grande porque ela é expressão de um impacto no córtex do sistema nervoso central e faz com que tenhamos a memória muito grande do que a cor evoca. Vamos fechar os olhos. Turquesa. Onde você está?”, pergunta Blanca. “Pode remeter à praia, cor de água, um lugar fresco, relax, que você está de férias. Assim como o marrom lembra homens mais velhos, couro, charuto, empresas confiáveis. 80% da experiência humana é através dos olhos”, diz.
Blanca apostou no estudo das cores quando a Pantone não era mundialmente conhecida e a sua experiência no mundo da moda fez com que ela trouxesse para o Brasil o Pantone – Textile System, em 1987. Experiente no assunto, ela acredita que o grande sucesso da marca está ligado à renovação dos processos tecnológicos e pesquisas para implantação de cores em superfícies diversas.
A Marsala na arquitetura e na decoração
Os profissionais de arquitetura costumam receber as cores do ano como uma oportunidade de trabalhar novos conceitos, bem ao encontro do que a própria empresa norte-americana prega. Para a arquiteta Renata Macário, um bom profissional tem que estar aberto às novidades e sempre estar atento às tendências para sugerir aos clientes. “As cores exibem muita personalidade e devemos sempre ousar nas aplicações. Muitos clientes têm medo de trabalhar com tons fortes e nesta hora que cabe ao profissional transmitir segurança e saber trabalhar nas harmonizações, para um excelente resultado”, opina.
Renata é admiradora das cores fortes e com a chegada da Marsala ela acredita que vai poder utilizar o tom tanto para clientes com gostos mais clássicos
quanto para os mais contemporâneos. Ela destaca que cor pode ser aplicada não apenas em paredes, mas em adornos, mobiliário, bancadas, cortinas e até mesmo na laca de móveis modulados. “Basta saber harmonizar e onde aplicar. Devemos sempre estudar a personalidade do cliente e saber como aplicar para gerar um resultado satisfatório. Eu particularmente amo ousar com cores fortes e a cor eleita pela Pantone me agradou em demasia, pois tenho tendência aos tons da cartela que variam dos vermelhos-tomate ao vinho mais escuro, de forma que o vinho terroso vai ser muito utilizado por mim”, diz.
A também arquiteta Socorro Ribeiro acredita que o tom da Marsala, por remeter à sofisticação, poderá ser amplamente utilizado em diferentes projetos. Ela recomenda que a cor seja utilizada com tons leves e que seja aplicada para a criação de ambientes intimistas e aconchegantes. Para clientes que gostam de sobreposição de cores, ela indica que seja usado com tons de dourado e azul. “É uma cor muito bonita e dá estilo, mas ao mesmo é complexa por ser forte. A tendência é que ela escureça o ambiente. Então, sugere-se que ela seja utilizada com tons claros. Também é indicada para lugares intimistas, com pouca iluminação, para trabalhar focos de luz e dar o clima que se espera, ela é perfeita pra isso”, garante Socorro.
Ribeiro ressalta que mesmo sendo tendência é importante observar o que cada pessoa se identifica e assim planejar o ambiente. “A tendência é muito importante para profissionais como nós, do design, para que tenhamos conhecimento e nos tornemos competitivos no mercado. Temos que entender para trabalhar isso nos projetos. Mas nosso foco principal não pode ser a tendência, é sempre o cliente, que tem sonhos. O consumidor gosta de saber o que é atual, mas por outro lado deve-se respeitar o seu gosto”, conclui a arquiteta.
A Pantone
Referência mundial na criação de sistemas de cores, a Pantone foi criada em 1963, nos Estados Unidos pelo gráfico Lawrence Herbert. Ele criou um sistema inovador de identificação, correspondência e comunicação de cores que, em princípio, serviram para a indústria e artes gráficas. O famoso livro padronizado em forma de leque, o Pantone System Matching, foi inventado por ele como uma forma simples de visualizar as tonalidades. Ele entendia que cada indivíduo percebe o espectro de cores de forma diferenciada. “Ele andava de gráfica em gráfica e até 1980 era somente para esse ramo. Depois foi criado o sistema de cores para a indústria têxtil”, explica Blanca Liane.
Atualmente, a Pantone tem seu conceito de sistema de correspondência de cores em expansão e abrange indústrias de tecnologia digital, plásticos, arquitetura e pintura. Em 2007, a empresa foi adquirida pela X-Rite Incorporated, mas as suas marca e atividades permaneceram. Semestralmente são divulgadas as novas tendências, após os estudos, sempre 18 meses antecipados à estação. O produto mais conhecido é o View Color Planner (VCP), uma cartela de cores lançada a cada estação – primavera/verão e outono/inverno.