Vai um café?

O produto faz parte do nosso cotidiano e é praticamente impossível passar um dia sem saborear um bom café.

14/08/2014 11:40 / Por: Fábio Nóvoa/ Fotos: Dudu Maroja
Vai um café?

O advogado e servidor público Breno Peck Mello, 31 anos, por exemplo, transformou o hábito diário de tomar café em um pequeno ritual. “É como minha cerimônia do chá. O fazer café é um momento só meu, pra botar as ideias em ordem, preparar a cabeça pro dia, pra relaxar após o trabalho ou pra simplesmente não pensar em nada”, afirma. Ele cita ainda como funciona essa “cerimônia”. “É o ato de moer o café, aquecer a xícara com vapor, cheirar o aroma, prensar o pó; ou de vigiar a água pra não ferver além de pequenas bolhas, misturar com garfo e apertar o êmbolo da prensa francesa; ou, ainda, de lavar o filtro de papel com água quente pra deixar o café menos amargo e despejar a água lentamente e em círculos”.

Breno diz que, em casa, apesar de a família já gostar da bebida, ele mesmo consumia apenas corriqueiramente. “Eu tomava mais por força do hábito. Por outro lado, minha mãe é do tipo que só dorme se tomar café e meu padrasto, sangue italiano, sempre foi fã de café espresso muito antes da febre das cápsulas”, lembra. A paixão mesmo surgiu quando ele começou a estagiar e depois no primeiro emprego. “Os cafés desses trabalhos eram, pra ser bonzinho, tóxicos. Velhos, azedos, fervidos, com gosto de alumínio porque eram mexidos com colher de metal raspando na panela de água fervente”, critica, com a mesma acidez que cita o gosto do que consumia. “Mas, aquilo funcionava em me deixar alerta. Porém, a minha primeira crise de gastrite devo, em parte, a esses cafés horrorosos”.

Porém, ele já tinha em casa uma cafeteira espresso (“falsa, porque não dava pressão suficiente”, reitera) e uma moka, aquela cafeteira chamada italiana que é uma jarra que vai pro fogão. “O carapanã do café já havia me picado. A essa altura, a minha avó – e vó, todo mundo sabe, ama café – já me pedia um café bem forte quando nos visitava”, relembra. Então, veio a febre das cápsulas e a família, rapidinho, comprou duas máquinas diferentes. “Comecei a ler manuais e as sugestões de consumo, notas aromáticas e de paladar e todos os etceteras”, garante. “Foi aí que engatamos mesmo um namoro sério: compreendi o café, passei a aceitá-lo sem açúcar; em troca, ele nunca mais me deu gastrite”.

Hoje, ele guarda em casa nada menos que seis cafeteiras. “Compro pacotes de grãos e moo na hora. O cheiro toma conta da casa, é fantástico! Normalmente, faço espresso numa DeLonghi simples e, aos sábados, faço cappuccino pra minha esposa. Também tenho duas prensas francesas, uma delas portátil pra levar para o trabalho, um cone daqueles de supermercado (melhor que cafeteira elétrica) e duas cafeteiras espresso de cápsulas”, orgulha-se.

O funcionário público diz que, além do diferencial do efeito estimulante, a bebida tem um cheiro único. “É maravilhoso, como o de nenhuma outra bebida no universo. Café é bom de tomar, mas simplesmente bom demais de cheirar”. O advogado opina sobre como tomar o produto. “Tomo café preto, puro, sem açúcar. Um café de excelente qualidade desce fácil e, mesmo sem açúcar, chega até a ser naturalmente adocicado. Mas qualidade e preço alto não andam necessariamente juntos. Há excelentes marcas no supermercado e cafés de grife em boutiques que não são lá isso tudo”, ensina. “Aliás, dica: café é pra ser tomado sem açúcar. Se for muito amargo, morda um doce antes, engula e em seguida fome um gole. O café estará automaticamente adoçado. Te pago um café se isso não funcionar”, brinca. “Café é minha cachaça. Não que o álcool não tenha sua vez, mas a paixão mesmo é pelo café, com a vantagem de ser algo socialmente aceito a qualquer hora e em qualquer lugar e não dar cadeia em blitz de trânsito”.

O segredo de uma boa cafeteria

Apesar de não ser um consumidor assíduo de Café, o chef de cozinha e sommelier Fabio Sicilia, sabe como aproveitar a bebida. “O que despertou meu interesse pelo café é a sua origem, que significava vinho. Eu estudava muito a bebida”, diz. Fábio afirma que, quando morou na Itália, consumia mais a bebida porque lá era mais fácil encontrar produtos que tenham os grãos misturados. “Um dos segredos está na mistura dos grãos, pra achar o ponto de equilíbrio é preciso misturá-los”. A harmonização dos grãos é chamada de Blends.

Fabio afirma que um dos problemas das cafeterias de Belém é guardar o produto exposto por muito tempo, devido à umidade relativa do ar. “O café delicioso é moído na hora, esse é o segredo”. Ele diz que o cliente pode observar a qualidade do produto nas próprias máquinas de café expresso. “Quando o líquido cai, deve fazer uma forma de S. Os bicos das cafeteiras de qualidade é ‘tortinho’, por isso, quando ele cai, a cremosidade permite que ele faça a curvinha de S. A consistência é importante também se o aroma está integro. Muitas vezes, se não sentimos o cheiro, o grão não é de qualidade, teve uma torrefação ruim, tem alguma falha no processo”, ensina.  O chef considera que um bom café deve ter mistura de 50% arábica e 50% robusta. “O mais importante: tome café no lugar onde você sinta o cheiro de café saindo do lugar”, complementa.

Uma bebida apoiada em lendas

Não há evidências reais sobre a descoberta do café, por isso, o produto é cercado de lendas. Uma das mais aceitas e divulgadas é a do pastor Kaldi, que viveu na Absínia [hoje Etiópia], há cerca de mil anos. Ela conta que Kaldi, observando suas cabras, notou que elas ficavam mais saltitantes ao comer um fruto de coloração amarelo-avermelhada dos arbustos existentes em alguns campos de pastoreio.

O pastor contou a um monge da região sobre a cena e ele decidiu experimentar o poder dos frutos. O monge apanhou um pouco das frutas e levou consigo até o monastério e percebeu que este, após ferver, ajudava-o a resistir ao sono enquanto orava e a notícia se espalhou rapidamente.

Da Etiópia, o fruto foi propagado pela Arábia. O nome café veio da palavra arábica “qahwa”, que significa “Vinho”. Por esse motivo, o café era conhecido como “vinho da Arábia” quando chegou à Europa no século XIV. Somente no século XVI, na Pérsia, os primeiros grãos de café foram torrados para se transformar na bebida que hoje conhecemos. A partir do século 17, o café começou a ser consumido na Europa. Os holandeses foram os primeiros a criar uma produção maior do fruto no continente.   Pelas mãos dos colonizadores europeus, o café chegou ao Suriname, São Domingos, Cuba, Porto Rico e Guianas. Foi por meio das Guianas que chegou ao Norte do Brasil.

O Pará foi pioneiro

Curiosamente, o primeiro registro do plantio no país, foi em Belém, em 1727, trazido da Guiana Francesa para o Brasil pelo Sargento-Mor Francisco de Mello Palheta a pedido do governador do Maranhão e Grão-Pará, que o enviara às Guianas com essa missão. Já naquela época, o café possuía grande valor comercial.

No século XIX, o café foi a grande riqueza brasileira, acelerando o desenvolvimento do Brasil e o inserindo nas relações internacionais de comércio, expandindo-se para o Estado de São Paulo, sul de Minas Gerais e Norte do Paraná.

Atualmente, o Brasil é o maior produtor mundial de café, sendo responsável por 30% do mercado internacional. De acordo com dados estatísticos elaborados pela OIC – Organização Internacional do Café, a produção mundial na safra 2013 foi de 145,717 milhões de sacas de 60 kg. Já o consumo mundial, no ano de 2013, é estimado em 145,800 milhões de sacas. Desse total, o Brasil produziu 49,15 milhões de sacas. É a maior produção do mundo. O segundo lugar é do Vietnã, com 27,50 milhões de sacas.

A segunda estimativa para a produção da safra cafeeira (espécies arábica e conilon), divulgada em maio, indica que o país deverá colher em 2014 um volume de 44,57 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado. O café arábica representa 72,4% da produção total (arábica e robusta) de café do país. A produção do robusta, estimada em 12,33 milhões de sacas, representa um crescimento de 13,49%. O Pará é o nono produtor da bebida no país, com 121 mil sacas em 2013. O maior produtor nacional é Minas Gerais, com 22 milhões de sacas.

Tipos de Preparo

A adição de água quente ao café torrado e moído, produzindo então a bebida café, é um processo chamado de infusão e pode ocorrer por filtragem, percolação, prensagem ou pressão, sendo que cada um destes produz tipos de bebidas distintas.

Filtragem

O pó é acondicionado em um filtro, de papel ou de pano, com adição de água quente não fervente por cima. Esse método é muito utilizado na cultura brasileira de preparo, através de coadores caseiros e cafeteiras elétricas, dando origem ao tradicional cafezinho.

Percolação

Método no qual se coloca o pó de café no centro de um equipamento moka, que posicionado em um fogão faz a água entrar em ebulição e pressionar café líquido para um recipiente. É a forma mais utilizada para consumo de café na Europa.

Prensagem

Em um recipiente de vidro se coloca o pó de café misturado com água quente não fervente e, em seguida, introduz-se um filtro que é pressionado por um êmbolo que separa o pó do café já pronto para consumo. O método, que virou moda entre os norte-americanos, é conhecido como Prensa Francesa.

Pressão

Conhecido como café expresso, no preparo o café é moído na hora e acondicionado em um filtro que sofre uma pressão de água a 90ºC e 9Kg de pressão durante 30 segundos em média, gerando uma bebida cremosa e aromática. Criado pelos franceses, o café expresso é considerado o método mais apropriado para apreciação de todas as nuances dessa bebida.

Dicas para obter um bom Café

• Quanto melhor o café, maior é a extração e melhor o sabor da bebida.

• Veja a data de fabricação do café. Café recém-torrado tem mais sabor.

• O café moído se deteriora facilmente em função do ar, da umidade, do calor, do tempo e do contato

com odores estranhos. Por isso ele deve ficar acondicionado sempre distante desses riscos. Guarde o

café não utilizado em um recipiente com boa vedação, na geladeira.

• A água utilizada deve ser pura e limpa. Utilize sempre água filtrada ou mineral na preparação

do café.

• Prepare somente a quantidade de bebida que vai ser consumida imediatamente ou, no máximo,

durante a hora seguinte.

• Use a medida correta. Utilize de 80 a 100 gramas de pó (aproximadamente 5 a 6 colheres de

sopa) para 1 litro de água. Se a bebida resultar sem sabor, aumente a quantidade de café. Se ela

ficar amarga, áspera ou desagradável, diminua o tempo de contato da água com o café, diminuindo

a quantidade do pó.

• A água utilizada deve ser apenas aquecida - não pode ferver, pois a perda de oxigênio altera a

acidez do café. A temperatura ideal de preparo é próxima dos 90ºC.

O Consumo Nacional

• O Brasil é o segundo maior mercado consumidor de café do mundo. Em 2013, de acordo com a ABIC,

o consumo interno ficou em 20,08 milhões de sacas.

• Os maiores consumidores mundiais são os Estados Unidos, com uma média anual entre 21-23 milhões

de sacas/ano.

• Na avaliação da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), as vendas do setor em 2013 devem ter atingido R$ 7,3 bilhões.

• O consumo per capita em 2013 foi de 4,87 kg café torrado/habitante-ano (6,09 kg de café verde/habitante-ano)

• O número de máquinas de café expresso domésticas ultrapassam 850 mil unidades, conforme levantado pela Kantar Worldpanel em final de 2012. E os novos tipos de equipamentos para preparação de cafés filtrados, em sachês, por exemplo, ultrapassam as 300.000 unidades.

• O consumo de café se dá majoritariamente na classe C (53%), embora todas as classes sociais consumam o produto.

• O tipo de café mais consumido é o coado, servido no lar durante o desjejum, em 35% dos casos, enquanto o café expresso é a preferência nas demais ocasiões.

• O café ganha cada vez mais espaço nos canais de distribuição fora do lar, como as cafeterias, os restaurantes, hotéis e lojas de conveniência, além das panificadoras, que são em mais de 60.000 no país.

• O segmento de cafés finos e diferenciados, embora represente a menor parte do consumo, continua apresentando taxas de crescimento de 15% a 20% ao ano.

O Café pelo Mundo

França

O produto, muitas vezes, é bebido juntamente com chicória;

Áustria

Pode-se beber o produto juntamente com figos secos, sendo que em Viena, a capital do país, é uma tradição o oferecimento de bolos e doces para acompanhar o café com chantilly;

África e Oriente Médio

É comum acentuar o sabor do café com algumas especiarias, tais como canela e cardomomo, alho ou gengibre;

Bélgica

O produto é servido com um pequeno pedaço de chocolate, colocado no interior da xícara, que se derrete quando entra em contato com o café;

Itália

A preferência é pelo café expresso servido em xícaras pequenas;

Grécia

O café é acompanhado por um copo de água gelada;

Cuba

O café é consumido forte e adoçado, e em um só gole;

Sul da Índia

O café é misturado com açúcar e leite e servido com doces;

Alemanha

Em algumas regiões é servido com leite condensado ou chantilly;

Suíça

Adiciona-se ao café um licor, o “kirsch”;

México

Em muitos lugares, o café é oferecido gratuitamente e pode ser consumido em grandes quantidades. O chamado café americano, como é conhecido no México, é o mais consumido e é uma cópia do que se bebia até poucos anos nos Estados Unidos: aguado e com pouco sabor.

Mais matérias Especial

publicidade