Os olhos da irmã Silvanisa Barbosa passaram a segunda metade do mês de abril marejados. Lágrimas de alegria. Não à toa. A religiosa, militante de décadas no trabalho de assistência social, foi presenteada, na manhã de 19 daquele mês, com um mimo significativo: a Casa do Menino Jesus III, entidade que comanda no auxílio a famílias que lutam para vencer o câncer, com um antigo prédio desativado de 420 metros quadrados, totalmente reformado. Após dois anos de uma empreitada que uniu forças da Construtora Leal Moreira, PDG Incorporadora e Banco do Estado do Pará (Banpará), a integrante da Congregação “Obra das Filhas do Amor em Jesus Cristo” pôde agradecer. “Quando chegamos aqui, não tínhamos dinheiro sequer para comprar uma saca de cimento. Agora vemos este belíssimo trabalho, uma obra que vai ajudar tantas pessoas na luta contra o flagelo da doença.”
Corte para o final dos anos 1990. A religiosa Silvanisa Barbosa, 64 anos e uns poucos alfarrábios na mochila, desembarca em Belém com uma missão: repetir o sucesso do trabalho assistencial junto às crianças do município de Colares, no nordeste do Estado, e ir além: fundar, na capital, a versão número três da Casa do Menino Jesus, entidade sem fins lucrativos de apoio a meninos e meninas acometidos pelo câncer, uma iniciativa que já contava com Brasília e Fortaleza como pioneiras no país. Conversa daqui, negocia dali, não demorou muito para a irmã e suas companheiras chegarem à diretoria do Hospital Ophir Loyola, referência em tratamento oncológico na região norte do país; tardou menos ainda e o aluguel de uma casa anexa ao prédio do hospital, na travessa 14 de abril, já estava costurado. Ali, munidas de boa vontade e pouquíssimos recursos, as religiosas deram início ao trabalho de assistência aos enfermos. “Lá, foram quatro anos de um trabalho feito na base de doações e ajuda de terceiros. Apesar das dificuldades, conseguimos apoiar pessoas vindas do interior e vencemos várias batalhas contra a doença, oferecendo o amor e o apoio espiritual que essas famílias precisavam.”
A repercussão dos resultados da Casa do Menino Jesus III na capital e no interior, como era de se esperar, gerou uma demanda maior, deixando claro para a religiosa que o espaço na 14 de abril, mais cedo ou mais tarde, não abarcaria mais o serviço, ampliado para o atendimento de crianças e adolescentes em recuperação de problemas renais e cardíacos. A alternativa veio em um dos muitos passeios da religiosa pelas redondezas do Ophir Loyola: um prédio situado na travessa Castelo Branco, entre Gentil e Conselheiro Furtado, pertencente à União e antiga sede da Superintendência Nacional de Abastecimento (Sunab). Abandonado há alguns anos, o local apresentava, em termos de espaço, o necessário para o incremento na assistência às famílias. “Negociamos durante um ano e quatro meses com o governo federal antes de nos mudarmos para lá. Como o prédio estava abandonado, investimos do nosso próprio bolso e reformamos as dependências nos fundos do prédio, onde funcionávamos até que a Leal Moreira, a PDG e o Banpará nos oferecessem ajuda para a reforma do prédio.”
Antes e depois: Quarto/ Antes e depois: Frente |
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Sensibilidade
O gaúcho Paulo Machado trabalha como voluntário da Casa do Menino Jesus III desde os primórdios da iniciativa. Diretor Executivo do Grupo Leal Moreira, foi ele o responsável por apresentar o projeto aos colegas. Não foi preciso muito esforço para convencer a todos da importância de usar o prestígio do grupo para apoiar iniciativas do gênero. “A Leal Moreira é uma empresa que preza pela responsabilidade social. Para nós, é uma forma de estarmos ativamente envolvidos na contribuição para atenuar os problemas sociais.”
A reforma da Casa do Menino Jesus III foi tocada em parceria com a PDG e o Banpará, que dividiram os custos e a responsabilidade de estabelecer parcerias para a viabilização do serviço. Além de parte do financiamento, a construtora também assumiu o controle da obra e articulou a partici
pação dos parceiros, arquitetos e fornecedores. “Além disso, com a aproximação que ocorreu e o entusiasmo todo, os próprios funcionários da construtora passaram a dar sua contribuição pessoal e espontânea ao trabalho da casa”, reforça.
Antes e depois: Quarto / Antes e depois: Capela |
No total, foram oito arquitetos e 59 parceiros envolvidos. O resultado deixou orgulhosos tanto os profissionais quanto a direção da Casa. Após dois anos de trabalho, a entidade renascia com um espaço ampliado para oito ambientes – entre sala de estar, dormitórios, brinquedoteca, consultório médico e até uma capela. Um resultado final caprichoso e digno da grandeza do trabalho realizado pela instituição, que hoje recebe, com muito mais aconchego, famílias oriundas de todas as partes do Estado. “Ficamos muito felizes em ter contribuído, pois sabemos o quanto é sério e importante o trabalho realizado por eles. Muitas pessoas serão beneficiadas, agora com mais conforto e alegria. Isso é o que vale quando participamos de projetos e ações como esta: doar o que temos para fazer um pouco melhor a vida daqueles passam por momentos difíceis”, diz a arquiteta Heluza Sato.
Como um espaço de acolhimento – denominação preferida por irmã Silvanisa -, a Casa do Menino Jesus III apresenta uma rotatividade grande de hóspedes, cujo período de permanência varia de acordo com as necessidades dos tratamentos individuais, feitos em instituições especializadas no combate aos problemas. Hoje, é possível que as mães – por regulamento interno da Casa, as únicas autorizadas ao acompanhamento - permaneçam ao lado de suas crianças com a certeza de que precisarão oferecer apenas aquilo em que costumam ser as melhores: paciência e amor.