A vida começa aos 50!

A sabedoria e a tranquilidade das pessoas que já passaram dos 50 anos fazem diferença no modo de olhar (e viver) a vida.

17/06/2015 17:55 / Por: Flávia Ribeiro. Fotos: Dudu Maroja
A vida começa aos 50!
 
 
Em meados de março deste ano, a revista norte-americana People divulgou a edição mais aguardada do ano: a que elege as pessoas mais bonitas do mundo. Sandra Bullock, aos 50 anos, levou o primeiro lugar do pódio. À época, segundo o site da revista, Bullock disse não se levar muito a sério quando se trata de sua aparência. A atriz contou que apenas riu quando soube que havia sido escolhida. A vencedora do Oscar [por “Um sonho possível”] afirmou ainda que “o que é bonito é a honra de ser a mãe do Louis” [menino adotado por ela, em 2010]. “A beleza verdadeira é discreta”, finalizou. 
 
A lista é polêmica, já que padrões de beleza variam bastante e beldades do quilate de Gisele Bündchen e Sophia Loren ficaram de fora, mas serviu para chamar atenção a uma mudança de padrões: hoje, as mulheres e homens mais maduros, estão mais bonitos do que “suas versões” mais jovens. Tem dúvidas? Vá em frente e experimente olhar ao seu redor.
 
Longevidade e qualidade de vida
Não faz muito tempo que a expectativa de vida do brasileiro era de 50 anos de idade. Chegar na quinta década de vida era uma questão de esperar pelo fim... Mas isso mudou. E muito! Os cinquentões do século XXI querem viver, por muito mais tempo e na segunda metade da vida ainda estão dando os primeiros passos em direções novas. Mas agora contam com sabedoria que só é adquirida com os anos para driblar as dificuldades enfrentadas pelos mais jovens e para viver um eterno recomeçar da vida.
 
 
O empresário Carlos Moreira é desses que não se arrependem de ter desistido de planejar a aposentadoria para começar uma nova atividade. Ele começou sua vida profissional aos 12 anos de idade, ajudando o pai no armazém de estivas da empresa da família, no Porto do Sal, e nas embarcações [os regatões] também da família, pelos rios do interior do Pará. Em 1967 fundou, com seu sócio, Rogério Fernandez Filho, a AZPA - Azulejo do Pará SA, implantada em Ananindeua. Durante o processo de aprendizagem da manufatura do azulejo, começou a ter contato com a mineração e com a legislação mineral brasileira. Os anos foram passando, a vida se encaminhava tranquilamente, mas aos 50 anos de idade Moreira se reinventou e decidiu, juntamente com os filhos, fundar a Construtora Leal Moreira. Numa época em que, aos cinquenta, os homens já pensavam em aposentadoria.
 
“Nós tínhamos esgotado nossas possibilidades de crescimento na mineração, apesar de termos uma empresa de grande porte. Era uma fase sem apoio governamental para desenvolver a mineração em São Félix do Xingu. Nós tivemos que mudar de ramo e fomos para a construção civil, abrindo a Leal Moreira em 1986”, relembra Moreira.
 
Para começar a caminhar no ramo da construção civil ele conta que além de não encontrar dificuldades, ainda teve fundamental parceria da esposa, Cassilda, que sempre se manteve ao seu lado, e a ajuda dos filhos Maurício, que cursava engenharia; João Carlos, que era formado em economia e André, que estava começando a cursar Engenharia. Ou seja, toda a família “botou a mão na massa”. “Na verdade, tudo é trabalho. Nenhum trabalho me assusta. Sempre tive por norma e costume me dedicar ao que eu fazia. Fazer bem feito em qualquer situação, tanto na navegação, na mineração ou na engenharia. Tudo é trabalho. O importante é sempre tentar fazer o melhor. Isso sempre foi a nossa norma. Desde o princípio eu tive facilidade em me relacionar bem com os clientes e esse costume eu trouxe para a construtora”, analisa o empresário.
 
Passados quase 30 anos à frente da construtora, ele fala que os planos para o futuro não param. “Vou fazer 78 anos este ano e espero não parar de trabalhar nunca. Sempre que puder eu vou atender pessoas e clientes. Isso está na minha essência”, revela. E quando perguntamos se ficou algum arrependimento por ter largado a possibilidade de já estar curtindo a aposentadoria, ele é categórico: não!
  
Experiência e foco
Arrepender também é um verbo pouco conjugado por Maria de Jesus Fernandes, a Jê. Se alguém falasse tudo o que aconteceria, ela talvez nem acreditasse. De uma vida mais ou menos estabilizada, morando em um confortável apartamento no centro da cidade. Ela começou um novo trabalho há uns anos e agora mora em um condomínio no bairro da Marambaia. “Eu não me arrependo. Eu gosto do meu trabalho. Morar aqui também é muito bom, é longe do centro, mas de carro consigo fazer tudo. E aqui há muitos serviços à disposição. No condomínio há mais espaço para os meus netos. A vida está muito boa, só posso agradecer”, comemora.
 
Ela é contadora por formação, mas trabalhou por uns meses e viu que essa não era a carreira que ela abraçaria pela vida. Depois disso, começou a trabalhar com artesanato, pinturas de telas, confeccionar sacolas, bolsas e a vida foi passando... Ela tinha uma cliente fixa que comprava suas bolsas e as revendia, mas começou a sentir a necessidade de liberar um pouco mais da sua criatividade e depois dos 50 anos começou a fazer doces. “Eu gosto muito de criar, decidi pela confeitaria e depois fui fazendo cursos e aulas. Eu olhava aqueles bolos tão bonitos nas festas e não pensava que eu também poderia fazer algo tão bonito, mas já estou com clientes fixos e não me falta trabalho”, afirma.
 
Na verdade, a ideia original era de abrir uma loja de cupcakes na cidade de Tucuruí, onde mora a filha mais velha, mas as coisas não saíram como ela pensava. Mas o revés nos planos também não fez com que ela esmorecesse. “Não tive medo, sempre que eu acho que devo mudar, eu meto a cara e enfrento o que vier. Então, eu não tenho medo, faço o que tiver que fazer”. E assim, aos 55 anos de idade ela se tornou uma microempreendedora individual e acha que a idade ajudou muito no processo. “Quando somos mais novas perdemos tempo com coisas desnecessárias, com mais idade, temos mais experiência e isso ajuda a focar no que é mais importante”, opina.
 
Existe vida amorosa após tanta estrada
Após a aposentadoria e já com todos os filhos crescidos, educados e empregados, a jovem (“de cinquenta e tantos anos”) Clemência Valente descobriu na maturidade os prazeres do amor. “Um novo amor é realmente recomeço: as emoções estão guardadas, mas aos poucos e timidamente, vão aflorando. Encontrar alguém que não se limita aos padrões de beleza atuais nos estimula a acreditar que realmente o amor existe, que não tem forma, receita, mas tem cor e vida”. 
 
 
Simpática, ela em momento algum deixou o sorriso sair do rosto, para total admiração das filhas. A poesia voltou à vida depois de muito tempo. “Uma vida que nos redescobre todos os dias... E aí, parafraseando Quintana, ainda bem que inventaram o calendário, onde cada segunda-feira, cada dia 1º do mês ou cada novo ano nos dá a oportunidade de sentir que estamos fazendo um novo começo”, filosofa sob risadas e o estômago cheio de borboletas.
 
Realizando sonhos em todas as idades
A psicóloga Giane Souza fala que a idade não deveria ser um fator impeditivo para que as pessoas busquem fazer mudanças de vida, como realizar novos negócios, novos amores, novas possibilidades de vida. “Ainda, encontrarmos pessoas que veem na idade um fator impeditivo para as mudanças de hábitos ou mesmo para atingir novas metas, essas barreiras não estão ligadas à idade, mais à concepção de mundo e à formação da subjetividade de cada indivíduo”, afirma.
 
Ela explica que ao contrário do que essas pessoas pensam, a idade, muitas vezes, traz maturidade e isso é um fator que coloca os cinquentões à frente dos mais jovens. “Isso proporciona uma nova leitura diante dos obstáculos e passamos a eleger novas prioridades e a traçar novos caminhos mais conscientes e seguros”, explica.
 
Mas para quem quer mudar de vida, a idade é só um número, o mais importante é ter um bom conhecimento de si mesmo, saber o que realmente se deseja e, é claro, a capacidade de continuar sonhando. “No mundo de possibilidades que vivemos hoje voltar a ser protagonista dos seus sonhos e desejos é importante para nos tornarmos confiantes, não para provar às outras pessoas, mas a nós mesmos que somos capazes sim, de realizar nossos sonhos”, declara a psicóloga.

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