O mito que narra o nascimento do amor é riquíssimo.
Havia um banquete para os deuses e entre eles se encontrava Poros, filho da Prudência, astuto, prodigioso sempre em busca da beleza. Dotado de fartos recursos e incansável nas aventuras.
Durante o banquete, já embriagado, ele vai dormir no Jardim de Zeus.
Pênia, a Penúria, sempre carente e em estado de mendicância, quando encontra Poros, desejosa de um filho seu, deita ao seu lado e concebe EROS, o Amor.
Eros, assim, estará marcado para sempre por essa ambivalência entre Abundância e Mendicância. Será fogo, paixão, mas, também frieza, abandono, brevidade e eternidade, como escreveu Vinícius de Moraes:
"Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama.
Mas que seja infinito enquanto dure."
Versos do amor eterno em sua brevidade, ou que tenha um fim que não finda porque vale por si só e em si é completo. Presença e falta. Chegada e partida, saudade.
Eis aí algo inerente à vida sem o qual vida não há. - Drummond é magnifico:
"Que pode uma criatura senão
Entre criaturas, amar?
Amar e esquecer, amar e malamar
Amar, desamar, amar?
E o que dizer do amor não correspondido, que não deixa de ser amor, mas, como amor não se revela, embora fique, ame e desame. Leiam Cecília Meireles:
"Nunca ninguém viu ninguém
que o amor pusesse tão triste.
Essa tristeza não viste,
e eu sei que ela se vê bem."
Neruda é genial:
"Te amo sem saber como,
nem quando, nem onde,
te amo diretamente
sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque
não sei amar de outra maneira."
Amo porque amo. Porque algo me falta e não sei o que é. Sei sem saber o que me falta. Assim, amo dum jeito que é meu, de cada um, de modo a ficar-nos faltando sempre algo que Poros procura e que Pênia mendiga.
Vejam como é lindo o Mito: Eros que será acompanhante de Afrodite habita em nós e nos fará desejar o belo, mas, traz consigo Pênia e os limites da experiência humana.
Deixando os deuses e os poetas, voltemos ao chão com este aprendiz do verso:
Se houvesse um só modo
Era assim que eu te amaria.
Mas te amo de modo vário.
Te amo quando não te amo,
De amor tanto,
Que nem o amor sabe.
Depois te amo
Duas vezes mais com o amor
Com o qual antes não te amei.
Te amo ausente que é quando
Te penso, desvairado e louco
Amando sem te amar.
E quando te amo
Te amo com todos os amores
Sem saber se te amo, amando.
E sem saber como mais dizer
Te amo de amores desconhecidos
Que descubro só quando te amo.
Crônica do colunista do Portal LiV, Marcelo Magalhães.