Além das fronteiras

Fafá de Belém e o bonito desafio de mostrar o Círio para o resto do país

26/09/2011 16:47 / Por: Camila Barbalho - Fotos: Diego Ventura
Além das fronteiras
 
Com os olhos cheios de lágrimas, Fafá de Belém começa a falar: “a luz muda, a atmosfera é diferente, as casas se abrem, nossa herança portuguesa se reflete nas toalhas rendadas nas mesas... Ninguém resiste ao Círio”. Esse sentimento, tão comum e presente no imaginário coletivo paraense, pode ser difícil de traduzir aos olhos externos, que nunca vivenciaram pessoalmente o clima da festa. E foi pensando nisso que Fafá reuniu-se com Dom Alberto Taveira na Cúria Arquidiocesana de Belém, na última sexta-feira (23), para apresentar um projeto novo: a criação de um camarote para receber formadores de opinião e deixá-los respirar o Círio bem de perto, com o desafio de transmitir as emoções vividas para fora das fronteiras do estado.

Serão 40 pessoas, entre jornalistas, artistas plásticos, teólogos e convidados ilustres (como o presidente do turismo português, Paulo Machado, o Padre Fábio de Melo e o ator Eriberto Leão, que viveu Jesus na Paixão de Cristo em Pernambuco) que terão a missão de emprestar suas visões ao sentimento no qual o Pará inteiro está imerso e traduzir essas impressões para quem nunca assistiu à procissão. “O camarote não tem nada a ver com carnaval. Estarão nele pessoas que têm pertinência e podem reproduzir a nossa cultura com respeito, amor e talento”, resume Fafá.

A ideia, que surgiu há mais de dez anos, encontra amparo em uma conclusão muito simples: não dá para traduzir o Círio. “Se você for explicar para um jornalista, ele não vai entender do que se trata. E pra nós é tão natural que já estamos acostumados, mas quem vem de fora não. É preciso que o Círio seja cada vez mais falado por nós”, acredita. “Por isso essa necessidade de trazer pessoas que com a sua arte aproximem o Círio do resto do país e do mundo. Estamos fora do eixo dos acontecimentos e isso precisa ser mudado”.

O camarote, que recebeu o nome de “Bom dia Belém”, em homenagem à bela canção de Adalcinda Camarão e Edyr Proença, receberá as redações dos maiores e mais importantes veículos brasileiros de comunicação. “O Círio é isso mesmo”, justifica Fafá. “É abrangente; ele agrega e a todos alcança. Por que na mídia seria diferente? Assim, conseguimos abrir um leque pra quem lê de revista de celebridade aos editoriais dos semanários políticos”.

Dom Alberto Taveira abençoou a iniciativa e demonstrou estar entusiasmado com a ideia. “Fiquei muito impressionado com o projeto da Fafá. Isso vai nos ajudar a mostrar de um jeito mais completo o que é essa manifestação religiosa, que inclui ainda aspectos culturais e sociais muito fortes”. E complementa: “o Círio é uma força única, então quando a gente encontra um artista paraense que nos ajude não só a divulgar como também a compreender a grandeza que nós temos, isso é um presente de Deus”. Fafá também se empolga: “se não estivéssemos tão acostumados com o Círio, entenderíamos melhor que nenhuma procissão é tão poderosa quanto essa”. Quando questionada em relação à continuidade do projeto, ela é taxativa: “só preciso de duas coisas: Deus querer, e a Nazoca disser ‘ok, gostei, ano que vem eu quero mais’”, encerrando a conversa com a deliciosa gargalhada que lhe é peculiar.

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