Os podcasts vieram para ficar

03/11/2020 13:20 / Por: Elck Oliveira fotos: Dudu Maroja/Divulgação
Os podcasts vieram para ficar

Em novembro do ano passado, a plataforma de streaming musical Spotify – uma das maiores e mais importantes do mundo – realizou, em São Paulo, o Spotify for podcasters summit, o primeiro evento do gênero promovido pela empresa no mundo todo. Na ocasião, a companhia declarou que havia escolhido o Brasil para a ação pela importância do mercado brasileiro de podcasts. Segundo o Spotify, o País é o segundo maior consumidor do formato no globo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

 

Também no ano passado, alguns meses antes, o Ibope Inteligência havia realizado uma pesquisa que já apontava essa tendência. Segundo o levantamento – o mais recente que se tem do tipo no Brasil – quatro em cada dez internautas já ouviram podcasts pelo menos uma vez na vida, número quase equivalente ao registrado em pesquisa semelhante nos Estados Unidos, onde cinco em cada 10 internautas já ouviram o formato. 

 

Tais dados sugerem que o podcast realmente parece ter vindo para ficar. É cada vez maior o número e a variedade de opções para quem busca esse tipo de meio de comunicação, informação e entretenimento. A estudante do curso de Direito, Fernanda Guerreiro, moradora de Belém, por exemplo, é uma aficionada. Ela conta que não lembra ao certo em que momento começou a ouvir podcasts, mas recorda que foi atraída pela praticidade do formato, já que podia conciliar a escuta com outras atividades, como tomar banho, dirigir, etc. 

 

“Comecei com um podcast religioso, depois passei para os jornalísticos até chegar àqueles que tratam da área que eu estudo, que é o Direito, os temas jurídicos. Acho que mesmo com o tempo curto e a vida corrida, temos que nos manter bem informados”, explica.

Para Fernanda, ouvir os tais programas, hoje, é parte da rotina. Todos os dias, ela escuta pelo menos um. Atualmente, diz estar viciada no podcast do escritório de advocacia Fonseca Brasil, especializado no atendimento a empresas e com unidades no Pará (sede) e no Amapá e em São Paulo (filiais). “O que eu mais gosto no do Fonseca Brasil é que ele traz noções que são de extrema relevância para o exercício da advocacia, a profissão que eu pretendo seguir. Não são apenas decisões de tribunais e questões factuais, mas também informações dos bastidores da profissão, informações que, muitas vezes, não obtemos nos outros podcasts da área jurídica, além de ter um formato descontraído, que cativa o ouvinte”, aponta.

 

Direito mais acessível 

Um dos sócios do escritório, o advogado Jean Paolo Simei e Silva – mestre e doutor em Direito Tributário – explica que o escritório nasceu em 2008 e que ele é composto por um time renomado, em que cada sócio tem sua expertise, nas áreas tributária, cível, trabalhista, previdenciária, ambiental e logística, destacando-se como um dos escritórios mais admirados do Brasil, segundo a publicação Análise Advocacia 500, edição de 2018. Ele diz que a ideia do podcast surgiu a partir de conversas com amigos e clientes, que comentavam sobre a dificuldade de compreender expressões “excessivamente técnicas”, que, muitas vezes, mais confundem do que esclarecem os debates. “Pensamos que o tratamento de temas cáusticos, mas de uma forma mais simples, direta e informal, poderia contribuir para o debate jurídico para todas as camadas da população”, observa.

A partir dessa diretriz, os sócios passaram a escolher os temas que seriam tratados nos programas, também a partir das sugestões de amigos, clientes e alunos, já que alguns dos sócios também lecionam em cursos superiores. “Num momento em que a palavra falada se torna tão importante quanto a palavra escrita, o podcast mostra-se uma ferramenta imprescindível para a disseminação rápida, simples e extremamente eficaz na divulgação de ideias e diálogo, haja vista que muitos ouvintes trazem questionamentos, sugestões e críticas pelo e-mail do escritório, o que nos têm levado a mudanças e melhorias constantes”, completa Jean Paolo. 

O também sócio do escritório, o advogado Gustavo Freire da Fonseca, especialista na área do Direito Público e presidente da comissão de Direito Societário da OAB/PA, também ressalta o aspecto inovador da ferramenta. “Nosso escritório tem procurado se colocar na vanguarda das novas tecnologias, das novas formas de comunicação com a sociedade e com os clientes, assumindo essa postura mesmo. Nossa intenção é levar informações, dados e experiências para cada cidadão, cada ouvinte. Queremos que as pessoas possam entender sobre temas que, muitas vezes, podem parecer complexos, mas que por trás de um emaranhado de leis, na verdade, são palpáveis, inteligíveis e acessíveis a todo mundo”, observa. 

 

podcast do escritório Fonseca Brasil – que tem como outros sócios os advogados Eduardo Brasil (mestre em Direito pela PUC/SP) e Adelvan Oliverio (Doutor em Direito pela UFPA) – está disponível para download nas plataformas da Apple, Spotify e Deezer.

 

                                                                                                                                                                                                                                                                                                      

                                                                                                                                                                                                                                                                                                   

 

                                                                                                                   

 

 

 

Tecnologia e comportamento 

A publicitária Cintia Macêdo, de 31 anos, também acredita que o caminho dos podcasts não tem volta. Há dois anos, ela comanda, sozinha, o PudimCast, um podcast paraense que trata de temas voltados para o universo da tecnologia e comportamento. 

Ela conta que fazia parte da equipe de um site de cultura quando sugeriu a criação de um podcast, ainda em 2014. O projeto só foi posto em prática em 2015 e, até 2016, ele foi atrelado a dois sites diferentes. Em 2017, ela saiu do projeto e relançou o podcast em 2018, mas, dessa vez, de forma totalmente independente, com site próprio, inclusive. 

“Quando integrei as equipes desses sites, eu já fazia tudo, desde levantar a pauta até editar, mas, como eles ficaram atrelados aos sites, eu perdi todo o conteúdo quando me desliguei das equipes. Hoje, o PudimCast tem site e redes próprios e sempre sou eu que desenvolvo tudo”, explica. 

Para Cintia, que nunca tinha ouvido um, quando começou a produzir o formato, o público de podcasts cresce a cada dia. Segundo ela, começar um é mais fácil do que montar um canal no Youtube, por exemplo, já que basta um celular e internet, embora também se possa fazer de maneira mais profissional. “A parte técnica dá um pouco mais de trabalho, então também é possível terceirizar algumas partes da produção. O mais importante é ter a ideia na cabeça e fazer um planejamento bem redondinho para o formato: esse planejamento vai nortear o conteúdo, formato e outros detalhes da produção”, ensina.

A jovem, que junto com alguns amigos, criou o coletivo “Podcasters Paraenses” – que realiza encontros entre produtores e ouvintes para discutir assunto relacionados ao tema –  acaba de ser convidada para palestrar sobre podcasts na “Campus Party Amazônia”, evento realizado em Manaus, entre os dias 18 e 22 de março. 

“A Campus Party é um dos maiores eventos sobre tecnologia do país e me senti muito honrada por poder falar desse assunto que tanto gosto. Em minha palestra sobre ‘Podcast & Liberdade - Criação, Produção e Distribuição de Conteúdo por Todos e para Todos’, abordo a liberdade quase infinita que o podcast proporciona, desde a possibilidade de se criar conteúdo sobre qualquer assunto, e com qualquer equipamento, até a distribuição que foge dos algoritmos das redes sociais que conhecemos hoje em dia”, finaliza. 

Mamilos

Outro podcast que surgiu em 2014, na esteira das eleições presidenciais, foi o Mamilos, das publicitárias Juliana Wallauer e Cris Bartis, sediadas em São Paulo, onde os programas são produzidos. Hoje, o Mamilos conta com mais de 1,5 milhão de plays ao mês e mais de 240 programas online disponibilizados gratuitamente. Na mesa de debates, os assuntos mais quentes do momento, sempre com participações de especialistas das mais diversas áreas e pontos de vista. “Tudo isso envolve um trabalho de bastidores enorme e infinito, muitos profissionais envolvidos e muita consciência da nossa parte sobre o nosso propósito”, explica Cris Bartis. 

Segundo a publicitária, o cenário de podcast mudou muito nos últimos dois anos. Muitas mídias e plataformas decidiram investir no mercado, a exemplo do próprio Spotify e grupo Globo. “O Spotify, por exemplo, está fazendo um grande investimento em duas frentes: ser reconhecido como uma plataforma estratégica para os criadores e converter sua base de usuários para escutar podcast. Outro exemplo é a Globo, o maior e mais influente grupo de comunicação do país. Esse ano a empresa decidiu enfim que a mídia estava madura e era o momento de investir pesado para ser líder também em podcast. Além de lançarem seus produtos, estão dando espaço nos principais programas de TV para educar seu público e organizando eventos para apresentar os dados de mercado para os anunciantes e agências”, argumenta. 

 

 

Para 2020, as criadoras do Mamilos pretendem investir na sofisticação dos produtos. “Queremos continuar aprendendo e trazendo pessoas que admiramos para mais perto. Queremos ser cada vez mais influentes e queremos que a autoridade que construímos possa ser traduzida em negócios que nos possibilitem fazer produções cada vez mais sofisticadas. Queremos ter autonomia para fazer conteúdo do nosso jeito, à nossa maneira, com a nossa voz e a nossa visão”, conclui. 

 

Mais matérias Especial

publicidade