São 9h45 da manhã no sábado do dia 16 de março. A colorida sala de Paulo Maia ainda está vazia. Em uma estante no canto da sala, estão expostos vários e pequenos instrumentos musicais. Do outro, em outra estante, dezenas de livros e discos infantis, próximos a um aparelho de som. No centro da sala, um enorme e confortável tapete de diversas cores formado por peças, como um grande quebra-cabeça.
É nesse espaço que, em quinze minutos, Paulo irá receber seus “alunos”. E onde tudo começou para o professor, de 29 anos, que também é músico arte-educador, pesquisador, palestrante e educador musical infantil. Em 2006, quando fazia especialização em Fundamentos em Musicoterapia, decidiu fazer a monografia de curso junto com a tia, professora e mestra Gilda Maia.
Daí surgiu a monografia intitulada “A Música e o Bebê: experiências e vivências”, concluída no início de 2007. A priori, o projeto foi feito em forma de oficina. No mesmo ano, eles decidiram criar a “Sala-Estúdio Irmãos Nobre”, que ganhou o nome de Cantinho Musical “Irmãos Nobre”, em homenagem a Helena e Ulisses Nobre – os Irmãos Nobre, famosos cantores líricos do período da Belle Époque, em Belém, e também tios avós da Profa. Ms. Helena Maia, avó de Paulo. “A nossa família é fundamentalmente de músicos”, lembra. “Aqui nessa sala, é onde aconteciam as aulas de música da minha avó, Helena Maia”.
Ali, que, até hoje, põe em prática as aulas de Musicalização para Bebês. Paulo diz que usa no espaço a metodologia criada pela pesquisadora Josette Feres, que estudou a iniciação musical, que pode ocorrer desde os primeiros meses do recém-nascido, desenvolvendo no bebê o prazer de ouvir e fazer música, além de estimular a ligação afetiva entre pais e filhos. Paulo então conheceu experiências no Sul e Sudeste do Brasil e decidiu trazer para Belém o projeto de musicalização para bebês. Nesse local, em um prédio localizado no coração do centro de Belém, ele conseguiu unir a teoria e a prática. Por todo o espaço, instrumentos podem se transformar em algo novo a ser descoberto. Um bocal de flauta, por exemplo, se transforma como em um passe de mágica, em um som de passarinho.
Além de especialista em Fundamentos de Musicoterapia, ele também se especializou em Práticas Pedagógicas em Educação Infantil e Séries Iniciais. Atualmente, durante a semana, ele divide seu tempo ainda ministrando aulas de música em dois grandes colégios particulares de Belém. Por isso, hoje, ele ministra o projeto apenas aos sábados de manhã, para crianças entre 01 e 06 anos de idade, com o apoio da mãe, Ana Cristina Maia. “Eu comecei a sentir a necessidade da rotina. A prática leva aos conhecimentos da escola e hoje a música está voltando para o ambiente escolar”.
As aulas
O primeiro a chegar, pontualmente às 10h, é Vinícius, de 1 ano e 3 meses. Sem nenhuma timidez, ele já chega explorando todo o espaço. Rapidamente, pega um pequeno bumbo e começa a batucar uma melodia que só ainda existe na sua imaginação de criança. Próximo, ele é observado pela avó e pela tia. “Achei um trabalho fabuloso. Meu filho é músico e ele decidiu trazer o filho aqui. Já queria conhecer o espaço e como os pais não puderam, resolvi trazer ele hoje”, explica Rosa Helena dos Santos, Psicóloga. Para ela, o trabalho já surte efeito no pequeno percussionista. “Ele fica feliz e já desenvolveu bastante, interagindo bem com as outras crianças”.
Cada sessão conta com uma média de 12 crianças. Somados aos pais (ou avós, tias, babás), a sala vira uma grande festa. Em um primeiro momento, Paulo recebe as crianças. Depois reúne elas em uma roda e começa a cantar músicas infantis populares. A sala, antes vazia, agora está lotada e barulhenta. Cada criança pega um instrumento e a cantoria continua. O professor aproveita para fazer contação de histórias, sempre interagindo com pais e filhos. E não para de chegar alunos.
Em dez minutos, a sala está completamente lotada. “As crianças interagem umas com as outras. A nossa ideia é que esta seja uma sala normal, onde todos possam se sentir bem aqui”, confirma o professor, entre uma canção e outra. “É um momento prazeroso estar entre as crianças e os pais. Aqui fazemos explorações dos instrumentos e a aula se transforma em um espaço para todos. Já até organizamos eventos, nas casas dos pais”. Cada criança pega um instrumento e uma miniorquestra está formada. Um pouco desconexa no ritmo, é verdade, mas o que vale é a brincadeira.
O trabalho já colhe frutos. Além da participação regular de músicos, como Nazaco e Yuri Guedelha, Paulo conta que recebe indicações de médicos para as suas aulas. “Por fazermos hoje um trabalho de referência, temos inclusive a indicação de pediatras”, conta, com uma ponta de orgulho. E as matrículas estão sempre abertas. “há uma rotatividade de crianças e sempre recebemos novos alunos”, confirma. “O nosso curso é livre, mas as pessoas ficam o período que achar necessário. Não são aulas seriadas, apesar de mantermos uma rotina”.
Os frutos
Mas, alguns acabam ficando por mais tempo. Como Helena, de 2 anos, que já participa das aulas há um ano. “A música já faz parte da vida dela”, lembra a advogada Fabiana Vieira, mãe de Helena. “E como ele já é professor da escola dela, achei que podia contribuir para essa formação. Ela tem um contato importante com a música, que entendo ser condição para o desenvolvimento crítico e a concentração. Ela foca em várias atividades e vai desenvolvendo melhor a atenção”, garante. Opinião compartilhada por Kátia Guerra, servidora pública, e mãe de Rafael, um ano. “É a quarta aula dele, mas desde a primeira, já mostrou como ele se entrosou logo com as outras crianças”, garante.
Maria Eduarda, 2 anos e 8 meses, é uma das mais espivitadas na sala. Portadora de Síndrome de Down, a pequena se empolga com o som dos instrumentos e faz questão de repetir, com as mãos, os movimentos das músicas. Para o pai, Lino Viveiros, engenheiro agrônomo e servidor público federal, essa interação dela com outras crianças é fascinante. “Conheci o trabalho através de um amigo. Vim aqui, conversei com ele e depois de ver que era um trabalho sério, vimos os benefícios que trouxe para ela”, diz. “Hoje ela é uma criança mais sociável e que gosta de brincar e ouvir música. A música é parte da vida dela”, completa.