Paixão verde e amarela

"Amigos, há um momento, na vida dos povos, em que o país tem de ser anunciado, promovido e profetizado"

16/06/2014 10:44 / Por: Fábio Nóvoa
Paixão verde e amarela
A frase, cunhada por Nelson Rodrigues, dá o tom da paixão que temos por futebol. Seu autor entendia [como poucos] a grandeza de ser brasileiro, de torná-la flagrante, indiscutível. E é inevitável não recorrer ao gênio Rodrigues em momentos como o que experenciaremos este ano: seremos os anfitriões da Copa do Mundo.
 
Sessenta quatro anos se passaram desde que o Brasil sediou, pela primeira vez, o maior e mais importante evento do futebol. Naquele inesquecível 1950, a nação inteira foi calada pelo Uruguai. Se isso nos desmotivou? Pouco provável, já que a seleção canarinho é uma das que mais colecionam o desejado título. Entramos em campo mais uma vez – cheios de expectativas e jogadas infalíveis. E é nessa atmosfera, totalmente envolvida e inebriada pelo espírito futebolístico, que a Revista Leal Moreira vestiu a camisa e entrou em campo. Afinal, bola na trave não altera o placar... 
 
“Gosto de futebol desde a barriga da minha mãe”

O empresário Cracin Kimmel, 44 anos, é um desses brasileiros viciados em esportes. Mas a paixão maior, diga-se, sempre será a “gorduchinha”, segundo o eterno locutor Osmar Santos. “Gosto de futebol desde que sai da barriga da minha mãe”, brinca. Ele não teve a influência paterna para gostar da bola – pois o perdeu aos 9 anos de idade –, mas os amigos da escola e as peladas de rua redimiram sua paixão. 
 
Ele torce pelo Atlético Ibirama, clube de Santa Catarina. Não sabe qual é? Pois é o que revelou o Leandro Damião, revela Cracin. Hoje, sofre pelo time no campeonato catarinense pela internet e TV a Cabo. Isso porque mora em Belém há 18 anos e já escolheu sua nova “casa”: o Paysandu. “Em 2001, fui ver um jogo entre Paysandu e Avai, na Curuzú. Aí, não teve jeito”. Kimmel vai sempre ao estádio e leva os filhos juntos: um rapaz de 14 e uma menina de 6 anos. “Eu compro camisa, levo pro estádio. Hoje, é meu filho que me cobra para ir ao estádio, então, tenho que levá-lo”, reitera.
 
Cracin tentou comprar ingressos para assistir aos jogos da Copa, mas não conseguiu, revela, desapontado. “Quando teve jogos da seleção em Belém contra o Marrocos, a Venezuela e a Argentina, eu fui ao estádio. Agora, em outros estados, não poderei ir”, diz. Mesmo assim, o ritual para torcer já está planejado. “Já tem a camisa, vou fazer um churrasco, convidar os vizinhos e participar desse momento sagrado”, avisa ele, que também irá torcer pela Alemanha, terra do avô. 
 
A Utopia da Bola

“Será que ele (ou ela) vai torcer pro meu time?”. É a angústia de um pai brasileiro de primeira viagem. Daí, ele resolve comprar uma camisetinha do clube de coração para a criança. E assim, nos anos seguintes, o filho é dogmatizado a “sofrer” por aquele escudo, aquelas cores, xingar o juiz e decorar os nomes dos jogadores (de todos, desde as categorias de base). 

E juntos vão ao estádio. Quando se é pequeno, o local parece um imenso coliseu, onde ele sobe as rampas com orgulho ou fica pendurado ali no colo do pai. Das arquibancadas, ele contempla aquela imensidão verde, cheia de gente. Ao redor, muito barulho, bandeiras, risadas e provocações. Ele vê o vendedor ambulante e não sabe se pede um picolé ou uma rosca amarela, dessas que grudam no céu da boca e tem o sabor da infância.
 
Aquele é o seu ritual de iniciação. Seu Bar Mitzvah esportivo. A anunciação da bola. Nada será como antes. O estadual vira embate, o Campeonato Brasileiro, um duelo sangrento de arena. Cada gol feito, cada lance perdido, cada impedimento dado é um teste para corações fracos e almas apaixonadas. Mesmo que seja a terceira rodada do estadual contra um time que você nunca ouviu falar. E haja desespero, ódio, lágrimas, mordidas na camisa, unhas roídas, cabelos arrancados, gargantas inflamadas.  Como é sofrido ser torcedor. Mas é uma catarse boa, dessas que a gente sente assistindo a um filme de terror. Um vício que nenhuma reabilitação é capaz de se fazer largar. 

Mas os anos passam, os filhos crescem, alguns mudam de time [mesmo sob ameaças fraternas]; outros, rezam no mesmo santuário clubístico montado no quarto do pai. Para essa religião, as quartas e domingos são dias sagrados. O técnico é o Deus e o diabo, dependendo do resultado. Os jogadores, os santos intercessores. 

A obsessão se espalha pelas ruas. Basta um campinho, uma bola e duas traves. Às vezes, nem isso. Garrafas, sandálias, latas e tijolos são improvisadas como o gol. Pode ser grama, areia, cimento, asfalto. Onde tem um grupo de crianças, há uma competição pedindo para ser feita, uma jogada de craque pronta para ser executada, mesmo sem os holofotes e os replays das câmeras de última geração. 

Existem, ainda, os peladeiros profissionais. Marca-se o compromisso, briga-se com a namorada (ou namorado, afinal, mulher também joga bola), “tira no par ou ímpar”, escolhe a equipe, começando pelos melhores. Os pernas-de-pau ficam pro final. Ou na “grade”. Ou viram juiz. Aqui, gritar e brigar são permitidos. Mas só ali dentro. Saiu da linha, tudo vira pagode. 

Se os ingleses inventaram o futebol, no século XIX, os brasileiros tomaram para si a alegria e o direito registrado em cartório de serem os melhores do mundo. “Ninguém é penta, só nós”, diz o brasileiro para o amigo argentino. E ninguém leva tanta gente ao estádio. Ninguém torce como nós. E não gosta de nossos times como gostamos. Quer dizer, podem até ser melhores em algumas dessas coisas, mas jamais vamos admitir isso. 

De todas as paixões brasileiras, o futebol é uma das maiores. Tema de mesa de bar, de gracejos entre rivais nas feiras livres, na portaria dos prédios, nos corredores dos escritórios, na laje da obra. Ninguém se mantém incólume aos bate papos sobre isso, mesmo que você não goste. Em algum momento, alguém vai perguntar seu time, seu palpite, sua visão de jogo ou vai lhe incluir na conversa a contragosto. Segunda-feira com os pós-clássicos então.... cada minuto e atuação de jogadores é reanalisado, ressignificado, reinventado. Seja FlaxFlu, GrexNal, SanxSão ou RexPa
Remo e Paysandu. Nada é capaz de descrever a sensação de um Mangueirão lotado, dividido, tomado. O paraense tem uma ligação umbilical com o futebol. Ele é fanático, possessivo, defensor ferrenho. Mesmo se um deles estiver lá embaixo da tabela. “Nós acreditamos”. São sonhadores. Carregamos uma utopia gigante que só um estádio gigante como o Edgar Proença pode aguentar. O torcedor paraente é imenso, do tamanho do seu estado. 
 
Chegou! É Copa do Mundo!
Agora, após quatro anos, vem o momento sagrado. O rufar das trombetas. A gênesis da bola. A Copa do Mundo. Aquele mês  quando ninguém na sua roda de amigos fala outra coisa. E você gasta metade do seu salário em figurinhas. E a outra metade em churrasco e cerveja. Se sobrar algum troco, esse irá para o tira-gosto. 

É tudo festa. Na rua, o “coletão” [vaquinha é para os fracos] para os enfeites. Um deleite para a criançada. O verde e amarelo pavimenta o asfalto e desliza pelos barbantes nos postes. Nas ruas, o look do dia é verde e amarelo. Ou a camisa do clube de coração. Ou do segundo time preferido. Os passos são apressados. O jogo já vai começar. 

Nos bares, restaurantes, hotéis, barraquinhas de água de coco, todos os olhos estão voltados para a televisão. Em casa, o sofá é pequeno para tanta gente. Dá tempo para um selfie igual ao do Oscar. Vai pro Instagram e pro Facebook. Só o cachorro e o gato não aparecem. Estão escondidos da barulheira das cornetas e dos gritos.

Quando a bola rola, o silêncio... de alguns segundos, é claro. Até o primeiro lance na área adversária ou erro daquele lateral que você não gosta. Por 90 minutos ou mais um pouco, é uma corrente de energias positivas, de um extremo a outro do país. A seleção venceu?. É hora de abrir mais uma latinha e acabar com aquela picanha que quase era esquecida na churrasqueira. Foi pros pênaltis? Não, pênaltis, não. Não pode, não pensaremos nisso!

Em campo, vinte e dois gladiadores espartanos. Uma batalha campal nos gramados Não há espadas, escudos e bigas. Há uma sede por marcar um gol. Dois. Três. Goleada pode, só não vale humilhar.  Japão, Irã, Camarões. Cada país aonde nunca fomos, mas já gostamos. Gostamos de torcer pelos mais fracos, mas também para as seleções dos nossos antepassados. “Meu tatatatataravô é espanhol, a Espanha é meu segundo time”. 
Gostamos de zapear os canais, ver vários jogos ao mesmo tempo. Marcar a tabela com caneta, rever os lances nos telejornais. Relê os mesmos lances nos jornais impressos. Escutar a narração estridente no rádio ou ir para a internet sacanear com os seguidores do Twitter. 

A Copa não distingue raças, credos, etnias. É um evento mundial para milhões, bilhões de pessoas. Uma chance única e global de revermos nossas atitudes e buscar a união sobre a terra, a paz para os torcedores de boa vontade. Exagerado? Talvez. Mas deixa eu pensar nisso agora, nesses tempos. Depois a gente volta à realidade. O apito final será dado, afinal. E só daqui a quatro anos de novo.


 
Enquetes

- Bruno Sobral [diretor comercial do Grupo Simões]
Acredito que o Brasil fará uma grande campanha, pois temos um time muito forte e equilibrado, tanto na defesa quanto no meio de campo e no ataque. O time jogando o que jogou na Copa das Confederações, teremos uma competitividade alta para o mundial na nossa casa. Vejo que teremos grandes candidatos à vitória da Copa - como Alemanha, pelo conjunto; Argentina, pela qualidade individual; e Itália, pela tradição. Mas para ser vencedora, a nossa seleção é a maior candidata. Acredito que vamos ser campeões, pois temos um grande time - e dentro de casa, com a nossa torcida junto, seremos mais fortes ainda

- Lia Sophia [cantora]
Eu torço muito para que a seleção brasileira ganhe o mundial e acho ela está preparada para isso. Infelizmente, estamos em ano de eleição e essa vitória pode “esconder” muitos problemas que precisam ser resolvidos no país... Sobre quem vai ganhar, preciso ser otimista - então, vai dar Brasil!
Arthur Dapieve [jornalista e cronista]
Acredito que a seleção brasileira pode se sair melhor do que se meramente somássemos seus valores individuais, que não são tantos assim. Para isso, contribuiriam o espírito de equipe que o Felipão sabe criar e a força da torcida empurrando o time. Não acho, porém, que isso seja o bastante para nos assegurar o hexa... Eu chutaria que a campeã será a seleção portuguesa.

- Daryan Dornelles [fotógrafo]
É boa a expectativa para a campanha da seleção! O Brasil, em qualquer Copa, é um dos favoritos - ainda mais jogando em casa. Quanto ao vencedor, temos boas seleções - Argentina. Alemanha, Espanha, Uruguai, Itália... todas com chance de levar.
Sérgio Ribeiro [diretor  comercial da Sky]
Sobre a campanha brasileira, posso dizer que estou otimista com a seleção, principalmente por jogarmos em casa. Quanto a quem vai ganhar o mundial, acredito que o Brasil será campeão.

- Luiz Felipe Scolari [técnico da Seleção Brasileira de Futebol]
São seis jogadores que têm experiência na Copa do Mundo [na escalação]. Vamos passar nossa experiência e vamos convidar alguns ex-campeões mundiais, com bagagem muito boa, para que venham e nos ajudem com palestras - para nós termos um ambiente e colocarmos algo a mais nos nossos jogadores. (...) Uma parte que consideramos importante é a montagem da equipe. Todo mundo no Brasil sabe oito ou nove titulares da seleção brasileira. Demos ao povo a ideia de qual é a base do time.
Aqueles jogadores da Copa de 2002 já tinham muito mais experiência em Copa do Mundo do que esses. Nessa, são 17 jogadores que ainda não jogaram uma Copa. Mas a experiência que eles estão ganhando nas competições em que jogam atualmente me faz acreditar que não sentirão muito a diferença.

Edyr Proença [jornalista, escritor e radialista]
Será que o Brasil vai ganhar a Copa? E a competição, será eternamente assim? 
O brasileiro Diego, atacante que se tornou famoso jogando no Atlético de Madri, convocado para a seleção brasileira, prefere jogar pela Espanha. Tem suas razões. Não jogou suficientemente no Brasil. Ninguém o conhece a não ser pela tv. Isso me levou a pensar sobre uma nova Copa do Mundo. Por favor, leia antes de me esculachar. Considere.
Quando Jules Rimet inventou a Copa do Mundo, a realidade era outra. As seleções viajavam de navio para o local do torneio. As comunicações também eram lentas. Assim, em uma Copa, era uma delícia assistir ao enfrentamento das diferentes escolas de futebol do planeta. Os russos e seu futebol científico. Os ingleses com suas bolas aéreas. Brasileiros e argentinos. Enfim.
O mundo mudou. Muito. Acabaram as distâncias. As comunicações. Os meios de transporte. O profissionalismo fala mais alto. Há muito dinheiro envolvido. Patrocínios, prêmios, salários. Jogadores brasileiros estão espalhados pelos mais longínquos lugares. Outras nacionalidades, também. Os clubes, que gastam fortunas, detestam ceder atletas para seleções. Atrapalha o calendário. Há risco de contusão. Há desgaste. A Fifa está cada vez mais frágil, mercê de escândalos internos.
E os jogadores? Para alguns, ser convocado significa prestígio. No Brasil, empresários ladinos conseguem convocações para então negociar atletas. Para os craques, um fardo. Vivem outra realidade, um mundo diferente na Europa. De repente, precisam vir ao Brasil. Viverão sobre uma lâmina. Ou heróis ou fracassados. Muita pressão de todos os lados, até em casa.
Hoje, nossos jogadores (maioria)  jogam lá fora. Há uma nova maneira de jogar. Sua habilidade é importante, mas há toda uma dinâmica à que assistimos na tv. Um jogo diferente do praticado aqui por jovens atletas, loucos para se destacar e ir embora; e veteranos que não vingaram lá fora e retornaram para encerrar carreira.
A Copa deixou de ser um encontro de escolas de futebol. É como se os europeus formassem novas equipes para um torneio rápido, realizado em período de férias, com tudo a perder no que diz respeito ao descanso dos jogadores e ao reinício de seus campeonatos.
Minha ideia: cada país faz uma seleção dos atletas que atuam em seu território. Sim, seria uma disputa entre Inglaterra e Espanha, primordialmente, mas seria mais interessante. Como você escalaria a Espanha? E nós, escalaríamos como nossa seleção? Vaga para uruguaios, argentinos e chilenos que aqui jogam? Para mim, seria muito mais interessante em todos os aspectos. Torceríamos para jogadores com os quais convivemos. Um torneio totalmente profissional. A Copa é totalmente profissional. Para entrar em campo, há prêmios altíssimos aos atletas. Interesses envolvidos. O patriotismo está lá atrás nas prioridades. E esse negócio de cantar hino antes era usado no tempo das batalhas medievais. Melhor cantar o hino da Premier League e pronto. Considere. Brasil vai ganhar a Copa. Ou não.


- Retrospectiva dos mundiais que o Brasil ganhou (e o drama de 1950)
 
1950: O dia [a copa] que não acabou
O Brasil sediou a Copa do Mundo de 1950, que foi o primeiro torneio a acontecer depois da II Guerra Mundial. O Brasil tinha a certeza de que seria campeão do mundo. A confiança no título nascera quatro anos antes, quando foi definido que o Brasil seria a sede do Mundial. Para isso, os dirigentes resolveram erguer no Rio de Janeiro – na época capital - o estádio do Maracanã, o maior do mundo, palco perfeito para a conquista histórica. E foi no Maracanã que a seleção brasileira fez a sua estreia - o México foi derrotado por 4 a 0. Depois, a seleção jogou mal e empatou em 2 a 2 com a Suíça no Pacaembu e saiu do campo vaiada. No jogo contra a Iugoslávia, o Brasil ganhou por 2 a 0 e se classificou para a fase final. O primeiro adversário do Brasil no quadrangular foi a Suécia, que foi goleada por 7 a 1. Quatro dias depois, 150 mil pessoas foram ao Maracanã assistir ao duelo com a Espanha que, na primeira rodada do quadrangular, havia empatado em 2 a 2 com o Uruguai. O Brasil começou arrasador e venceu por 6 a 1, o cenário foi completado pela enlouquecida torcida, que cantou em coro a marcha carnavalesca “Touradas em Madri”, de Alberto Ribeiro e Braguinha. Foi nesse clima de “já ganhou” que mais de 200 mil pessoas foram ao estádio do Maracanã na tarde de 16 de julho. O Brasil precisava só do empate para ficar com o título e partiu com tudo para cima da seleção uruguaia. Teve um gol no primeiro tempo do Brasil e um empate marcado por Schiaffino. Animado com o gol, o Uruguai se lançou ao ataque e conseguiu o que parecia impossível: derrotar o Brasil. Aos 34min, Ghiggia superou novamente Bigode e entrou na área para chutar à esquerda de Barbosa. O goleiro do Vasco saltou, mas não conseguiu agarrar a bola, que morreu no fundo da rede. O gol acabou com a empolgação da torcida brasileira, que viu o Uruguai segurar o jogo nos minutos restantes para ficar com o título de campeão mundial pela segunda vez. O episódio entrou para a história como “Maracanazo”, uma das maiores zebras de todos os tempos.

1958: O primeiro título mundial
No ano em que aconteceram as eleições gerais diretas, a Seleção Brasileira - com um elenco fabuloso que mesclava craques experientes e jovens talentos - conquista o primeiro título da Copa do Mundo de Futebol.  A equipe estreou contra a Áustria vencendo por 3 a 0. O segundo duelo foi contra a Inglaterra e não passou de um 0 a 0. Para o terceiro jogo, contra a União Soviética, o técnico Vicente Feola fez duas alterações: Pelé entrou no lugar de Mazzola e Garrincha na vaga de Joel. As mudanças deram certo. O Brasil deu um baile nos soviéticos e venceu por 2 a 0. Nas quartas de final, a retranca de País de Gales quase conseguiu segurar o ataque brasileiro, mas uma jogada genial de Pelé dentro da área garantiu a vitória por 1 a 0 e a vaga na semifinal. A partir daí, o que se viu foi um verdadeiro show de gols e jogadas de efeito que encantaram o mundo. Contra a França definiu a vitória de 5 a 2. Na final contra a Suécia, os brasileiros aplicaram uma goleada de 5 a 2. Até os torcedores suecos se renderam ao talento da seleção e aplaudiram de pé os campeões mundiais. Na cerimônia de encerramento, o capitão Bellini, a pedido da legião de fotógrafos que tentava registrar o momento, levantou o troféu para o alto, gesto que passou a ser repetido por todos os campeões.

1962: O bicampeonato 
No ano em que o presidente, João Goulart sanciona a lei que institui o 13° salário, o Brasil conquista o segundo título da Copa do Mundo da FIFA.  Apesar de contar com uma verdadeira legião de craques, o Brasil estreou com uma vitória magra (2 a 0) sobre o México. Em seguida, empatou sem gols contra a Tchecoslováquia no jogo em que perdeu seu principal jogador, Pelé - um estiramento o tirou do resto da competição. Na terceira partida, a seleção brasileira saiu atrás da Espanha e só alcançou a virada graças a duas “mãozinhas” do árbitro chileno Sergio Bustamante, que não marcou pênalti - na sequência do lance, Peiró acertou uma bela bicicleta - e anulou o que seria o segundo gol espanhol, levando o Brasil ao empate. Garrincha começou a brilhar passando por três marcadores e cruzou para Amarildo decretar a vitória por 2 a 1. O show de Garrincha continuou nas quartas de final, diante dos ingleses. Ele fez dois gols e iniciou a jogada do outro, marcado por Vavá. A dupla funcionou de novo diante do anfitrião Chile na semifinal - goleada por 4 a 2. Quando o lugar na final já estava assegurado, Garrincha deu um chute no lateral Eladio Rojas e foi expulso. Teoricamente, ele teria que cumprir suspensão automática, mas não foi julgado e seguiu na competição. Na final, o Brasil enfrentou a Tchecoslováquia. Masopust inaugurou o placar para os tchecos aos quinze minutos do primeiro tempo. Os brasileiros empataram dois minutos depois, com Amarildo. No segundo tempo, Zito e Vavá viraram o jogo e transformaram o país no terceiro bicampeão mundial de futebol da história.
 
1970: Tri e o time dos sonhos
A marchinha “A taça do mundo é nossa, com brasileiro não há quem possa...” poucas vezes fez tanto sentido como em 1970.  A seleção brasileira era uma verdadeira máquina. Contava com craques como Rivellino, Tostão, Gérson, Clodoaldo, Carlos Alberto e Jairzinho, além do maior de todos: Pelé. Nem mesmo a troca de técnico (por pressão da ditadura militar, João Saldanha foi substituído por Zagallo, depois que a equipe obteve a classificação) atrapalhou o bom momento da seleção: vitórias sobre Tchecoslováquia (4 a 1), Inglaterra (1 a 0) e Romênia (3 a 2). Nas quartas de final, os peruanos foram goleados por 4 a 2. Na semifinal, o Brasil bateu o Uruguai por 3 a 1 e vingou a derrota na final de 1950. A final contra a Itália, que valia a posse definitiva da taça Jules Rimet, teve selada uma goleada por 4 a 1. Com forte cobertura na mídia, a vitória da seleção brasileira em 1970 foi usada como instrumento de propaganda do regime militar. Pela primeira vez na história, o Brasil foi campeão vencendo todos os seus jogos - foram seis vitórias em seis jogos, 19 gols a favor e sete contra -, uma campanha irretocável que culminou com a conquista do tri e os brasileiros puderam esquecer um pouco as agruras da ditadura militar que assolava o país na época.

1994: O tetracampeonato
Com um hiato de 24 anos, o Brasil não era tido como favorito e, mesmo sem o brilho de outras  equipes, a seleção brasileira soube impor seu jogo e superar as adversidades. O time de Carlos Alberto Parreira era considerado defensivo demais, o que contrariava o estilo do futebol brasileiro. No decorrer da competição, entretanto, o Brasil foi ultrapassando barreiras, vencendo Camarões e a Rússia, e empatando com a Suécia. Nas oitavas-de-final da Copa, eliminou os Estados Unidos e, nas quartas-de-final, em jogo emocionante, eliminou a Holanda para, nas semifinais, encontrar com a Suécia, despachando o país escandinavo. Na final, derrotou a Itália nos pênaltis, após um empate sem gols no tempo normal e na prorrogação. Passaria, assim, a ser a primeira seleção a conquistar quatro copas do mundo e a primeira a conquistar o título através da cobrança de penalidades máximas. Combinando organização e talento e mesclando disciplina à tática, a seleção brasileira acabou com a agonia da torcida conquistando o seu primeiro título mundial sem Pelé e recuperando o prestígio da camisa verde e amarela.

2002: É penta, é penta!
A sorte começou a sorrir para a seleção brasileira já no sorteio das chaves - o país caiu no grupo C, ao lado das modestas Turquia, Costa Rica e China. Com isso, o técnico pressionado Felipe Scolari ganhou tempo e tranquilidade para preparar a equipe e dar ritmo de jogo aos seus principais craques. Na estreia, os europeus saíram na frente, mas Rivaldo lançou Ronaldo, que empatou de carrinho. Nas duas outras partidas da primeira fase, duas fáceis goleadas sobre China (4 a 0) e Costa Rica (5 a 2). No dia 17, a Copa finalmente começava para o Brasil. O adversário do primeiro “mata-mata” era a Bélgica, quando o árbitro jamaicano Peter Prendergast anulou equivocadamente um gol e fechou-se a complicada vitória por 2 a 0. Ronaldinho Gaúcho foi o destaque da vitória sobre a Inglaterra. Os ingleses aproveitaram uma falha de Lúcio e abriram o placar no início do jogo. Já nos acréscimos do primeiro tempo, Ronaldinho fez grande jogada individual e serviu Rivaldo, que bateu de primeira e empatou. Na segunda etapa, ele cobrou uma falta da intermediária direto para o gol, surpreendendo e encobrindo o experiente goleiro Seaman, finalizando a vitória. A Turquia voltou a cruzar o caminho brasileiro na semifinal e deu trabalho aos comandados de Scolari. Porém, o gol de bico de Ronaldo foi o suficiente para colocar o Brasil na decisão. A final foi um encontro inédito de dois gigantes: Brasil x Alemanha. O jogo nervoso durou até os 22min do segundo tempo, quando Ronaldo roubou a bola e serviu Rivaldo. Kahn não segurou o chute do meia e a bola sobrou limpa para o Fenômeno fazer 1 a 0. Pouco depois, Rivaldo fez um belo corta-luz para Ronaldo marcar o segundo e definir a conquista do pentacampeonato. Coube ao capitão Cafu, único jogador a disputar três finais consecutivas em Copas, a honra de levantar a taça. 
 

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