Os entrelaços na vida de Elieni trazem historias dos tempos de infância vividos em Macapá, com seu pai, um guarda territorial do Amapá, e sua mãe, uma costureira. E, também, de todo processo de (des)costuração que precisou fazer na própria vida, quando decidiu desafiar os comandos enérgicos que aprisionavam seu inquieto temperamento e expandir suas vivências para além dos horizontes que se avizinhavam. Sempre teimosa e com o espírito independente, fugia das regras da casa e cosia suas próprias roupas - experiência que a trouxe para a arte, já entranhada nas suas veias, desde menina.
Em Belém, Elieni cursa artes plásticas na Universidade Federal do Pará, frequenta escolas de artes e oficinas e se inicia no meio com a mostra de gravuras “O Silencio que Evoca”, realizada em 1999. Em seguida, começa pesquisas utilizando várias técnicas e suportes, na busca da ampliação do seu universo plástico. Assim, reaparecem os tecidos, as agulha e linhas; materiais de corte-costura que se confundiram com a xilogravura e provocaram as intervenções que tanto gosta de realizar em sua obra. Deles vieram as exposições “Espelhos da Alma” (1999), “Alegorias do Feminino” (1999), “Reflexos” (2000), "Suburbano Coração" (2000), “A câmara clara” (2000),”Nós, soluços que desatam” (2001),“Sob Medida” (2002), “Senhora Tentação” (2004), Vestida de Obsessão”(2004), “Entre linhas” (2006),“Linhas, Agulhas e Moldes: arquitetura do ser” (2007), a instalação “Sobre a Pele” (2008), “Coberta de Razões” (2011), “Fragmentos do Corpo”(2012) e “Volúpia"(2013) - além de participações e premiações em salões de arte locais, nacionais e internacionais.
Sua carreira se consolida e novos laços se vão entrelaçando: as peças ganham novos suportes, que podem ser papel de jornal, encarte de moldes de roupas para costurar, papel de parede, bastidores para costura, tecidos encorpados, telas, rendas, zíperes, fitas métricas, rosetas de crochê, agulhas e linhas, silhuetas, corseletes, espartilhos, anáguas, manequins, goma e cola. Desaparecem as características das obras iniciais e aparece o traço abstrato por meio de diferentes técnicas de gravura, desenho, pintura, colagens, recortes e costuras variadas, na constante evocação da costureira que teima residir em seus sonhos. Nos objetos criados, seja busto ou manequim, a presença do grafismo como tatuagens costuradas sobre a pele dos modelos. Simbolicamente, a artista expressa sua arte como sopro vital, como a partilha magnânima de sua essência.
Segundo a própria artista, o universo feminino é a maior influência no seu processo criativo. “Trabalho essencialmente o feminino com desenho, pintura, gravura, objeto, instalação e hibridismo. Essa exposição é sobre uma pesquisa que venho desenvolvendo desde a década de 1990, utilizando vários materiais e suportes não convencionais para expressar o que sinto, as informações que tenho e me acompanham todos os dias”, diz Elieni.
Nesta mostra, 18 trabalhos serão expostos: seis objetos e doze gravuras sobre tela e tecido, que contam um pouco do amor traçado e entrelaçado sem convencionalismo, de uma paixão que se instala na alma da artista-gravadora e dela sai para embelezar as vidas dos demais amantes da arte - tecendo com todos uma teia que não se esgota, mas se retroalimenta pelos desejos crescentes e cada vez mais extasiados, que resultam do apreciar das peças que produz. É este entretecer extremamente pessoal e autêntico que assegura a ela o merecido lugar de destaque que conquistou. Sua gravura impressiona por ser traço inesgotável e incansável de combinações, pelos gestos entrelaçados no passado, mas que trazem ao futuro a arte como o seu maior presente.
Serviço
Traços Entrelaçados
Visitação de 1º de fevereiro até 28 de fevereiro, de terça a sexta-feira.
Horário: Das 10 às 13h e das 15 às 19h. Aos sábados, das 10 às 17h.