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Pelo Mundo
Há quem reclame que as praias da Ilha de Capri, em vez de areia, têm pedrinhas. Mas basta olhar para o azul do mar e do céu da Ilha para querer disputar com turistas do mundo inteiro alguns centímetros dos pequenos espaços de orla para um mergulho. Não à toa Capri está entre os destinos favoritos de ricos e famosos. A Ilha é repleta de belezas naturais e lugares interessantes para conhecer. Mas, se você tem o desafio de passar apenas um dia na Ilha, seguem algumas dicas de um roteiro que não deixa margem para arrependimentos.
Um dos locais mais famosos da Ilha de Capri é a Grotta Azzurra ou, em português, a Gruta Azul. A cavidade de cerca de 60 metros de comprimento e 25 de largura tem água tão azul e cristalina que os barquinhos que entram parecem flutuar no ar. Ela é considerada quase uma visita obrigatória para quem vai a Capri, mas atenção: optar por conhecê-la demanda tempo e um pouco de sorte. O seu horário de funcionamento normal é das 9h às 17h. Mas, em dias de mar agitado ou de fluxo muito intenso de turistas, é impossível chegar até ela. Os bilhetes para as pequenas embarcações que levam à Gruta Azul custam atualmente 13 euros e, para chegar à bilheteria, é preciso pegar um ônibus de Anacapri ou um barco de Marina Grande. Também é possível ir a pé, por meio do Viale T. de Tommaso, Via Pagliaro e Via Grotta Azzurra.
Mesmo se o seu desafio é passar apenas um dia na Ilha, vale a pena tentar conhecer o local, principalmente se você optar por chegar à bilheteria da Gruta Azul por meio dos barcos turísticos que saem de Marina Grande. O trajeto, conhecido como Giro dell’ Isola, custa 17 euros. Por meio dele, você descobre diversas curiosidades sobre o entorno da Ilha. Um delas é que a cor do mar muda de forma encantadora nos arredores de Capri e assume diversos tons de azul, verde e até mesmo de vermelho; no último caso, devido aos corais.
Giro dell’ Isola
Comece o trecho cumprimentando a Statuetta dello scugnizzo di Capri, que tem as formas de um rapaz acenando. Diz uma crença local que saudar a estátua garante um breve retorno à Ilha. Não custa tentar.
Outra vista imperdível é a dos gigantes de Capri: Stella, Faraglioni di Mezzo e Faraglioni di Fuori ou Scopolo. Os três picos de rocha são um dos principais cartões postais da Ilha e ficam a poucos metros de distância da costa. No meio do Faraglioni di Mezzo, há um arco formado naturalmente na rocha. Ao passar por ele, reza a lenda que casais apaixonados devem se dar um beijo para transformar a paixão em um amor eterno.
O litoral de Capri é todo recortado por enseadas, baías e cavidades formadas naturalmente nas rochas, as grutas. Além da famosa Gruta Azul, há que se destacar ainda a Grotta del Corallo (do coral), a Grotta Bianca (branca) e a Grotta Verde. Na Gruta Branca, tente achar uma formação natural em pedra com a figura da Madonna ou a representação da Virgem Maria.
“Mamma Mia!”
Aliás, um traço interessante da cultura dos italianos é a forte presença da figura materna. O contato entre mães e filhos tende a ser mais forte na Itália que em outros países europeus e eles têm até uma expressão própria para isso, sem tradução literal no português, o mammismo. E nem precisa prestar muita atenção para perceber o quanto a presença materna é forte. Basta pensar em algumas das expressões mais clichês relacionadas aos italianos: “Mamma Mia!”, ou ainda: “Madonna Mia!”.
A família, os amigos e os relacionamentos afetivos assumem papeis fundamentais na vida dos italianos. Em geral, eles não costumam agir de forma individualista, o que é cativante, mas também tem seu lado negativo, sobretudo no convívio com pessoas de culturas mais reservadas. Nas ruas, embora eles sejam capazes de brigar alto por qualquer bobagem, ninguém se agride. Em família, após uma discussão acalorada, os laços afetivos frequentemente são imediatamente retomados.
No livro “Os italianos”, o professor de História João Fábio Bertonha afirma que “O humor, a afetividade e a humanidade dos italianos podem se transformar, claro, em seu duplo, ou seja, o desrespeito às leis e às normas de civilidade, o sarcasmo, a falsidade e a grosseria, e isso ocorre muitas vezes”. A sociabilidade e informalidade são características marcantes da cultura italiana, o que pode assustar um nativo de um país mais cerimonioso, mas dificilmente deixará um brasileiro tão surpreso. Há muitos lugares do país, sobretudo no Sul da Itália, em que as leis de trânsito são descaradamente desobedecidas e há locais em que sequer se formam filas para a compra de ingressos. As pessoas simplesmente se amontoam em volta dos balcões das bilheterias.
Não é o caso da bilheteria para entrar na Gruta Azul, em que as filas não só são enormes como também são bem demoradas. Se você vai passar só um dia em Capri, não vale a pena desperdiçar um dia inteiro só tentando entrar na gruta. Ao receber a notícia de que o mar está impróprio para a entrada de visitantes ou que as filas estão muito extensas, o melhor é voltar para o porto e torcer para que a supertição sobre cumprimentar o Scugnizzo di Capri dê certo.
De volta à Marina Grande, é hora de encontrar um bom restaurante para o almoço. No bar e restaurante Le Ondine, que fica na Via Provinciale Marina Grande, foi possível encontrar promoção de pizza com cerveja por apenas 10 euros em setembro deste ano – período em que eu estive lá. O ambiente é despojado e fica bem na beira do mar. Um luxo bastante acessível para os padrões da ilha. No entanto, se você busca algo mais sofisticado, os restaurantes Da Tonino, na Via Dentecala; Lo Smeraldo, na Piazza Vittoria; e o Lo Zodiaco, na Piazzetta Angelo Ferraro, estão entre os mais bem pontuados do site Trip Advisor, especializado em captar a opinião de turistas sobre os lugares visitados.
Turismo
Depois do almoço, ainda lhe restará uma infinidades de locais “imperdíveis” para conhecer. A ilha oferece opções de turismo para um verão inteiro! Estima-se que a Ilha de Capri receba em torno de dois milhões de turistas por ano. O índice é bastante alto, já que Ilha de Capri tem apenas 6 km de extensão por 2 km de largura. Em suas duas cidades, Capri e Anacapri, vivem pouco mais de 10 mil moradores. Em agosto, o número de visitantes atinge o seu ápice e o preço de tudo sobe consideravelmente. Os pontos turísticos ficam todos lotados. Porém, o problema do excesso de turistas não é uma exclusividade de Capri.
A indústria do turismo está entre as mais lucrativas de toda a Itália. Além de belezas naturais, que vão das praias às montanhas, turistas do mundo todo também são atraídos pela gastronomia, história, arte, cultura, design, moda e o próprio modo de vida dos italianos. Segundo dados da Organização Mundial de Turismo (UNWTO Baromete), divulgados em junho deste ano, a Itália foi o quinto país mais visitado por turistas de todo o mundo em 2013, com 50,2 milhões de visitantes estrangeiros, só perdendo para França, Estados Unidos, Espanha e China.
De acordo com o Banco Central da Itália (Banca d’ Italia), os turistas gastaram mais de 30 milhões de euros em 2013, o que representa um crescimento de 3,1% em relação ao ano anterior. Se considerados apenas os viajantes estrangeiros em férias, esse percentual de crescimento é ainda maior e vai para 6,9%. Só no primeiro semestre de 2014, a despesas de viajantes estrangeiros na Itália aumentaram 3,6% ou 6,4%, se considerarmos apenas os que foram por motivo de férias.
Embora lucrativa, a indústria do turismo trouxe diversas dificuldades administrativas para a Itália. Além da superlotação dos transportes públicos e a poluição de locais turísticos, o constante e intenso fluxo de turistas também trouxe mudanças culturais significativas, com a absorção de valores e elementos de culturas estrangeiras.
No entanto, nada que impeça que o estilo de viver italiano seja facilmente identificável por pessoas de outros países. Ainda conforme o historiador João Fábio Bertonha, a Itália e os italianos são vistos pelo mundo como “um povo e um país recheado de belezas artísticas, históricas e naturais; um tanto quanto confuso e atrasado, mas, justamente por isso, charmoso e cujos habitantes são divertidos, amáveis e sabem apreciar a vida”.
Fim da linha
E é com inspiração nesse modo de vida italiano que se recomenda que se aproveite a ilha no melhor do estilo “Dolce far niente”, expressão italiana que enaltece o prazer do ócio. Diante da impossibilidade de conhecer a tantos lugares importantes em apenas um dia, vale a pena admirar o artesanato local na pracinha ou mesmo achar um lugar ao sol entre as pedrinhas de seixo e se esparramar até o último minuto de visita à Ilha. Mais do que registrar o maior número de pontos turísticos possíveis, recomenda-se aproveitar com calma cada segundo desse lugar que parece ter sido feito à mão para ser desfrutado sem pressa.
Informações Gerais
País: Itália
Localização: Mar Tirreno
Ponto culminante: monte Solaro 589 m
Área: 10,36 km²
População: 30.000
Como ir de Roma a Capri
A viagem de Roma a Capri requer no mínimo três horas a partir da chegada do voo se você der sorte de coincidir os horários dos outros meios de transporte; se não for esse o caso, o percurso pode levar tranquilamente até meio dia. Se você desembarca em Roma no final da tarde, considere a possibilidade de dormir uma noite em Roma ou Nápoles.
• Do Aeroporto Ciampino de Roma pegue um ônibus para Roma Termini e siga as indicações acima.
• Existem diversos tipos de trem:
Eurostar Freccia Rossa (TAV): é o trem mais rápido, que faz o percurso Roma-Nápoles em pouco mais de uma hora. A passagem custa cerca 40,00 euros.
Intercity: ele percorre o trecho Roma-Nápoles em cerca duas horas. A passagem sai por cerca 20,00 euros.
Interegionali: é a solução mais barata, por 10 euros ou pouco mais do que isso você vai de Roma a Nápoles. Em compensação a viagem leva 4 horas e, honestamente, é aconselhável apenas para quem realmente viaja low-cost.
Serviço
• Para visitar a Gruta Azul, vale consultar a disponibilidade por meio do telefone da cooperativa Motoscafisti Di Capri Societa: 39 081 8375646
• Existem diversas possibilidades para chegar à Ilha de Capri. As mais conhecidas são por meio das balsas e barcos que partem de Nápoles e Sorrento. No verão, também é possível partir de Positano, Amalfi, Salerno e Ischia. Os valores e os horários variam conforme a temporada, mas ficam em torno de €10 a €20. É sempre bom entrar em contato diretamente com as companhias de navegação para checar a disponibilidade dos barcos.
• Em Nápoles, existem dois portos com barcos para Capri: o Molo Beverello e Calata di Massa. Do Molo Beverello partem os “aliscafi”, que são mais rápidos, porém menos econômicos que os barcos rápidos e balsas que saem de Calata di Massa. As empresas SNAV e Caremar são responsáveis pelo serviço.
• Em relação aos hotéis, Capri oferece desde opções de hospedagem em casa de nativos, com diárias em torno de € 50, até hotéis alto luxo, como o Grand Hotel Quisisana e o Capri Tibério Palace. Boas dicas para pesquisar hotéis em Capri podem ser encontradas no site https://www.capri.com/pt/hoteis.
Referência
BERTONHA, João Fábio. Os Italianos. 3. Ed. São Paulo: Contexto, 2014.
Estatísticas retiradas do site: www.enit.it