Da imaginação de um artista autodidata, ligado às religiões afrodescendentes, ao trabalho de uma grafiteira que tem suas crenças pontuais, surgiu a ideia de “Sincretismo”, exposição onde a costura e a tinta se complementam em sentidos.
Aberta no último dia 30 no Museu de Artes Brasil Estados Unidos (MABEU) e com curadoria de Yeda Potiguar, a exposição apresenta obras com elementos que remetem aos deuses do candomblé. Ali estão deidades do mar, dos raios, dos rios e matas - signos que se tornam um verdadeiro espetáculo visual que brotam da imaginação de Mestre Nato.
Através da beleza dessa composição artesanal, cheia de cor e significados, surgem aqui e ali os retoques do grafite delicado de Drika Chagas. “Eu trabalhei com referências ligadas ao sincretismo religioso, pelo contato que tive com mestre Nato que me fez compreender um pouco desse universo e explorar visualmente em meu trabalho”, frisou a artista que iniciou no universo da arte urbana aos 15 anos.
O diálogo entre o sagrado e o profano é intenso nas criações de Mestre Nato, o que possibilitou à Drika ampliar seu leque de opções estéticas. “Como eu venho de uma cultura onde religiosidade é muito presente, me aproprio de elementos e referências religiosas locais para compor com alguns de meus trabalhos”, afirmou.
Os estandartes multicoloridos de Mestre Nato, que trazem pequenas histórias ou narrativas, surgiram primeiramente para enfeitar os cortejos do Arraial do Pavulagem, depois para os blocos de rua do Guamá e de Mosqueiro. Para a exposição, ele aplicou todo o experimentalismo de quem vive pintando, bordando e aplicando práticas diferentes – inclusive buscando inspiração para os estandartes nas cortinas bordadas e encostos estilizados dos motoristas de ônibus de Belém.
“Sincretismo” aponta caminhos para compreender a criação de cada um dos dois artistas, dissociando e ao mesmo tempo desfazendo fronteiras entre formatos. Tudo é arte e busca o propósito de comunicar e estabelecer conexões ‘misticas’ entre ambos.
Também buscando, por meio da cultura, um caminho para expressão e identificação, Drika Chagas produz o projeto “Bora”, que tem como objetivo realizar uma galeria a céu aberto no bairro da Cidade Velha: “Serão grafitados 15 muros, que reproduzirão uma rota do imaginário dos moradores mais antigos do bairro”. Ainda de acordo com ela, os visitantes poderão fazer um percurso com um mapa de bolso acompanhando todos grafites, ‘sentindo’ e (re)conhecendo as histórias marcantes impressas nos muros.
SERVIÇO:
Exposição “Sincretismo”, com Drika Chagas e Mestre Nato. Até 29 de junho, das 10h às 12h e de 13h30 às 19h30 (segunda a sexta);
9h às 12h (sábado). Local: Galeria de Artes do CCBEU
(Trav. Padre Eutíquio, 1309). Entrada Franca.