Arte e negócios se misturam? Há quem diga que sim, por ser a arte uma forma diferenciada e genuína de “ganhar a vida”. Outros, por alguma crença ou até mesmo certo preconceito, ainda se resguardam num distanciamento entre os dois termos.
Após um período de grande movimentação e produção cultural nos anos 80, Belém viveu um certo ostracismo que carregava consigo a fragmentação e a pouca articulação do mercado da Arte. Mesmo com uma intensa e contínua produção [além do sucesso dos artistas país afora], a divulgação das obras ficava restrita a espaços nem sempre tão acessíveis e atraentes à população em geral.
Há pelo menos 10 anos, felizmente, o mercado da arte na cidade passa por mudanças significativas: novas oportunidades; novos artistas, que dividem espaço com nomes consagrados; novos espaços são criados, contribuindo fundamentalmente para a democratização e acesso, além de expandir possibilidades de investimentos. O resultado é refletido em novas galerias, na inovação de jovens artistas que ganham repercussão nacional [e até internacional] e, principalmente, no público que se reaproxima, aos poucos, da arte genuinamente paraense. Quem entende do assunto e investe na área afirma que a capital paraense tem potencial para ser um dos melhores mercados de arte do país.
O advogado e filósofo Otávio Avertano Rocha é um desses exemplos de investidores. Estudioso das artes. Despertou aos 18 anos para esse universo, estudou e teve em sua coleção mais de 250 obras de artistas paraenses, como Dina Oliveira. Para o advogado, esse é um mercado que precisa ter, antes de qualquer visão empresarial, uma função educacional. Só assim ganhará força e se constituirá, de maneira sólida, a médio e longo prazo. “É interessante que se faça um resgate histórico da vida artística da cidade. O conhecimento artístico, estético, precisa sair das academias e ser levado para as ruas, para as escolas. É uma pena que muitos não se deem conta da importância da arte feita no Pará. E se você conseguir juntar o artista ao povo, suas possibilidades de negócios certamente serão excelentes”, enfatiza.
Mesmo com mais de 100 obras de artistas plásticos e fotógrafos como P.P Condurú, Antar Rohit e Miguel Chikaoka espalhadas pela casa, Celso Eluan não se intitula colecionador. E nem gosta que o façam como tal. Há 25 anos lidando com vendas, o empresário, que se diz apenas um “admirador” de inúmeros artistas paraenses, começou a investir em arte ainda na década de 80. Adquirindo obras para o acervo pessoal ou para presentear familiares, Celso fez amigos e sempre esteve próximo dos meios de grande efervescência cultural de Belém. A proximidade e as amizades o ajudaram a enxergar na arte uma boa oportunidade de negócios. Tanto que, hoje, para ele, arte e mercado são itens indissociáveis.
Incentivador de projetos e ações culturais na cidade, Eluan acredita que é importante colocar o mercado em debate para que surjam boas oportunidades de investimento. “Provocar a discussão é necessário. Fazer pesquisas, levantamentos... Há que se criar novos projetos. A arte tem que ser interessante para que possa atrair investimentos.”, afirma.
A saída para que se consiga estabelecer um mercado, de acordo com Celso, é popularizar as obras e, para isso, será necessário modificar hábitos da população, principalmente no que diz respeito a “consumir Arte”. “A busca pela obra, o interesse pela Arte, pode ser despertado por meio da multiplicação dela. E, para que isso aconteça, tem de se criar mecanismos que a tornem acessível e atraente ao público. Cultivar um bom hábito de consumir a Arte, tornando-a mais próxima da população e aproveitando o momento do mercado requer muitas ações coordenadas e, acima de tudo, paciência e persistência”, lembra.
Negociar com a arte
Foi do pensamento de criar oportunidades, fomentar a circulação e o consumo da Arte na capital e aproveitando um momento de franca expansão do mercado, que nasceu a Boaventura Cultura & Negócios. Concebida a partir da experiência de mais de 30 anos de carreira do artista plástico Jorge Eiró e do conhecimento de mais de 10 anos do consultor e pesquisador de mercado, Marcelo Magalhães, a Boaventura se constrói como um espaço de articulação e debate para traçar os rumos da movimentação artística e como os “frutos” dessa produção de arte podem se transformar em produtos, cultural e financeiramente rentáveis.
A ideia, que nasceu durante a SP Arte no ano de 2012, começou com um bate-papo despretensioso. Entre um café e outro, o desafio foi lançado: como planejar e expandir um mercado de arte de destaque na capital paraense? Com caminhos diferentes e pensamentos afinados, de volta à Belém, era a hora dos amigos transformarem a curiosidade e a “provocação” em trabalho.
Não sendo apenas uma galeria de arte ou uma promotora de eventos na área, Eiró e Magalhães decidiram, no começo deste ano, reunir alguns dos mais importantes artistas, galeristas, colecionadores, empresários, gestores culturais e interessados em investir nesse segmento para conhecer as trajetórias, as necessidades e ouvir propostas de mudanças para esse cenário. Na sala aconchegante e cheia de histórias – muitas delas retratadas em quadros -, oito encontros foram realizados. Das “Conversas na Boa”, feitas naquele clima de happy hourentre amigos, surgiram informações e possibilidades estratégicas que foram determinantes na construção de um mapeamento do mercado. Esse levantamento ajudou a compreender melhor as “engrenagens” do mercado e foi determinante para pensar as próximas ações de incentivo à arte. O chamado “mapa do mercado da arte em Belém” foi apresentado ao público paraense neste mês.
Segundo Jorge Eiró, esse é o momento certo para a arte levar conhecimento à população, realinhando a criatividade ao empreendedorismo. “A principal vontade da Boaventura é aproximar a aventura do ser artista com uma ideia de negócio e de mercado. O artista também pode ter um olhar empreendedor. Mas tudo começa com o despertar da formação cultural nas pessoas e Belém tem esse potencial, por toda sua história e seu patrimônio histórico”, afirma.
Formar um público consumidor de arte e tornar mais atrativos os espaços artísticos da cidade são algumas das metas da Boaventura ainda para este ano. Museus, galerias e outros locais expositivos podem ser ambientes agradáveis para compreender e consumir arte. Para Marcelo Magalhães, esse tipo de investimento pode ter bom retorno e um papel social bem definido. “A Arte é o que transcende a condição humana. A obra, em si, não tem ligação com a idade do consumidor de arte. O que determina o consumo é o acesso à informação, à cultura. E acredito que existe um acervo que pode e merece ser visitado, consumido e valorizado em Belém”, enfatiza.
Mesmo com pouco tempo de existência, a Boaventura já desenha novos passos para o futuro da arte paraense. “Investir em arte é um tipo de investimento que deve acontecer naturalmente, uma vez que a pessoa se aproxima do artista e vice-versa. E esse é o objetivo da Boaventura: aproximar e mostrar que esse é um movimento natural, que só se sustenta se for feito assim, com conhecimento e de maneira conjunta. O espaço estará de portas abertas para todos que se interessarem em movimentar esse mercado”, conclui Marcelo.
Arte na essência
Que a Leal Moreira sempre foi uma empresa à frente de seu tempo, não há dúvidas. Considerada pelo público uma referência em seu segmento, a Leal Moreira tem uma história de intimidade e cumplicidade com a Arte.
Com quase 30 anos de mercado, a empresa inovou quando, em 2005, inaugurou o 1º Living Leal Moreira, “uma mostra de Arquitetura e Arte, que tinha, como um de seus objetivos principais ser uma fomentadora do universo artístico, aproximando admiradores e potenciais consumidores da produção artística local”, afirma André Moreira, diretor de Marketing da Leal Moreira. “À época, no período do encerramento do Living, realizamos um grande bazar; uma disputa artística. Ainda de forma tímida, mas com o pensamento de que fosse um evento beneficente, reunimos um bom número de obras, que foram colocadas à venda. O [artista plástico e ator] Antar Rohit conduziu o processo de oferta das obras e parte do valor angariado foi revertido para o Instituto Criança Vida. Todas foram vendidas”, relembra Moreira.
Entre 2005 e 2007, a Leal Moreira, quando da inauguração de seus edifícios, entregou aos moradores a escultura do artista Francisco Del-tetto, que compôs os jardins de entrada.
Quando do lançamento do Torre de Toledo, o artista plástico Jorge Eiró foi convidado a “interferir” artisticamente nas linhas arquitetônicas do edifício. O resultado não poderia ser outro: um empreendimento luxuoso e de design único. Uma bela obra que pode ser contemplada no hall de entrada do edifício”.
Sempre há arte em um Leal Moreira. Nos halls de entrada de diversos edifícios, há fotografias de João Carlos Moreira e outros expoentes desta arte.
Por ocasião do 2º Living Leal Moreira, em 2007, o público ganhou uma galeria de arte maior e os artistas convidados receberam o delicioso desafio de intervir, colocar seus traços em peças de decoração como: portas, luminárias”.
Nem só de galerias vive a Arte
Os canteiros de obras da Leal Moreira são espaços de exercício da cidadania. Além do projeto que leva educação aos colaboradores da empresa, um outro programa de educação artística, em 2006, “O Obra Humana” ensinou lições de Arte para os colaboradores e seus filhos. Aos sábados, enquanto os pais trabalhavam, as crianças coloriam o cenário sob os olhares carinhosos a atentos dos artistas plásticos [e instrutores] Elieni Tenório e Alexandre Sequeira. Em 2011, após uma oficina de fotografia, os operários empunharam câmeras fotográficas digitais e produziram belas imagens. O projeto, chamado “Olhar da Obra”, ganhou destaque no espaço da construtora, dentro da primeira edição da Casa Cor Pará.
Considerada a maior mostra de Arquitetura, Design e Paisagismo das Américas, em sua versão local, também contou ininterruptamente com o apoio e a participação da Leal Moreira. “Sempre acreditamos no potencial da Casa Cor Pará e, por essa razão, desde o começo nos empenhamos muito para transformar cenários, integrando arte e funcionalidade. É uma filosofia nossa: de que a beleza pode transformar o mundo para melhor”, conta André Moreira.