Há algumas peculiaridades, no que tange ao riquíssimo vocabulário do amazônida, que sempre me encantaram - especialmente pela estreita relação com a cozinha e o comer.
Bacuri é fruta, mas é uma maneira carinhosa de fazer referência a filhos pequenos. Talvez porque o próprio bacuri produz filhos - os “gomos” mais saborosos e sem semente. Bonito, não?
Dá um gosto enorme ouvir os ribeirinhos (e mesmo gente da cidade) dizer ”meus bacuris me esperam lá em casa”. Dá mais gosto ainda ouvir que os bacuris (a fruta) estão ”só os filhos” (para dizer que estão generosamente “adubados”. E a fruta parece uma joia, cuidadosamente guardada após uma “espessa camada protetora”. Vale o esforço: de sua polpa branca exala um perfume sem igual. O sabor, sofisticado, é coisa fina. In natura, como um suco substancioso, no creme, com chocolate branco, como bombom, no recheio da Maria Izabel; acompanhado de farinha da baguda, acrescido ao risoto: seja qual for sua opção de consumo, faça-o com atenção - dedique atenção e todos os seus sentidos ao momento. Você vai me agradecer depois.
Se tiver um pouco mais de paciência (e uma panela só para esse uso): cozinhe as cascas. A resina impregna mesmo, mas o sabor, após 3 mudanças de água (fervura), é inigualável. Separe a polpa (da casca) da casca película. Vai muito bem nas compotas.
Há um dito popular, também do amazônida, que afirma: “bacurizeiro bom é o do quintal de casa!”, para exemplificar a abundância (e facilidade) de encontrá-lo em nossa região. Gosto de pensar que estamos valorizando a riqueza de casa, dos nossos quintais, em vez de buscar fora (e distante daqui) o que nos torna únicos e afortunados. Viva o bacuri!