Volta e meia, nas reuniões de equipe, eu e Fabio sempre compartilhamos algumas vivências e experiências. Entendemos ser muito importante levar o mundo para dentro do restaurante, para que nenhum colaborador possa ser surpreendido – e tem aquela coisa de ter a perspectiva de fora para que possamos comparar situações. Dito isso, tem uma situação que adoro evocar, para mostrar como nossas matérias-primas são incríveis.
Na Itália, durante o curso de formação em cozinha pelo ICIF, nas andanças pelos mercados da capital, Fabio se deparou com uma frutinha, no mínimo exótica e cuja aparência o deixou encantado: physalis. Como adora apresentar as novidades aos nossos, perguntou o valor. Quase caiu para trás: era coisa de mais de 100 euros o quilo! Comprou meio quilo, trouxe em mãos, com todo cuidado. Acondicionou numa área com temperatura controlada, para se mantivessem frescas até sexta-feira, dia da reunião interna.
Começou fazendo um discurso sobre quão exótica e cara e qual não foi a surpresa de ouvir de um de nossos garçons: “Ah, Fabio! Isso é camapu e é mato lá onde eu moro!”
A historinha ilustra bem as voltas que o mundo dá (literalmente) e que levaram a Physalis, uma fruta 100% latino-americana, para o outro lado do mundo, tornando-a cara, diferente, quando ela pode estar no quintal de nossas casas. Ilustra bem o que sempre digo: o Pará tem um potencial incrível, frutas de perfumes inebriantes e sabores únicos. Que tal exercitar seu olhar e valorizar o 100% local, que seja justo, sustentável?
Ângela Sicilia