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Não há dúvida de que Batista Campos é um dos bairros melhor urbanizados de Belém e um dos recantos que mais conservam a Belém de outrora. Limitado pelos bairros da Campina, Cidade Velha, Nazaré e Cremação, o bairro conquistou seu nome em homenagem ao Cônego João Batista Gonçalves Campos (um dos nomes mais importantes da história do Pará) e suas ruas receberam nomes de tribos indígenas, como Pariquis, Timbiras, Caripunas, além de nomes de personalidades da história brasileira.
Na matemática dos negócios, objetiva por natureza, Batista Campos é um dos endereços mais valorizados da cidade, o que explica ser o sonho de consumo de bem-viver de muitos paraenses. Mas não é esta a maior qualidade de Batista Campos. É da soma dos valores subjetivos que advém sua grandeza. Mesmo caracterizado como um bairro nobre, não é uma área esnobe. Os espaços de convivência são acolhedores. O melhor exemplo é a Praça Batista Campos - o “jardim sem grades” de António Lemos (talvez o mais apaixonado gestor público que Belém já teve, à época, como intendente geral). Não é em todo canto que a cidade se encontra como ali se encontra. Poucos lugares em Belém são testemunhas da convivência, cada vez mais rara, entre diferentes mundos e oriundos.
O exercício da dialética, inaugurado pelos gregos nas clássicas ágoras, onde além de trocar mercadorias se trocavam ideias, também se vê ali, na incomparável Praça Batista Campos, já classificada pela boa e velha revista Seleções como a mais bela praça do País.
O bairro de Batista Campos, assim a como a praça – agrega e acolhe. E tem todas as condições de permitir essa convivência, seja pela localização estratégica, seja pela variedade de acessos, seja pela qualidade dos locais de encontro. Num tempo em que o tecido social está cada vez mais esgarçado, Batista Campos cirze essas fendas. É um lugar de convergência, para usar uma palavra moderna, cujo significado, no entanto, atravessa as linhas do tempo e das gerações e gerações de moradores e frequentadores do bairro.
Para a juventude, há uma variedade de pontos de encontro, diversos roteiros seguros para a diversão cotidiana, acesso fácil a serviços indispensáveis na rotina urbana. Na lembrança dos mais maduros, saltam retratos de um tempo emoldurado na galeria das melhores recordações.
A grande horta da Veiga Cabral, os campinhos de pelada da Serzedelo, a inesquecível Mesbla, as fantásticas histórias do Soledade, a efervescência da feira, os sabores da Tip Top, a grande livraria Globo, a paquera nas calçadas do Santa Rosa, a colheita sob a sombra das eternas mangueiras, os cinemas de arte, os caminhos secretos da Arcipreste. As travessuras e obrigações nas dezenas de colégios que marcaram infâncias.
Mas é no registro da História que o bairro ganha relevo definitivo. Na homenagem a um prócer da Cabanagem, o cônego que lhe empresta o nome. Na presença do cemitério erguido diante do desespero e tornado patrimônio histórico. Nas transformações constantes, que modificaram a paisagem da cidade, mas preservaram este nicho de verdades indeléveis.
É claro que, como em todo bairro, Batista Campos também sofre com eventuais atropelos que expõem a carne viva do Poder Público e suas feridas nem sempre bem cuidadas. Contudo, Batista Campos ainda é um lugar privilegiado. Retrato do desafio cada vez maior de promover a convivência humana. Extrato paradoxal de uma cidade que perdeu as rédeas da expansão. Contato da Belém de hoje com a Belém de outrora.
O olhar preciso de um morador, o testemunho dos passantes, a narrativa de um trabalhador, tudo cabe nesse caleidoscópio de lembranças. Que remetem às lutas cabanas, às alegrias e aos dramas, desde quando Belém era menina, passando pelos surtos de crescimento. O bairro reconstruído no final da década de 60, após a conclusão do canal da Tamandaré, e novamente renascido com a chegada do grande shopping, e finalmente ressuscitado pelo impulso imobiliário dos grandes prédios, que oferecem conforto na experiência de morar em Batista Campos, lugar onde as brumas de tempos idos cheios de certezas se encontram com o crepúsculo dos nossos tempos repletos de desafios.
Por tudo isso, ser de Batista Campos, morar em Batista Campos, não é apenas uma condição de espaço e tempo. Mais do que um bairro, Batista Campos é um estado de espírito.
O bairro da poesia é o lar do Lumiar, novo empreendimento da Leal Moreira.
Viva Batista Campos. Viver com nome e sobrenome.