A Igreja de Santo Alexandre e o Palácio Episcopal (antigo Colégio de Santo Alexandre), que compõem o Museu de Arte Sacra, no Complexo Feliz Lusitânia, serão o palco da encenação,nos dias 3 e 4 de outubro, às 19h,do Memorial do Convento,adaptação para o teatro da obra homônima do escritor português José Saramago.
Esta é a primeira vez que Memorial do Convento será encenada no Brasil. As apresentações integram a programação de lançamento dos livros Da Estátua à Pedra e Discursos de Estocolmo e Democracia e Universidade, inéditos no Brasil, de José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura em 1998. Os livros são uma coedição da Editora da UFPA com a Fundação José Saramago e foram lançados no dia 30 de agosto, em Belém, em sessão que contou com a presença da jornalista Pilar del Río Saramago, viúva do escritor e presidenta da Fundação.
O evento é uma realização da Universidade Federal do Pará, por meio da Editora da UFPA, do Instituto de Ciências da Arte, da Escola de Teatro e Dança e da Escola de Música da UFPA, em parceria com a Fundação José Saramago. A concepção e a direção do espetáculo são de Vera Barbosa.
O elenco da apresentação em Belém é composto por cinquenta pessoas, entre atores, músicos e figurantes. De Portugal virão os atores Cláudia Faria (Blimunda), Sérgio de Moura (Baltasar) e João Brás (Padre Bartolomeu), do grupo ÉTER - Produção Cultural, que encena o Memorial do Convento desde 2008, no Palácio Nacional de Mafra, em Portugal. Do elenco também farão parte alunos da Escola de Teatro e Dança da UFPA e jovens e adolescentes que integram a Orquestra de Violoncelistas da Amazônia, da Escola de Música da UFPA, sob a regência do Professor Áureo DeFreitas, Ph.D. em Educação Musical pela University of South Carolina-EUA.Os arranjos das músicas de Domenico Scarlatti são de Renato Fabbri. O espetáculo também contará com vozes da Schola Gregoriana“Ad te levavi”, um projeto de extensão da Escola de Música da UFPA, com arranjo e regência do Professor André Gaby, Mestre em Canto Gregoriano pelo Conservatório de Turim, Itália.
O Livro
É o próprio Saramago que conta como surgiu a ideia de escrever o Memorial do Convento: “Um dia, estando em Mafra com algumas pessoas contemplando a fachada do Convento, pronunciei em voz alta as seguintes palavras ‘Gostaria um dia de pôr isto num romance’. Provavelmente, se não as tivesse dito em voz alta, se simplesmente o tivesse pensado e permanecido em silêncio, a própria dimensão da tarefa me haveria intimidado tanto que talvez não tivesse sido capaz de escrever o livro. Só que ao pronunciar em voz alta aquilo que tinha pensado, duma certa maneira senti-me obrigado perante as pessoas que me tinham ouvido, e que inevitavelmente me iriam perguntar, ‘Então, sempre escreves o romance sobre o Convento de Mafra?’” (Da Estátua à Pedra e Discursos de Estocolmo, Belém, ed.ufpa/Fundação José Saramago, 2013).
E continua: “[Memorial do Convento] É uma ficção sobre um dado tempo do passado, mas visto da perspectiva do momento em que o autor se encontra, e com tudo aquilo que o autor é e tem: a sua própria formação, a sua própria interpretação do mundo, o modo como ele considera o processo de transformação das sociedades. Tudo isto visto à luz do tempo em que ele vive, e não com a preocupação de iluminar o que os focos do passado já tinham clarificado. Ver o tempo de ontem com os olhos de hoje. Dar ao autor a liberdade de entrar e sair do romance que está a escrever, porque ele, no seu trabalho, é omnisciente, não está a realizar uma obra de arqueologia, os anacronismos são intencionais já que a visão pessoal do autor é tão válida e pertinente como a dos personagens que o narrador inventa e situa no tempo escolhido.”(Da Estátua à Pedra e Discursos de Estocolmo, Belém, ed.ufpa/Fundação José Saramago, 2013).
Memorial do Convento, publicado originalmente em 1982 pela editora portuguesa Caminho, é um dos mais populares romances de José Saramago. Nele, Saramago entrelaça acontecimentos e personagens verídicos com fatos e personagens fictícios. Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas são dois dos muitos trabalhadores que ajudarão na construção do convento de Mafra, erguido para quea rainha D. Maria Ana Josefa desse um herdeiro a D, João V. A chegada do Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão representa um viés na trama. Homem de ideias consideradas perigosas para a época, como a passarola, objeto capaz de voar, ele contará com a ajuda de Baltasar e Blimunda para concretizar sua invenção. Enquanto D.João V representa a monarquia absolutista, a tríade exemplifica a transformação do sonho em realidade.
O Palácio Nacional de Mafra
O Convento de Mafra começou a ser construído em 1717, sob o comando do arquiteto e ourives alemão João Frederico Ludovice. Considerado o maior empreendimento artístico e econômico do reinado de D. João V, a construção do Convento de Mafra só foi possível graças ao ouro e aos diamantes do Brasil colonial. Através desse projeto, D. João procurava reforçar sua autoridade real. A arquitetura do Convento foi inspirada na Roma papal e no barroco classicizante, que se refletiram numa fachada influenciada por Bernini e em torres de cariz borrominiano, com algumas influências germânicas.
O Convento de Mafra abriga uma das mais importantes bibliotecas portuguesas, verdadeira síntese do saber enciclopédico do século XVIII. A biblioteca possui chão em mármore, estantes em estilo rococó e uma coleção de mais de 40.000 livros com encadernações em couro gravadas a ouro, incluindo uma segunda edição de Os Lusíadas, de Luís de Camões.
A encenação do Memorial do Convento no complexo Feliz Lusitânia tornou-se possível graças à parceria da UFPA com a Fundação José Saramago e à mobilização de esforços de várias unidades da universidade, especialmente de grupos artísticos vinculados à Escola de Teatro e Dança e à Escola de Música. A apresentação toma como referência a montagem dirigida pela atriz Vera Barbosa em Lisboa, na própria Fundação José Saramago, em novembro de 2012. Na encenação em Belém, a montagem traz componentes artísticos adicionais, exigindo um elenco bem mais numeroso, e incorpora elementos da cultura amazônica no figurino, assinado pela Professora Ézia Neves,da Escola de Teatro e Dança da UFPA, e nos adereços cenográficos (como o miriti empregado na passarola do Padre Bartolomeu de Gusmão), produzidos pelo Professor Bruce Macedo, também da Escola de Teatro e Dança da UFPA(ETDUFPA).
O evento conta com o patrocínio da Secretaria de Estado de Turismo do Pará/Secretaria Especial de Desenvolvimento Econômico e Incentivo à Produção, da Sol, da Clínica Lobo e do Restaurante Benjamin.
A montagem conta também com o apoio dos Governos do Estado do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura /Secretaria Especial de Promoção Sociale do Sistema Integrado de Museus e Memoriais, e do Município de Belém, por meio da Fundação Cultural do Município de Belém, que possibilitaram o uso do ambiente do Complexo Feliz Lusitânia. O espaço é dos mais expressivos da presença portuguesa em Belém e, com sua arquitetura colonial, acolhe de modo singular as cenas relatadas na obra de Saramago.
Também apoiam o evento a Pró-Reitoria de Relações Internacionais/UFPA, a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação/UFPA, o Instituto de Letras e Comunicação/UFPA, a Academia Amazônia/UFPA, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/Ministério da Cultura/Governo Federal, Na Figueredo, o Vice-Consulado de Portugal em Belém, o grupo Éter Produção Cultural (Portugal).
Serviço:
Teatro musical Memorial do Convento
Concepção e direção: Vera Barbosa
Apresentações: 3 e 4 de outubro.
Hora: 19h.
Local: Igreja de Santo Alexandre/ Palácio Episcopal/ Museu de Arte Sacra, Praça Frei Caetano Brandão - Cidade Velha, Belém, Pará, Brasil.
Evento gratuito