Memórias de Belém

Leal Moreira é patrocinadora do livro "Feira da Noite"

05/12/2013 10:19 / Por: Lucas Ohana
Memórias de Belém


                                                                             Foto: Max Reis

Edgar Augusto Proença é um dos grandes ícones do jornalismo e da cultura paraense. Apresentador do programa de rádio “Feira do Som” - uma das mais respeitadas vitrines da música regional -, criado por ele há mais de três décadas, ele construiu sua carreira profissional trabalhando em conceituados jornais e com renomados artistas locais e nacionais. Prestes a lançar o livro “Feira da Noite” – patrocinado pela Leal Moreira -, Edgar nos concedeu uma entrevista imperdível. Confira:

Site da Revista Leal Moreira: Um dos enfoques do livro “Feira da Noite” é sobre as suas andanças boêmias por Belém nas décadas de 70 e 80. Qual a diferença da noite boêmia daquela época para hoje?
Edgar Augusto: Havia mais conversa, mais troca de ideias. Os bares daquele tempo não tinham pessoas com celulares, tablets e câmeras fotográficas desfilando. Nem telões passando lutas, futebol e clipes bregas. Havia maior interação social e cultural. Tenho saudade disso.

Quais eram os grandes “points” boêmios da cidade?
Bar-Teatro Maracaibo, Casa do Choro, Adega do Rei, Bar do Parque, Paricá e Trem das Cores. O Pedrinho Cavallero, apelidado pelo Ruy Barata de Operário da Noite, se revezava em quase todos eles.

Como foi o processo de seleção das histórias do livro? Você poderia nos adiantar algumas delas?
Como repórter sempre fui atento para o que se conversava, sobre as frases que eram ditas. As pessoas se impunham pelo bom papo e conhecimento cultural e político. Dava gosto ouvi-las. Ruy Barata era um ídolo para mim. Sua irreverência me encantava. Ele foi, sem dúvida, o maior daquela época. Certa vez, no Festival “Três Canções para Belém”, após cantar a música “Bom Dia Belém”, de meu pai Edyr Proença e de minha tia Adalcinda Camarão, fiquei entristecido pelo quarto lugar obtido. Vendo-me assim, Ruy profetizou: “Não te incomoda, Edgar. Vai ser a única a ser lembrada do Festival.” E realmente foi.
Fazer a seleção não foi fácil. Discuti sobre o assunto com o professor Max Reis, o Bira Porto e minha mulher, Silvia. Juntos, escolhemos os episódios que entendemos como os mais significativos e agora seja o que Deus quiser...

Anos 70 e 80, período de ditadura militar. Isso reprimia as manifestações boêmias e as expressões culturais em Belém?
Os redutos que eu frequentava eram habitados, em sua grande maioria, por gente ligada à esquerda, gente de PMDB, PT e PCB. Era gente que tinha, sobretudo, cuidado com o que dizia. Falava-se que em todos os lugares sempre havia gente da PF para saber quem era quem. Não diria que tal situação inibisse frases e exposição de ideias... Às vezes até aguçava mais as manifestações verbais. Tudo de acordo com o grau etílico atingido.

Outro enfoque do livro é sobre as suas experiências como carnavalesco do Quem São Eles. O que mudou do carnaval paraense daquela época para hoje? Qual era a grande rivalidade no carnaval de rua daquela época?
O carnaval daquele tempo me parecia mais cultural, com as escolas de samba abordando temas que acrescentassem algo de positivo a nossos valores regionais. Quando comecei no Quem São Eles, seu grande adversário era o Rancho Não Posso Me Amofiná, posto que a Embaixada de Samba do Império Pedreirense estava meio caída e os Boêmios da Campina sem desfilar. Depois apareceu o jogo do bicho polarizando o Rancho e o Arco-íris na disputa. Purista, sem “bicho”, minha escola ficou com a pecha de “intelectual”. Tivemos também um longo período de marasmo, de empobrecimento. Não gosto do que vejo agora. As agremiações andam carentes de líderes e de figuras que as representem diante da comunidade. Também de ligações com suas próprias raízes.

Qual a origem da sua paixão pelo carnaval?
Sempre adorei o carnaval das escolas. Morava na Presidente Vargas e tinha paixão pelos Boêmios e pelo Quem São Eles. Não perdia da janela do apartamento, seus desfiles. E eu só tinha uns oito anos de idade. Quando fui convidado por Rosenildo Franco, Luiz Guilherme Pereira, David Miguel e João de Jesus Paes Loureiro para reformular o “Quem”, fiquei muito feliz. Era o ano de 1972 e dali em diante nunca mais saí de lá.

Na relação “animação x organização”, qual a melhor passarela de samba que Belém já teve: Av. Presidente Vargas, Doca ou Av. Pedro Miranda?
Acho que o sambódromo da Pedreira é o palco de nossas escolas. Necessita, claro, de vários ajustes e fundamentalmente de boa vontade política. Mas, confesso que os carnavais mais gloriosos que assisti foram na Doca.

Além do enfoque nas suas andanças boêmias e como carnavalesco, o livro trará várias outros acontecimentos que você vivenciou. Você, que é referência em jornalismo, certamente presenciou vários interessantes. Você poderia destacar alguns deles que estão no livro?
Carlos Lyra veio a Belém fazer show no Maracaibo e, ainda no hotel, foi acometido de um problema na coluna vertebral que o impedia de ficar em pé. Médicos que estavam no bar foram buscá-lo no hotel, alugaram uma cadeira de rodas e o trouxeram todo “entrevado” para o palco. Lyra realizou o espetáculo. Mesmo fazendo caretas de dor, cantou maravilhosamente bem. Nunca me esquecerei.

O livro será lançado no dia 19 de dezembro e ele é bastante aguardado pelas pessoas que acompanham o seu trabalho. Qual a satisfação de vê-lo pronto?
Indescritível. Eu escrevi devagar o "Feira da Noite" com receio e preguiça. Mas, depois do estímulo familiar e de amigos como Max Reis e Bira Porto, decidi tocar o barco adiante. Quando vi a “boneca” do livro me emocionei. Provavelmente ficarei ainda mais emocionado no dia do lançamento.

Qual a importância de ter empresas como a Leal Moreira patrocinando o livro?
Uma importância enorme. Afinal, a Leal Moreira é uma empresa vinculada à cultura e aos nossos melhores valores regionais. A revista da Leal e o site da empresa, por exemplo, são referências de posicionamento e compromisso. Fico deveras orgulhoso com o patrocínio. É uma honra.

Serviço:
Lançamento do livro “Feira da Noite”, de Edgar Augusto.
Data: 19/12
Hora: 19h
Local: Centro Cultural SESC Boulevard (Av. Boulevard Castilhos França, 522, em frente à Estação das Docas)

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