Música na veia

Ator carioca revela paixão pelos sons em carreira bem-sucedida de DJ.

13/06/2011 16:02 / Por: Luiza Cabral
Música na veia

 

Em entrevista exclusiva e descontraída para a 29ª edição da revista Leal Moreira, o ator carioca Lúcio Mauro Filho, que tem um leque invejável de atividades artísticas, declara sem muitas pretensões: “Gosto de ser tratado como um cidadão comum”. Em um bate-papo no Leme, na capital carioca, ele falou sem muitas dificuldades sobre os mais variados assuntos: os trabalhos que se acumulam no currículo, o amor pela família e a boa relação com a imprensa.

Tudo isso com a tranquilidade de quem leva a vida numa boa. Veja a seguir um trecho inédito da entrevista que o artista concedeu à revista Leal Moreira em que fala da estreita relação com a música, calcada numa bem-sucedida carreira de DJ. Mais uma faceta de um “cara normal”.

Você é DJ e tem um canal no Youtube (https://www.youtube.com/user/ovideota) no qual posta vídeos com versões suas de voz e violão para diversas canções. Como é essa relação com a música?

Ela é muito presente. Em parte por causa da mamãe, que tocava violão. Cresci ouvindo Caetano, Gil, Novos Baianos, Doces Bárbaros... E ao mesmo tempo a música pop, o rock BR e todas essas influências de um momento da música mundial em que a pessoa que está no Brasil curte as mesmas coisas que aquela que está fora. Peguei a democracia mesmo, a lambada brasileira fazendo sucesso na Europa, coisas regionais nossas sendo descobertas... Isso tudo começou na década de 1980, que foi quando me tornei adolescente, quando comecei a tocar violão. As primeiras recordações de música que tenho são da disco, do Dancin' Days, da Black Rio, Donna Summer. Isso também trouxe a cultura do DJ. A brincadeira começou aos 15 anos, quando veio a febre de ter uma equipe de som no Rio de Janeiro, na época do toca-discos e da fita k7. Levava fitas com as minhas mixagens toscas e os amigos já diziam "pô, Lucinho, não te esquece de levar a trilha da festa...". Quando vieram os CDJs, que democratizaram de novo a questão do DJ, eu já estava trabalhando na noite com a minha mulher. Era natural que eu acabasse caindo nessa história. Hoje em dia, posso dizer que é um trabalho também. Já toquei em várias festas, hoje faço dupla com o Rodrigo Pena no Bailinho, que é uma festa do Rio que viaja o Brasil inteiro. É ótimo, já que não faço "presença especial" em lugar nenhum. Porque detesto ganhar dinheiro para não fazer nada. Para ganhar, prefiro trabalhar. O DJ acabou virando uma ferramenta maravilhosa. Do tipo (começa um diálogo imaginário): "traz o Lúcio Mauro Filho pra cá". "Pra quê?". "Pra tocar de DJ". "Aaah, tá". Aí ele me vê lá tocando, a noite toda, para receber aquela grana e já respeita de outro jeito. A música continua em alta na minha vida. Tenho inclusive um projeto musical para TV junto com o meu parceiro, André Moraes, que é um trilheiro de mão cheia. Aguardem novos movimentos musicais meus por aí (risos).

Você tem uma relação muito especial com o movimento funk. Como é isso?

Meus pais sempre gostaram muito da noite, por isso mesmo muitos DJs acabaram ficando amigos nossos, inclusive os precursores disso, quando ainda nem era o funk carioca e sim aquela black music americana, o charme, o R&B contemporâneo... Peguei realmente o início do movimento. Sei da luta de todos esses artistas que estão por aí, tenho um carinho especial e gosto dessa loucura. Do favelado que não tem equipamento nenhum e vai lá, faz a música dele. Assim como o tecnobrega, que começou num gueto e virou expressão nacional, eles não precisaram sair da terra deles para fazer. Assim é o funk, embora ele seja bem mais marginal, tem ligação com a favela, com o tráfico. Por isso mesmo acho importante que os artistas que tenham identificação com o movimento ajudem a promover o lado bom dele, de inclusão, que traz para música potenciais soldados do tráfico. Se a música puder salvar, que maravilha! Já salvou tanta gente, por que não salvar os funkeiros? Acabei, por todas essas afinidades, me tornando um defensor do funk, mas acima de tudo porque gosto. Quando toca, dançar é inevitável. Acho que o funk ainda vai dar alguns saltos e quebrar alguns preconceitos. Se eu puder ajudar, melhor ainda.

O que falta fazer ainda? Como você se vê daqui para frente?

Quero experimentar tudo, claro. Acho que ainda falta uma aproximação maior com o cinema. O fato de estar tantos anos no mesmo trabalho impede um pouco porque é difícil conciliar a agenda... Acho que se a série acabar, vou dar um tempo de televisão, para as pessoas não enjoarem de mim. Turismo é uma coisa que me interessa muito, então é algo que tenho em mente. Não sei direito o que é. É um estabelecimento que eu quero ter? Uma prestação de serviços? Não sei, mas turismo é uma coisa que me encanta. Gosto muito de viajar, de planejar, fazer roteiros. É um bom projeto para uma aposentadoria. Já estou pensando nisso... Por que, né? (risos).

Mas é aquele negócio, já começo a pensar que daqui a pouco não vou conseguir fazer tudo isso. Não vai nem me interessar. Vou querer estar mais perto da minha família, e o trabalho artístico muitas vezes vai te empurrando para fora. Acho que a minha tendência é criar um teatrinho. Um espaço para formar pessoas é uma boa ideia também... Acho que ser filho de um cara muito mais velho que eu – são 50 anos de diferença – me possibilitou que eu convivesse com diferentes gerações. Essa convivência muito plural traz um capital. Acho que consigo entender os diferentes momentos da comédia brasileira, dos artistas brasileiros. Isso já tem me dado um know-how para poder aconselhar e já tem gente que me procura para consultoria artística de carreira... Minha mulher é uma agente, então a gente troca essas informações, e é bem possível que eu acabe trabalhando nesse sentido. Ou de formação de atores ou de profissionais do teatro. Muitas possibilidades (risos). Foi boa a entrevista? Poxa, eu falo tanto...

Mais matérias Nacional

publicidade