"O novo nome da paz", por Emmanuel Matos

Colunista reflete sobre as atuais tensões sociais

17/09/2022 09:00 / Por: Emmanuel Matos / Foto: Divulgação

 Aristófanes em 421 a.C. escreveu a comédia “A PAZ”.  Uma crítica á guerra no Peloponeso.

O autor coloca nas mãos de um agricultor (Trigeu) a missão de ir até o Olimpo para reclamar com os deuses o fim da contenda, mas ao chegar lá percebe que esses, chateados com os homens, haviam se ausentado, deixando a deusa PAZ aprisionada. Quanto ao resto sugiro que se leia a comédia.

Época distante, tema atual. A história da literatura é farta no tema e a poesia lhe foi generosa.

Eu me ponho no lugar de um reles cidadão do Séc. XXI favorecido pelo direito dado a todo cidadão de se expressar.

A tensão entre as gentes por razões ideológicas é um dos grandes males atuais e, as guerras, cada vez mais, deixam evidentes as suas inutilidades porque todos perdem. E os acirramentos ideológicos, apenas preparam novas guerras.

 Eu também tenho um sonho e posso resumi-lo assim: “A UNIDADE É O NOVO NOME DA PAZ”. Unidade e não a homogeneidade, enraizada no amor às diferenças e cultivada com o diálogo permanente, incansável, ao ponto de se dispor a entender o outro até se descobrir o que dele pode me enriquecer. Unidade fruto da compaixão e da partilha do pão uma vez que toda a riqueza do mundo nasce de toda a coletividade universal. Uma unidade fruto da descoberta de estarmos numa casa só e que somos todos irmãos.


O NOVO ITINERÁRIO DE TRIGEU

I

Fica para sempre

Estabelecida 

A auto-proibição

De querer dissuadir

Os outros, 

Sejam estes quem sejam, 

E em qualquer circunstância

Por respeito à dignidade alheia.

II

Durante qualquer encontro

Cada um se disporá ao silêncio

Com posição de escuta

E também de fala

Quando calar for necessário

Para o bem dos sujeitos.

III

Falar será um ato de amor

E de interesse sincero 

Pelas necessidades alheias,

Sejam estas de pessoas,

Grupos, classes, cidades

Estados ou nações.

IV

"Não ser" passará à condição

De saúde mental 

Para que o "ser" seja 

Um ato autêntico e libertador.

V

A cada amanhecer

Todos se disporão a evitar

Qualquer ato de violência

Seja esta resultado

De força física, arma ou psíquica.

E se comportará assim 

Até a hora do sono.

VI

Duvidar do próprio pensamento

Será o primeiro 

Exercício heurístico do dia

E resposta alguma se formulará

Até que se entenda o interlocutor

Na profundidade da sua alma.

VII

As ideias alheias serão

Objeto de respeito

Antes de qualquer condenação

E diante das virtudes alheias

Seremos capazes de elogios,

E reconhecimento explícito.

VIII

As deficiências nossas

Assim como aquelas alheias

Serão corrigidas 

Com amor e compaixão 

Para enriquecermos juntos.

IX

Nada será reduzido

A nenhum aspecto da realidade

E o homem será visto

Em sua ampla complexidade.

Não avisaremos ninguém

Sem antes olharmos no espelho.

X

"Não faremos a ninguém 

O que não gostaríamos

Que fosse feito a nós" para 

Que a paz fosse duradoura,

Senão, perene.


Emmanuel Matos

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