Aristófanes em 421 a.C. escreveu a comédia “A PAZ”. Uma crítica á guerra no Peloponeso.
O autor coloca nas mãos de um agricultor (Trigeu) a missão de ir até o Olimpo para reclamar com os deuses o fim da contenda, mas ao chegar lá percebe que esses, chateados com os homens, haviam se ausentado, deixando a deusa PAZ aprisionada. Quanto ao resto sugiro que se leia a comédia.
Época distante, tema atual. A história da literatura é farta no tema e a poesia lhe foi generosa.
Eu me ponho no lugar de um reles cidadão do Séc. XXI favorecido pelo direito dado a todo cidadão de se expressar.
A tensão entre as gentes por razões ideológicas é um dos grandes males atuais e, as guerras, cada vez mais, deixam evidentes as suas inutilidades porque todos perdem. E os acirramentos ideológicos, apenas preparam novas guerras.
Eu também tenho um sonho e posso resumi-lo assim: “A UNIDADE É O NOVO NOME DA PAZ”. Unidade e não a homogeneidade, enraizada no amor às diferenças e cultivada com o diálogo permanente, incansável, ao ponto de se dispor a entender o outro até se descobrir o que dele pode me enriquecer. Unidade fruto da compaixão e da partilha do pão uma vez que toda a riqueza do mundo nasce de toda a coletividade universal. Uma unidade fruto da descoberta de estarmos numa casa só e que somos todos irmãos.
O NOVO ITINERÁRIO DE TRIGEU
I
Fica para sempre
Estabelecida
A auto-proibição
De querer dissuadir
Os outros,
Sejam estes quem sejam,
E em qualquer circunstância
Por respeito à dignidade alheia.
II
Durante qualquer encontro
Cada um se disporá ao silêncio
Com posição de escuta
E também de fala
Quando calar for necessário
Para o bem dos sujeitos.
III
Falar será um ato de amor
E de interesse sincero
Pelas necessidades alheias,
Sejam estas de pessoas,
Grupos, classes, cidades
Estados ou nações.
IV
"Não ser" passará à condição
De saúde mental
Para que o "ser" seja
Um ato autêntico e libertador.
V
A cada amanhecer
Todos se disporão a evitar
Qualquer ato de violência
Seja esta resultado
De força física, arma ou psíquica.
E se comportará assim
Até a hora do sono.
VI
Duvidar do próprio pensamento
Será o primeiro
Exercício heurístico do dia
E resposta alguma se formulará
Até que se entenda o interlocutor
Na profundidade da sua alma.
VII
As ideias alheias serão
Objeto de respeito
Antes de qualquer condenação
E diante das virtudes alheias
Seremos capazes de elogios,
E reconhecimento explícito.
VIII
As deficiências nossas
Assim como aquelas alheias
Serão corrigidas
Com amor e compaixão
Para enriquecermos juntos.
IX
Nada será reduzido
A nenhum aspecto da realidade
E o homem será visto
Em sua ampla complexidade.
Não avisaremos ninguém
Sem antes olharmos no espelho.
X
"Não faremos a ninguém
O que não gostaríamos
Que fosse feito a nós" para
Que a paz fosse duradoura,
Senão, perene.
Emmanuel Matos