O nome do livro surgiu naturalmente, já que derivou do blog homônimo, também de autoria do jornalista paraense Anderson Araújo. A inspiração veio de uma música de Paulinho da Viola, "Bêbado Samba", misturado com o termo "jornalismo gonzo". Com pouco mais de três anos e 350 mil acessos, o blog ‘Bêbado Gonzo’ se tornou um dos comentados de Belém. Seu conteúdo irreverente, bem humorado e com uma dose extra de ironia e pitadas de sarcasmo, caiu nas graças (e preferência) dos internautas ‘papa-chibés’. Foi com esses ingredientes que seu autor, o jornalista, blogueiro (e agora escritor) Anderson Araújo tem conquistado, a cada dia, mais leitores. Atendendo a um "chamado natural", Anderson resolveu juntar essas histórias em um livro, previsto para ser lançado no início de março.
A motivação para tirar o sonho da gaveta? Em 2012, um diagnóstico equivocado de um câncer assustou o jornalista, que resolveu por em prática suas metas. Em uma entrevista bem interessante e super descontraída para o Site da Revista Leal Moreira, ele dá detalhes do seu mais novo trabalho.
Site da Revista Leal Moreira – De onde veio à inspiração para criar o blog?
Anderson Araújo - O Bêbado Gonzo nasceu de um momento ocioso e, de certa forma, de uma crise profissional. Com um pouco de tempo para escrever, comecei a soltar textos feitos sem seguir as regras do jornalismo diário, às quais eu andava preso. Sempre foi um espaço de liberdade para escrever como eu acho que devo e sobre o que eu quiser. E foi assim mesmo: fui abordando coisas de Belém, comportamentos, problemas, observações, contando algumas mentiras também, porque eu não sou santo e não havia compromisso nenhum com a veracidade. Fui também escrevendo umas memórias e textos de ficção, como exercício. Fui gostando de explorar essas possibilidades. Hoje tenho postado menos, com menos frequência, mas ele continua vivo e, de vez em quando, coloco algo novo.
S.R.L.M - Porque o nome do blog: Bêbado Gonzo?
A.A - É uma brincadeira como na música do Paulinho da Viola, "Bêbado Samba". Na verdade, eu não tinha um nome melhor. Estava lendo muitos romances de não-ficção, ou o tal do Novo Jornalismo, o Jornalismo Gonzo. Me identifiquei com Gay Talese e essas coisas todas. Então resolvi fazer essa graça. Sempre me perguntam se não tinha um nome pior do que esse e eu respondo que dificilmente acharia um menos apropriado, mais feio e tão sujeito a trocadilhos e maledicências. No final das contas, acostumei com ele, embora eu não seja um bebedor inveterado, ainda que tome minhas cervejas, nem escreva na linha do jornalismo gonzo, do Hunter Thompson.
S.R.L.M - Como surgiu a ideia de criar o livro?
A.A - O livro é um desejo comum a quase todo mundo que se mete a escrever. Pensei algumas vezes em publicar um livro, mas sem muita convicção. Com o blog, comecei a exercitar um pouco mais a imaginação e misturar memórias com os fatos em si. Algumas pessoas mencionaram que já havia texto suficiente para um livro. No começo de 2012, tive um susto muito sério com minha saúde. Fui diagnosticado com um câncer - que depois, ora veja, descobri que era um diagnóstico equivocado, que estava tudo bem. Com esse episódio, resolvi que alguns projetos pessoais tinham que sair do plano das ideais e se tornar reais. Um deles era o livro. Comecei a me mexer em maio do ano passado. Chegaram pessoas fundamentais para esse projeto, como a Gabi Dias, que é publicitária e designer e fez todo projeto gráfico. Mais gente também apostou no livro. Já em agosto, veio a ideia do crowdfunding e, apesar do receio, meti a cara. Os apoios chegaram e olha só: o livro está pronto.
S.R.L.M - O conteúdo de seu blog se torna interessante pela forma como é escrito. Percebe-se uma proximidade muito grande com o que acontece nas ruas, com uma dose de sarcasmo, ironia e humor. Esse é o segredo do sucesso?
A.A - Talvez alguns textos tenham provocado mais acessos do que os outros. Alguns posts fiz conscientemente para atrair leitores para o blog, como um que listava beldades entre nossas colegas jornalistas de Belém. Outro sobre um furdunço em uma confraternização entre profissionais da imprensa. Teve ainda um com os monumentos mais feios de Belém. Enfim, geralmente, os textos com observações bem humoradas (ou muito mal humoradas) renderam mais comentários, mais acessos. Outros nem tanto. Não tem uma receita, não tem um segredo. Só escrevo o que quero no blog.
S.R.L.M - O que mais te motiva nesse trabalho?
A.A - Não acredito que seja por motivação. Escrever é parte do que faço para ganhar a vida. Faço porque me propus a trabalhar com texto, com a palavra e também porque não quero ficar apenas no Jornalismo. Penso que a linguagem jornalística e, principalmente, a função do jornalismo como "aprisionador" e "difusor" do real, da realidade, é muito pobre. Ainda acredito que a imaginação, que a ficção e a reelaboração da vida, do que ocorre de fato, ainda sejam muito mais interessantes. Tenho esse arroubo de criar e não apenas relatar o que eu vejo. Quero interferir. Talvez seja essa a motivação, se é que existe uma, para escrever fora do que se convenciona a chamar de jornalismo.
S.R.L.M - Contar histórias parece ser o seu hobby e sua profissão, não é mesmo?
A.A - Contar histórias é premissa do bom Jornalismo. Acredito que escrever seja muito mais uma necessidade pessoal, uma forma de exibição de habilidade (por que não dizer de vaidade também?) e interpretação do mundo do que um hobby. Escrevo e conto histórias porque minha profissão exige isso. Escrevo de forma, digamos, mais livre porque tenho essa necessidade também. A palavra hobby me parece estar ligada à distração, a uma forma divertida, leve e fazer algo que se gosta. Escrever não é nada disso. Requer um esforço, concentração, embora seja sim prazeroso de alguma forma, mas esse prazer está muito mais ligado ao resultado desse ato do que no ato em si.
S.R.L.M - Boa parte do livro vai contar com textos conhecidos dos seus leitores e uma outra parte é formada por conteúdos inéditos, é isso mesmo? O que você pode adiantar sobre essas novidades?
A.A - O livro tem 25 textos. Alguns foram publicados no blog. Mas acredito que pouca gente prestou atenção neles quando estiveram nas postagens, porque a maioria é texto de ficção ou crônica, justamente os com menos acesso comparados aos textos sobre situações factuais ou com as observações bem humoradas. Já os novos textos foram feitos exclusivamente para o livro, com uma linguagem mais apropriada para quem gosta de ler no papel e não na tela do computador. Minhas histórias não são extraordinárias e com estes contos e crônicas é diferente. Acho que vale mais a forma e o jeito de contar do que a situação em si. Minha tentativa de prender o leitor é mais ou menos essa.
S.R.L.M - Quais as maiores dificuldades para a conclusão desse trabalho?
A.A - Publicar um livro no Brasil é uma aventura desgastante. Publicar por meio de um financiamento coletivo, no qual você depende da solidariedade de amigos, conhecidos, de admiradores da forma que você escreve, é mais ainda. Tudo é muito incerto, muito lento, muito tenso. Os riscos são enormes. De dar errado, de acontecer algo fora do esperado, de decepcionar quem confiou e apostou no seu trabalho. O medo de tudo isso é um complicador. Foram preciso muitas doses extras de paciência e de ânimo para chegar ao fim. Mas, chegamos: o livro está pronto. E os apoiadores em breve vão receber suas recompensas e suas cópias.
----
Aprecie os textos e dê boas gargalhadas lendo o blog ‘Bêbado Gonzo’. O jornalista Anderson Araújo também é colunista da Revista Leal Moreira. Para ler as crônicas, basta acessar o nosso site.