“Ver o peixe, ver o homem, ver a morte, ver o peso.” Assim termina o poema de Max Martins sobre o Ver-o-Peso. A maior feira livre da América Latina completou recentemente 386 anos. É localizada na travessa Boulevard Castilho França, Cidade Velha, cartão-postal e ponto turístico da capital paraense – e faz parte dos monumentos históricos mais famosos de Belém.
As palavras acima citadas se encontram hoje na Praça da Poesia, ao largo do conjunto IAP, em uma placa de 50 por 70 cm, contendo ainda uma ilustração simbólica do Ver-o-Peso. A homenagem está inserida em um projeto especial que valoriza as lembranças de uma cidade que ainda habita o imaginário da população da capital. Parte do Núcleo Cultural Casa da Memória da Universidade da Amazônia e implantado em 1999, o Belém da Memória resgata esse inconsciente coletivo, e foi idealizado pelos professores Paulo Nunes e Josse Fares.
A iniciativa teve, e persiste, como uma forma de voltar os olhares das pessoas para a história da cidade, seus monumentos históricos e sua memória – em busca da conscientização da população. São mais de 30 placas instaladas desde 2003, que trazem a palavra de escritores que passaram por aqui, ou nasceram aqui, e declararam em seus textos um amor, fascínio, ou uma visão simbólica dos monumentos históricos da Belém do Grão Pará. Entre os prosadores e poetas estão Mário de Andrade, Paes Loureiro, Max Martins, José Ildone, Manuel Bandeira, Age de Carvalho, Augusto Meira Filho, Bruno de Menezes, Eneida, Dalcídio Jurandir, Ignácio de Loyola Brandão, Bruno de Menezes, Adalcinda Camarão, Carlos Heitor Cony, Luís Fernando Veríssimo, dentre outros selecionados para agraciar cada um dos monumentos.
Entre os amores vividos entre a cidade e os escritores, destaca-se o “Grande Hotel” retratado nas palavras de Mário de Andrade em “Carta à Manuel Bandeira” – durante a histórica viagem à Amazônia, em 1927 –, placa localizada na fachada do Belém Hilton Hotel, na Avenida Presidente Vargas. Na época, ele figurava como maior estabelecimento hoteleiro construído no norte do Brasil e ainda localizado em um ponto cultural estratégico, já que o endereço é próximo do Theatro da Paz e do centenário Cinema Olympia.
Segundo os idealizadores Paulo Nunes e Josse Fares, esta proposta almeja, essencialmente, deixar “raízes à mostra, prontas para frutificar no coração das pessoas que habitam a cidade”, e ainda “revolver as águas das chuvas e deixar registradas – à flor da pele – algumas destas emoções”, como as declaradas pelos profissionais da palavra que por aqui passaram.
Trazendo para uma esfera um pouco diferente, com o objetivo tanto de resgatar essa proposta de saudosismo da memória paraense como de apresentar outro olhar para as pessoas que visitam a cidade, está aberta uma exposição com essas placas no espaço do Mangal das Garças, em Belém – local por onde passam milhares de turistas do mundo inteiro, interessados na rica história da nossa cidade.
A mostra fica aberta a visitação até 15 de abril, e podem ser vistas de terça-feira a domingo, de 9h às 18h.
A entrada é gratuita