Rota da Mandioca: cultura e sabor em viagem gastronômica

Chef de Cozinha e pesquisador da culinária paraense, Ricardo Frugoli promove o Pará através de roteiro turístico

12/12/2014 17:04 / Por: Fotos: Rodrigo José
Rota da Mandioca: cultura e sabor em viagem gastronômica
 
Ricardo é paulistano de nascença mas paraense de corpo e alma. Conheceu o Estado há mais de dez anos, e desde então se dedica à pesquisa com foco na gastronomia, área que elegeu como formação. Foi operador de turismo, produtor musical e, com as experiências que adquiriu se reencontrou na culinária, na paixão por reunir pessoas ao redor da mesa, contar e ouvir histórias e leva-las ao encontro de uma experiência que possa unir sabor e aprendizagem. Este foi o mote que o levou a montar os Roteiros Gastronômicos, e a primeira viagem, obviamente, foi no Pará.
 
No final de novembro, Ricardo trouxe a imprensa do Rio e São Paulo, em parceria com a PARATUR, para fazer a Rota da Mandioca, roteiro montado especialmente por ele através de sua empresa, o Laboratório do Sabor. O objetivo, é de fazer as pessoas conhecerem a cultura da região, degustar os sabores,  aprender sobre seus ingredientes, características e ver de perto a comunidade que a produz. O roteiro passa por Belém e Bragança e dura, em média, uma semana.
 
 
A ideia de permear a viagem pela história de produção e comercialização da mandioca é de reconhecer a importância que esta possui na cultura da região amazônica e do Brasil. “A mandioca está no cerne da cultura brasileira e mais ainda dos paraenses, desde os indígenas. É impossível lhe negar tamanha importância”, afirma o Chef. A primeira parada em Bragança confirma com propriedade tal argumento. São feitas visitas com o intuito de divulgar a cultura bragantina. Pratos típicos são servidos em panelas de barro e as farinhas já são as grandes protagonistas da viagem.
 
Seu Bené, o astro da vez
 
Um dos pontos altos da Rota é a visita à casa do Seu Bené, ou “O Professor da Farinha”, como ficou mais conhecido. Aprendeu a fazer farinha com o padrasto e a mãe, trabalhou na agricultura e saía a oferecer seu produto aos “homens de bens”, como mesmo contou. Para conservar sua única fonte de renda, fez um paneiro de folhas e palhas. Criou fregueses que levavam seus paneiros até Belém e lá, finalmente, Seu Bené foi descoberto.
 
O paneiro detalhadamente elaborado embala a farinha praticamente à vácuo, coberta por folhas finas e trançado com palha de guarumã. Seu formato é tão peculiar que chamou a atenção da Chef Teresa Corção, que em uma das visitas a Belém, fez questão de conhecer Seu Bené. Através do Instituto Maniva e do movimento Slow Food, Teresa levou-o à Itália, para participar do Terra Madre, evento que reúne pequenos produtores de todo o mundo. “Esse foi o maior acontecido que aconteceu na minha vida”, diz ele emocionado, ao lembrar da viagem.
 
 
Hoje Seu Bené é reconhecido, ficou mais próximo das autoridades e faz questão de contar a todos sua história. A importância de figuras como ele na Rota da Mandioca, segundo o próprio Ricardo, é o entendimento da importância da produção artesanal e a consciência de sua valorização para a história de região. “São muitos ‘Benés’ espalhados pelo Brasil afora e todos merecem reconhecimento e algum retorno deste trabalho”, afirma.
 
Belém, cenário de (re)descobertas
 
A Rota da Mandioca segue em Belém com visitas aos pontos turísticos e também a lugares peculiares de conhecimento cultural. Além do Ver-o-Peso, Estação das Docas e da Ilha do Combu, é possível conhecer uma casa de tacacás ter aulas sobre como preparar um tradicional “Almoço do Círio”. “A ideia é fazer com que o turista, após conhecer cada ingrediente, possa ter com ele o contato cultural do cotidiano paraense”, afirma Ricardo.
 
Nete, a anfitriã que abre as suas portas para o roteiro, conta sobre as reuniões de família, histórias do Círio de Nazaré e da sua devoção pela festa. Para Robson Bernardo, um dos participantes da viagem, este é outro diferencial da Rota da Mandioca. “Não só conhecemos a cidade e sua comida, mas podemos viver um pouco da relação entre os dois e da emoção de seus conterrâneos em momentos como este”, diz.
 
O último dia vira surpresa com a Ilha dos Papagaios. A saída é programada para as quatro da manhã, e, antes, é possível passar pela feira do açaí e presenciar a chegada de mercadorias. A revoada dos pássaros que cobre o céu de alvorada causa estagnação em meio a tanta natureza e cidade, ambos separados pela água do rio. Um delicioso café da manhã na Ilha do Combú é seguido da visita às produções artesanais de cacau, que tem ganhado espaço na gastronomia amazônica.
 
Tanto em Bragança quanto em Belém, a Rota da Mandioca permite ao participante viver não apenas o sabor da cozinha amazônica, mas o cotidiano de uma região intimamente ligada à natureza. A proposta cultural é muito bem conduzida e cada visita tem uma proposta de reflexão. Participar de um roteiro gastronômico como esse é uma experiência única de sabores e descobertas. Reconhecer o elo com a natureza, a importância de cada prato servido e o sabor de quem produz na Amazônia é, sem dúvida, o melhor gosto que se pode levar da viagem.
 
Próximas datas da Rota da Mandioca em janeiro de 2015
 
Para saber mais:
Facebook: Laboratório do Sabor / Ricardo Frugoli

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