É assim com Frida Kahlo, Carmem Miranda, Elvis Presley, Clint Eastwood, Marilyn Monroe, Janis Joplin. Para o artista, foi uma mania de infância que o fez ter em cores como vermelho e laranja, em forma de labaredas, a sua grande marca. Ele admite que sempre foi apaixonado pelo fogo. “Quando criança, eu botava fogo em tudo. Não podiam me deixar sozinho que eu já arrumava um incêndio pra fazer. Quando me tornei artista, incorporei essa verdade à minha identidade visual. Em termos conceituais, meu trabalho também dialoga com todos os significados que o fogo tem para mim, como reunião, proteção, destruição, criação, luz, evolução, transformação etc. Dessas, a superação é a que mais me inspira e o fogo me lembra superação”, revela.
Mas antes de se aventurar pelas tintas, Portella trabalhou por 15 anos no mercado publicitário, com foco em comunicação e vendas. Não à toa, essa também é uma marca da sua trajetória artística: aliar mercado e sensibilidade. Hoje em dia, ele tem obras em coleções particulares em diversos pontos do mundo: Miami, San Diego, Toronto, Amsterdã, Genebra, Zurique, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Engajado, Portella foi um dos artistas a serem selecionados para compor o livro “The Art Book Brasil” (2015), da editora Decorbook. “O artista é empreendedor de sua carreira”, define.
As obras com rostos de famosos fazem parte da série intitulada “Ícones de Fogo”, que retrata personalidades de tempos distintos e que para o artista, assim como o fogo, acabaram sendo fundamentais para transformar os espaços sociais por onde passaram. Por conta desta característica, ele conta que é a série de obras com a qual o grande público mais se identifica, gerando maior empatia com seu público e servindo de base para outras séries como: “Brasil”, “The Forgotten” e “A Parte Que Queima”. Todas elas podem ser acessadas pelo Instagram @portmanilustra e pelo www.brunoportella.com.
Arte e mercado
Portella tem ciência que esses rostos são, atualmente, bastante mercadológicos, seja por estarem ligados à uma causa social ou política, como é o caso da artista e ativista mexicana Frida Khalo. Questionado sobre como ele analisa Arte e Mercado na própria carreira, ele afirma, seguro: “Incendeio ambos!”. Ele explica que, em sua opinião, existe uma crença errada que para que o artista possa vender seus trabalhos, ele precise fazer um trabalho meramente comercial. “Isso está errado. O artista, na verdade, tem de desenvolver cada vez mais o sua técnica e conceito, transformando-o em algo cada vez mais relevante para sociedade e junto com isso ser comercialmente forte como empreendedor e protagonista da sua carreira”, diz.
“Mercado ou Arte? Eu alimento e incendeio os dois! Evoluo cada vez mais minha técnica e conceitos artísticos sem moderação e deixo a parte comercial para o meu poder de ser relevante ao próximo, de fazer networking, comunicação, geração de conteúdo, negociação e licenciamento”, reflete.
Além do fogo, outro fascínio de Bruno são os rostos. Por isso são predominantes em suas telas, pelo encanto de retratá-las. “Talvez tenha a ver com as metáforas do fogo que também se repetem na vida de cada um de nós. Esta relação vem da influência grega e renascentista no meu trabalho. A parte da construção é bem acadêmica. Depois eu desconstruo com o fogo e as espátulas”, explica.
Por conta dessa habilidade, Portella venceu dois ArtBattles Amsterdam, na capital da Holanda – evento internacional que existe há 15 anos e é uma batalha de arte, em que o artista tem 20 minutos para pintar uma tela, com rounds de oito artistas. O maior desafio, no entanto, não é enfrentar os demais artistas, e sim, conquistar o público, pois são as pessoas que observam o evento que votam. Para Bruno, trata-se de uma experiência de democratização da arte. No Brasil, ele também é bicampeão do ArtBattle Lounge.
‘Somos a meca do graffiti mundial e os street artists estão tendo muito sucesso nos eventos nacionais. O ArtBattle é uma vitrine incrível para os artistas e eu recomendo a todos passarem por esta experiência. Participar do ArtBattle moldou minha técnica artística e me ajuda muito na construção do meu nome como artista”, ele conta.
Outro evento importante de sua carreira foi o convite para expor no Memorial da América Latina, com imagens de ícones políticos importantes da nossa história recente, como Emiliano Zapata, Eva Perón e a própria Frida. “O convite foi resultado do trabalho que eu realizo de segunda a domingo há mais de 10 anos”, diz, pedindo que o belisque para ter ideia de que isso foi verdade, pois o Memorial apresenta mostras de ícones Latino Americanos e Zapata. “O convite veio diretamente da Diretoria e da Curadoria e isso é um sinal muito importante da abertura e democratização que o local vive atualmente. O resultado disso está sendo um aumento de empatia e o redescobrimento do Memorial da América Latina pelo grande público e pelos jovens”, acrescenta.
Projetos futuros
Para 2020, Bruno Portella planeja o lançamento de novas séries de obras figurativas e também de uma série de trabalhos mais abstratos. Ele está em cartaz com a exposição coletiva, a “ArtWeek 5”, na galeria de arte do Alphaville Tenis Clube, com entrada gratuita. Já para 2020, ele prepara uma nova exposição no Memorial da América Latina, intitulada “Tolerancialismo”.
Além de telas, o artista também desenvolve sua própria marca de roupas, que leva apenas seu sobrenome “Portman”, e apresenta estampas de suas pinturas. Ele adianta que o plano é expandir em 2020, já que teve uma boa experiência: o primeiro lançamento da marca, o moletom Portman Metallica, se esgotou em 45 dias.
E ainda como parte de sua carreira multidisciplinar, este ano ele começou também a fazer mentorias e cursos para artistas, por meio do perfil @atelierbrunoportella, com foco em vendas de trabalhos artísticos e comunicação e marketing para engajamento de público. “Lá os artistas recebem dicas valiosas e pílulas de mentoria gratuitas sobre como vender a sua arte. Em setembro e outubro agora começo também como palestrante de Gestão Artística nos eventos Epicentro 2019 e durante as rodadas de palestras do 5º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Alagoas no qual também estarei expondo como artista convidado”, diz.
E parece que ele quer voar ainda mais alto: “já estão rolando os convites para palestrar em 2020. Planejo também o lançamento de um livro para 2020 ou 2021. Vem muita coisa legal por aí!”, promete.