Sentimentos contraditórios me assaltaram quando li a manchete deste post há poucos dias. Confesso que ainda estou perturbado imaginando o Arquiteto da Matrix, o HAL de 2001 ou o Exterminador do Futuro chegando. Até fechei a porta do quarto e me escondi debaixo do travesseiro. O que o futuro que a ficção imaginava nos reserva?
Sou dos tempos jurássicos da tecnologia, Steve Jobs e Bill Gates ainda davam seus passos iniciais na Apple e Microsoft quando eu escrevia meus primeiros códigos de programação. Não havia surgido o computador pessoal e o foco era automatizar as operações repetitivas das corporações: contabilidade, faturamento, folha de pagamento e afins.
Já havia um temor de que os computadores iriam tomar o lugar das pessoas e percebia-se muita resistência das equipes em participar dessa automação. Empolgado com o que fazia não compartilhava deste medo, pois ficava claro que algumas funções não eram dignas de serem executadas por seres humanos. Nasceriam outras funções menos repetitivas e monótonas que nos faziam lembrar Chaplin em Tempos Modernos.
No começo dos anos 1980 participei da implantação da automação bancária no país e vi aquele trabalho desumano dos caixas conferirem assinaturas em fichas perdidas em enormes armários e atualizarem saldos de contas correntes a mão em listões de formulário contínuo serem substituídos por terminais inteligentes que acessavam os computadores e tinham o saldo das contas atualizado instantaneamente. E o que falar dos ATMs, os caixas automáticos que faziam depósitos, saques e consultas sem interferência humana?
Não por acaso nestes anos os sindicatos mais fortes do país eram dos metalúrgicos e o dos bancários com milhões de filiados. As montadoras tiveram robôs nas linhas de produção e os bancos com a automação reduziram drasticamente seu quadro de pessoal, ainda mais hoje com os serviços financeiros no celular e bancos totalmente on line. Apesar dessa drástica redução de força de trabalho nos exemplos citados o desemprego estrutural não avançou.
Outro dado relevante é que o setor de serviços vem aumentando consideravelmente sua participação no PIB, o que atesta a transferência da massa de trabalho para outras áreas como educação, saúde, turismo, entretenimento e cultura.
Enfim, todo o processo de automação que participei nos últimos 45 anos foram no sentido de substituir tarefas mecanizadas e repetitivas e não significaram o fim do trabalho. Agora desponta uma nova era e não podemos afirmar que dirigir uma empresa seja um trabalho repetitivo. Isso me assusta e ainda estou digerindo para melhor degustar e até participar.
Afinal, há quase 100 anos Aldous Huxley cunhava o título de sua obra maior com uma pitada de ironia e estranhamento: Admirável Mundo Novo.
Voltaremos a esse tema quando passar o susto.
Celso Eluan
16/03/23