Um simples trocadilho revela mais da nossa alma do que gostaríamos. Trocamos o QI (quociente de inteligência) pelo malfadado “Quem Indica”, subterfúgio corriqueiro nas relações com o Estado, escancarando nossa opção pelas relações interpessoais em detrimento dos méritos próprios. Não que o network seja pecado ou irrelevante, muito pelo contrário, vivemos em sociedade e os relacionamentos são fundamentais para nosso desenvolvimento pessoal, emocional , social e profissional. O problema está em fazermos piada de algo que está na raiz de vários problemas da nossa nação.
O QI pode não ser uma medida confiável, não é unanimidade no meio científico e já se provou que temos várias tons de inteligência (e não de cinzas) que não são medidos pelos testes convencionais. Um Best Seller recente trouxe a noção de Inteligência Emocional, tão importante quanto a convencional. Por outro lado também não pode ser desprezado, muito menos reduzido a piada, dando a entender que o importante não é o mérito e sim a rede de contatos, de preferência na esfera pública.
Um simples passear pelo Google revela dados curiosos. Os países com maior média de QI também estão entre os mais desenvolvidos. Mais importante ainda: estes mesmos países que lideram o ranking são também os campeões de educação, ocupando as primeiras posições nos testes do PISA. A correlação é imediata e não precisa de elevado QI para concluir que populações com QI mais elevados também são mais desenvolvidas e gozam de melhores condições de vida e saúde, pois também são as que apresentam maior longevidade.
Isso não significa dizer que o QI é imutável como a cor dos olhos. Sabe-se com clareza que o QI de uma pessoa pode ser desenvolvido e o desenvolvimento da soma dos habitantes de um país também eleva o QI médio de uma nação, fato também comprovado em pesquisas disponíveis no Google que refletem o avanço médio do QI da população mundial nos últimos 30 anos. E a única forma de elevar o QI é através da educação e isso não é nenhuma conclusão genial.
O problema pode estar em entender o que é a boa educação, capaz de elevar QI e não simplesmente acumular informação. Desde os remotos tempos a humanidade sonha em acumular informações e repassá-las às gerações seguintes, desde a biblioteca de Alexandria com seus papiros, passando pela invenção da prensa por Gutemberg o que multiplicou a capacidade de divulgação do conhecimento até que chegamos à internet onde parece que já temos tudo que a humanidade conhece armazenado em bits.
Diante desse volume de informações armazenadas não parece mais fazer sentido usar o método de professores repassando informações para um grupo maior de alunos, prática desenvolvida na Revolução Industrial, há mais de 250 anos. O que se torna relevante é sabermos o que fazer com as informações e não acumulá-las de modo enciclopédico como querem os formuladores das provas do Enem e outros vestibulares.
Os países que estão na frente da educação como Finlândia, Coréia do Sul e China já estão alguns passos adiante. Diminui-se a quantidade de matérias e conteúdos para priorizar o uso do conhecimento para solução de problemas. Por exemplo, cuidar de uma horta pode oferecer informações básicas de biologia, física e química, além de trabalho em grupo (muito apreciado pelas empresas) e ter um resultado mais relevante, pois o conhecimento colocado em prática é capaz de obter melhor retenção.
Então, enquanto o mundo avança sistematicamente em busca de uma melhor educação e desenvolvimento do QI médio do seu povo, estamos fazendo piada menosprezando o conhecimento e o mérito e isso não necessariamente está ligado ao Quem Indica, mas certamente ao Que Indica, que é o fosso que nos separa de um mundo mais desenvolvido.