In Vino Veritas

Celso Eluan comenta os efeitos da globalização para a entrada de vinhos de melhor qualidade no Brasil.

05/01/2022 16:17 / Por: Celso Eluan - empresário
In Vino Veritas

Numa roda de amigos veio uma questão à mesa: o que é um bom vinho? Vale ressaltar que não havia nenhum enólogo de plantão, todos meros apreciadores e com pouca quilometragem no assunto.  Fiquei ouvindo os comentários e tentando fazer o meu próprio juízo. 

Divaguei imaginando que há pouco mais de 30 anos essa discussão nem existiria. No Brasil de porteiras fechadas para o mundo até o final da década de 1980, não havia vinhos importados e a produção local parecia ser um misto de vinagre e suco de uva. Enfim, não tínhamos tradição alguma no assunto. Os primeiros vinhos a chegar depois das quedas das barreiras alfandegárias eram os mais baratos da Europa e lembro claramente de uns vinhos brancos alemães numa garrafa azul que inundaram o mercado na ocasião: Liebfraumilch.

Para quem não tinha referências anteriores era o supra sumo da modernidade e era de bom tom pedir nos restaurantes ou mesmo ter em casa para abrir aos amigos. O mesmo aconteceu com whisky, até então só consumíamos rótulos duvidosos como Drurys, Natu Nobilis e afins (ou se socorrer dos importados em trânsito pelo Paraguai).

E não foi só na bebida. Com a abertura do mercado tivemos acesso a carros, computadores, vídeo cassetes (quem se lembra?), eletrônicos em geral, perfumes, máquinas, equipamentos, roupas, grifes, uma completa invasão de produtos do exterior que até então só tinha acesso quem viajasse pra fora. Foram os anos de inserção do país na globalização que mudaram nossa percepção de qualidade e eficiência.

É isso que nos faz hoje perceber diferenciações de paladar e apresentação dos vinhos, um processo de aculturação, de descoberta de padrões e referências que vai moldando o gosto e a forma de consumir. Remetendo ao Mito da Caverna de Platão, não tem como sabermos ou sentirmos falta do que nunca conhecemos. 

É esse mesmo processo que faz uma sociedade aprofundar conhecimento e também é base da competição em mercados maduros. Primeiro conhecendo o que outros fazem, os processos e o resultado final. Depois adaptando para sua realidade e a partir disso aprofundando o conhecimento e buscando o aperfeiçoamento constante. Apenas como exemplo, ainda no universo vinícola, o Vale do Napa na Califórnia transformou-se num centro de excelência na área para horror dos tradicionais franceses.

Em tecnologia o Japão e depois Coréia do Sul e China, todos destruídos por guerras, começaram copiando bugigangas ocidentais e hoje constituem o principal polo produtor do mundo. Um processo de absorção cultural, aperfeiçoamento e superação que tem paralelo também nos esportes. Só para provocar, os ingleses inventaram o futebol que se espalhou pelo mundo e há muito eles foram superados por outras potências, inclusive o Brasil, onde o caldo cultural favoreceu o desenvolvimento do esporte por toda a população.

Portanto, vamos aprender com quem entende e procurar fazer melhor. Inclusive beber. Saúde!

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